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Zurique inaugura o primeiro “drive-in do sexo” na Suíça

As instalações de Zurique foram feitas para acolher carros. Keystone

A metrópole econômica suíça quer banir a prostituição de rua no centro. Na segunda-feira passada foi inaugurado um parque reservado ao sexo pago inspirado em um modelo bem-sucedido na Alemanha.

Em Zurique existem as “meninas do Limmatquai”, a canção na qual o compositor helvético Stefan Eicher adverte que é necessário “olhar, mas sem tocar”, e as meninas do Sihlquai, onde alguns não se limitam apenas a olhar. É exatamente esse local, não muito distante das ruas chiques da cidade, que as prostitutas esperam seus clientes, em grande parte motorizada.

A imagem provocada pelas damas quase nuas, por vezes triste, sempre sensacionalista, choca as pessoas. Para os habitantes do bairro, a situação se torna muitas vezes intolerável: lixo e poluição fazem parte, em doses menores ou menores, do seu cotidiano. Mas para quem exerce essa profissão, o quadro não é muito melhor. Muitos casos de tráfico humano, prostituição forçada e graves abusos são documentados regularmente.

A estratégia das autoridades locais para controlar a situação está prestes a ser aplicada, pois a medida mais espetacular, aceita através de um plebiscito de março de 2012 por mais de 53% dos votantes, será concretizada na segunda-feira: o governo abre, na periferia oeste da cidade, uma zona reservada exclusivamente às prostitutas e aos seus clientes. Esse “drive-in” – como é chamado pelo fato de ser voltado aos clientes motorizados – é algo inédito na Suíça. No local, os clientes dispõem de nove garagens ou “boxes do sexo”. No total, entre 40 e 60 prostitutas poderão trabalhar diariamente no local.

Zurique se inspirou fortemente no exemplo dado por Colônia. Confrontado ao mesmo problema – poluição sonora, violência, protestos por parte da população – a metrópole ao norte da Alemanha (um milhão de habitantes) abriu um espaço reservado à prostituição em 2001. O local, denominado “Geestemünder Strasse”, do nome da rua que atravessa o local, encontra-se 14 quilômetros distante do centro, em uma área industrial.

Colônia também foi uma das pioneiras na Alemanha, mas se inspirava por sua parte em exemplos da Holanda, sobretudo Utrecht. Essen (Alemanha) seguiu. Outras cidades, por outro lado – Dortmund, Amsterdam e Rotterdam – não foram bem-sucedidas e acabaram fechando as instalações. “O controle é primordial”, explica Michael Herzig, chefe do projeto em Zurique, que esteve por várias ocasiões em Colônia. “Se as responsabilidades não estão claras e o controle é insuficiente, meliantes ocupam o espaço rapidamente”, ressalta.

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Segurança não é absoluta

“Nós podemos controlar muitas coisas, mas nem tudo”, relativiza Sabine Reichert, do Serviço social de mulheres católicas (SkF, na sigla em alemão) em Colônia, organização que se ocupa há muitos anos de programas de ajuda aos desfavorecidos. “Nós precisamos explicar às mulheres que vêm trabalhar aqui – de todas as camadas sociais, mas em grande parte das mais baixas – que sua segurança não é absoluta nos boxes.”

Quanto ao trabalho dos assistentes sociais, ele também deve se adaptar. “Inúmeras mulheres bebem ou se drogam para suportar esse trabalho”, explica Sabine Reichert. “Algumas têm psicoses. Porém outras parecem ter uma vida comum e vão buscar seus filhos na escola no final da manhã…Se algumas prostitutas precisam ter um espaço fechado, outras preferem a liberdade da Geestemünder Strasse: eles não devem pagar aluguel e nem se submeter às condições de um dono de bordel. E isso também vale para os clientes. Alguns necessitam de um certo local, outros não.”

Colaboração interdisciplinar

Para Sabine Reichert, mais do que o controle, é a colaboração entre os diferentes intervenientes – da repressão às estruturas de apoio, passando pelos serviços médicos – que garante o sucesso. Desse ponto de vista, Zurique, que havia realizado esse trabalho interdisciplinar para fechar os espaços de consumo de drogas, a experiência do pragmatismo que indiferente para as diferentes partes.

A assistente social de Colônia insiste também na necessidade de não perder o objetivo de vista. “É necessário intervir se um traficante isolado entra ao se fazer passar por um cliente? Você não pode coibir tudo. Sempre haverá a droga. Por outro lado, se um grupo de traficantes se instala no local, nós não podemos aceitar a situação e devemos chamar a polícia o mais rápido possível.”

