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Ajuda suíça pena a ser empregada

Quatro meses depois, Nova Friburgo ainda guarda marcas da enchente nas casas. Maurício Pinheiro

Mais de 4 meses depois da catástrofe da Região Serrana do estado do Rio, várias regiões das cidades atingidas continuam soterradas.

Em Nova Friburgo, uma mudança na administração da prefeitura, poucos meses antes da tragédia, tem dificultado o emprego da ajuda suíça para o município.

Fribourg ama Nova Friburgo, mas não podemos obrigar o vice-prefeito de Nova Friburgo a amar Fribourg”, declarou o presidente da Associação Fribourg – Nova Friburgo da Suíça, Raphael Fessler, nas colunas do jornal do estado de Fribourg (Friburgo em francês), “La Liberté”, na sexta-feira (27/5).

Raphael Fessler não esconde a situação tensa na relação atual com a antiga colônia suíça no Brasil. Segundo ele, vários projetos de intercâmbio comercial e cultural com a cidade serrana tiveram que ser cancelados por falta de interesse das autoridades brasileiras.

Consultado pela swissinfo.ch, Maurício Pinheiro, diretor da Casa Suíça de Nova Friburgo e um dos coordenadores da ajuda suíça para a cidade, observou que tem sido muito difícil conciliar a ajuda financeira dos suíços com a realização de projetos para a comunidade atingida pela catástrofe.

Investimento a fundo perdido

Para o presidente da fundação da Casa Suíça, Marcel Schuwey, o vice-prefeito de Nova Friburgo Demerval Barbosa Moreira, que deve continuar empossado até as eleições de 2012, estaria interessado principalmente no dinheiro da ajuda dos suíços.

Os coordenadores da ajuda suíça dizem ter uma outra visão da cooperação e do auxílio à população local. “Dar dinheiro para a prefeitura seria um investimento a fundo perdido”, declarou Schuwey ao “La Liberté”, comentando a criação recente, na cidade, de uma comissão encarregada de avaliar e supervisionar os projetos de ajuda.

Segundo Maurício Pinheiro, mais de meio milhão de reais foram arrecadados na coleta de fundos realizada na Suíça. Esse dinheiro será disponibilizado para a realização de projetos concretos que serão rigorosamente controlados. A preocupação dos coordenadores da ajuda é evitar que a verba seja desviada.

Projetos em andamento

Uma das primeiras obras da ajuda suíça foi a reconstrução de uma creche, destruída pelos terríveis deslizamentos de encostas que provocaram verdadeiras mudanças na morfologia de alguns bairros e distritos da cidade.

20 mil francos (40 mil reais) já foram doados a uma fundação que se ocupa de crianças de rua. Maurício Pinheiro explica à swissinfo.ch que uma parte do imóvel onde fica a Casa Suíça, que também abriga uma queijaria-escola, poderia ser aproveitada para acolher um posto de saúde para prestar auxílio às pessoas da região.

Apesar das autoridades federais e estaduais terem reagido rápido à tragédia na Região Serrana do estado do Rio, muitas localidades de Nova Friburgo continuam em péssimo estado e várias infraestruturas, como os hospitais, só estão funcionando parcialmente. “Depois que o auxílio das forças armadas deixou a região, as pessoas estão se sentindo muito desamparadas com a falta de cuidados básicos. A ajuda dos suíços é essencial nessa hora”, disse o diretor da Casa Suíça.

Contra partida fundamental

Para serem totalmente efetivados, os projetos de reconstrução, auxílio e intercâmbio do estado de Friburgo, na Suíça, com sua “prima” brasileira estão dependendo do engajamento das autoridades brasileiras.

Maurício Pinheiro diz que “não adianta nada aparelhar um posto de saúde se a prefeitura não garante a presença de médicos e enfermeiros no local”.

Entre os projetos cancelados por falta de apoio da prefeitura de Nova Friburgo, a participação da cidade brasileira como convidada de honra da “Foire de Fribourg 2011”, uma feira de negócios do estado suíço, que serviria de vitrine para a indústria têxtil (moda íntima) e o turismo de Nova Friburgo.

Os suíços ainda guardam um gosto amargo da indiferença brasileira com suas origens suíças. Os laços entre Fribourg e Nova Friburgo foram quase desatados durante os oito anos de governo da ex-prefeita Saudade Braga. Seu sucessor, Heródoto Bento de Melo (86 anos), sofreu um tombo na Suíça durante uma visita para tentar reativar o intercâmbio com o país e foi substituído pelo vice-prefeito Barbosa Moreira.

O acidente do prefeito de Nova Friburgo Heródoto Bento de Mello, vítima de um tombo na estação de Lausanne (oeste), em setembro de 2010, deu um golpe duro no relacionamento entre os dois “burgos livres” (Freiburg, em alemão), da Suíça e do Brasil.

Prefeito mais idoso do Brasil (86 anos), Heródoto até agora não conseguiu se recuperar realmente do infeliz incidente.

O vice-prefeito, Demerval Barbosa Moreira, não tem demonstrado grande interesse pelo intercâmbio das duas regiões, tendo demitido vários secretários municipais engajados na promoção de Nova Friburgo na Suíça.

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