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À procura de pilotos de caça

Instrutor Beat Hedinger (à dir.) com alunos e participantes (Fabian Meyerhans é o segundo a partir da esq.) swissinfo.ch

Enquanto uns brigam na Suíça pelos custos e poluição sonora provocados pelos caças de combate, outros sonham em se tornar pilotos militares. swissinfo visita o aeroporto de Berna, onde jovens talentos aéreos são recrutados.

“Como um esquiador fora de pista sobre a neve ainda fofa, você coloca a primeira linha condensada no céu de azul profundo…Só agora é que você se conscientiza não estar mais em uma simulação computadorizada, nenhum sonho, mas sim realidade, aqui e agora”, escreve o curso de formação para pilotos militares Sphair na revista “Via-Magazin”.

“Você voa de rasante com Super Puma (helicóptero militar) sobre a floreta tropical em Sumatra e o dia coberto pela neblina. Missão: transporte de suprimento vital…”, continua o texto publicitário.

“Poucos minutos depois você pousa e rostos aliviados sorriem. Centenas de braços saúdam (…). Você sabe que não apenas escolheu uma profissão de futuro, mas também uma vida com sentido. Você nunca se arrependerá dessa decisão…”.

Nada de heróis ou machistas

Com apoio do governo federal e sob a coordenação da Força Aérea da Suíça, a Sphair procura jovens talentos do vôo. O centro de formação surgiu em 2004, depois que o Parlamento federal decidiu acabar com os cursos de pré-formação para vôo (FVS, na sigla em alemão). Razão: os custos elevados.

Seria a falta de novas vocações para que a Sphair seja obrigada a fazer propaganda da formação de pilotos de caças militares? “Não é o caso, mesmo se a gente não sabes da demanda futura”, explica Beat Hedinger, um instrutor de 33 anos na Sphair. “Queremos simplesmente o ‘crème de la crème’.”

Concretamente significa: “Não procuramos heróis. Também tipos machistas como em ‘Top Gun’ estão fora de cogitação”. Hedinger lembra que nunca tantas candidaturas foram feitas como na época, em 1986, em que foi lançado o filme sobre pilotos de caça da força aérea dos EUA.

Como piloto, o candidato precisa estar capaz de analisar situações complexas e tomar decisões de uma forma extremamente rápida. Além disso, ele tem de ser bem-dotado do ponto de vista de coordenação motora. Responsabilidade e capacidade de trabalhar em equipe também são quesitos importantes. No passado já ocorreram diferentes acidentes aéreos devido à pouca cooperação. “Agora queremos evitar esse tipo de problema.”

Maior parte fica na aviação civil

A seleção é rigorosa: entre 300 e 500 candidaturas chegam anualmente na Sphair. Dos 100 que conseguem ser selecionados, apenas de seis a dez receberão a formação como piloto de caça militar. Pilotos femininos não existem até agora. “A maioria é reprovada já nos primeiros testes simulados nos computadores”, explica Hedinger.

A maioria dos candidatos à Sphair visa uma carreira na aviação civil. “De fato, ela é o nosso mais importante produto secundário”, acrescenta o instrutor. A companhia aérea Swiss recruta cerca de 10% dos seus pilotos através do centro de formação no aeroporto de Belp.

Aprovado no vôo

Fabian Meyerhans, um jovem de 19 anos, conseguiu passar na segunda fase da seleção, composta por duas semanas de instrução de vôo em Belp. Antes ele já havia feito testes de cálculo de cabeça, compreensão técnica e poder de abstração tridimensional.

“Foi cansativo. É preciso dar duzentos por cento de si, mas valeu a pena”, afirma o estudante secundário enquanto recebe congratulações de outros cinco participantes também à espera de sua entrevista de avaliação em uma sala de curso na barraca, ao lado da pista de pouco e decolagem. Vez ou outra é possível escutar o barulho dos motores dos aviões.

Depois de várias horas de aula de teoria e somente onze lições de 45 minutos cada uma, Fabian Meyerhans já consegue decolar sozinho um avião “Bravo” e pousá-lo também.

Paixão pela velocidade

Por que o sonho de ser piloto de caça? “A aviação civil é um pouco monótona. Como piloto de caça, a pessoa tem de reagir rapidamente. Isso significa ‘speed’, a terceira dimensão, os ‘turns’ e a força gravitacional”, detalha Fabian, vestido com a camisa azul-cinza obrigatória da Sphair, jeans e tênis.

Depois de passar no curso de vôo, ele terá uma formação de oficial das Forças Armadas Suíça e um estudo em nível de bacharel em pilotagem. Antes seus planos eram de estudar ciências agronômicas ou direito.

Como reagem seus colegas à sua decisão de seguir uma carreira militar? “Muitos dos dizem que as forças armadas não prestam para nada, gostariam também de entrar na aviação se tivessem essa possibilidade”, retruca Fabian.

Ele está consciente de que, com sua escolha profissional, precisa estar preparado para situações reais. “A necessidade de derrubar alguém em caso de necessidade pertence à missão de defesa da pátria. Pois senão, sou eu que serei derrubado.”

Nascer do sol

O que fascina em ser piloto de caça? “É como uma montanha-russa e menos uma viagem de ônibus”, compara Hedinger. “Quando você senta no avião, atravessa as nuvens e vê o nascer do sol. Isso corresponde a estar deitado em uma praia cheia de palmeiras nas Maldivas.”

Voar como prazer? “Quando se criticam os pilotos por eles terem prazer em voar, é necessário então criticar aqueles que trabalham com prazer”, conclui

Resistência

A fascinação dos jatos militares não é compartilhada por todas os suíços. A maior crítica é feita aos custos e à poluição sonora provocada pelas aeronaves.

“A necessidade de segurança está acima das necessidades básicas. Por isso é necessário ter caças militares, mesmo se provocam grandes custos ou barulho”, retruca Fabian. “Se as sirenes dos carros do corpo de bombeiros são altas demais e o povo quiser acabar com elas, então esta seria uma decisão política”, diz Hedinger.

A oposição não esmorece: depois que a iniciativa popular “Contra poluição sonora de jatos militares em regiões de turismo”, de fevereiro de 2008 foi recusada, outra foi entregue à Chancelaria para votação posterior: “Contra novos caças militares”, de autorida do Grupo por uma Suíça sem Forças Armadas (GSoA, na sigla em alemão). Coisas da Suíça…

Corinne Buchser, swissinfo.ch

– Nacionalidade suíça
– Idade entre 17 e 20 anos
– Boa saúde
– Bons conhecimentos gerais
– Atestado de bons antecedentes

“A Suíça não está exposta atualmente a nenhuma ameaça militar$”, como explica o site da Força Aérea da Suíça.

Podem durar anos até que uma situação de risco volte a ocorrer.

“Mas como a construção de uma força aérea dura muito tempo, é necessário manter o know-how e, dependendo do caso, até utilizá-lo”.

Funções da Força Aérea: defender o espaço aéreo, transporte aéreo, missões de reconhecimento para instâncias militares e políticas e análise do espaço aéreo.

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