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Lonas com furos

Exceto os horários de abertura (12h00 – 2h00 em Colônia, 19h00 – 5h00 em Zurique), o novo “drive-in” suíço funcionará próximo ao modelo alemão. Nos dois casos, a estrada faz um circuito próximo aos abrigos, onde as mulheres esperam seus clientes.

Em Colônia, se não fossem os toldos esburacados e remendados mostrando as tentativas de curiosos de ver o que se passa no interior do parque, a impressão seria de se estar em uma floresta “comum”. Os “boxes do sexo” estão instalados em um antigo celeiro. “Devido aos roubos frequentes, acabamos não substituindo de forma sistemática o material”, suspira Sabine Reichert.

Em Zurique tudo ainda é novo. Mesmo as lixeiras, bastante numerosas, ainda reluzem. As “garagens” onde estacionarão os veículos são iluminadas por lâmpadas coloridas de néon. A vegetação ainda deve crescer. “Se dizem que sou perfeccionista por tentar de criar um ambiente de trabalho para as prostitutas que não seja completamente degradante, eu sou então um perfeccionista”, reforça Michael Herzig.

Enfim, a pedra angular das duas estruturas: os assistentes sociais, presentes diariamente. Em Zurique, Ursula Kocher e o grupo de ajuda e assessoria Flora Dora, ligado ao governo municipal, mantém salas nos contêineres reordenados. As prostitutas podem trocar de roupas no local, tomar banho, descansar e também ser aconselhadas. Uma pequena cozinha foi colocada também à disposição. O grupo Flora Dora oferece também cursos de autodefesa às mulheres, incluindo também técnicas para serem utilizadas nos veículos. Uma consulta médica a cada semana será possível.

Utilização?

Ursula Kocher acredita no sucesso do projeto em Zurique. “A maioria das prostitutas irá utilizar o local”, prevê. “Estamos falando com ela há bastante tempo. Elas não querem ter problemas com a lei. Aqui elas terão bastantes vantagens”, afirma. Colônia teve sucesso nessa “transferência”, mesmo se a distância entre o antigo e o novo local de trabalho é muito maior do que em Zurique. No início, algumas das mulheres reclamaram da distância.

A cidade de Zurique tentou pensar em todos os detalhes. Um grupo de acompanhamento permitirá os habitantes da região de comunicar possíveis reclamações. A área será indicada por uma placa no qual se vê um guarda-chuva vermelho, pictograma já conhecido na Europa do leste para indicar os locais de prostituição. Enfim, a população poderá visitar o local em 24 de agosto, “pois não queremos esconder nada”, diz Martin Waser, chefe do Depto. de Assistência Social. “As pessoas têm direito de saber como são esses locais.”

A grande questão é a da utilização, ou não, do novo local por parte dos clientes das prostitutas. Em Colônia houve um acompanhamento. Mas para que restringir o acesso ao grupo dos condutores de veículos? “Eles são novo primeiro grupo-alvo, pois queremos que a região próxima ao Sihlquai fique livre da prostituição. Os clientes não motorizados podem ir aos bordéis ou boates especializadas”, considera Michael Herzig.

No país a prostituição é considerada legal e está submetida à imposição de impostos, como qualquer outra atividade econômica.

Porém os cantões (estados) na Suíça têm diferentes regras. Em Zurique, por exemplo, a abertura de um “parque” para a prostituição é apenas um elemento na estratégia global da cidade para combater a prostituição ilegal. Outras são:

– O número de ruas nas quais a prostituição está autorizada foi drasticamente reduzido.

– Desde julho de 2012, as autoridades podem multar os clientes de prostitutas nos locais onde a atividade é proibida.

– A partir de 1° de janeiro de 2013, uma autorização é obrigatória para praticar a prostituição nas ruas ou em um parque reservado para esses fins. Condições: a pessoa deve ser maior de idade e ter um atestado de saúde. Uma taxa diária de cinco francos deve ser paga em um automático. Em contrapartida, as prostitutas têm acesso à saúde e dispõem de um ambiente mais seguro.

– Autorização obrigatória para os salões de hoje a partir de janeiro de 2014.

– (Criação de uma comissão de 15 pessoas (administração municipal e cantonal, ONGs, bordéis e associações de bairro) encarregada de aconselhar o governo nessas questões).

Estima-se que uma centena de prostitutas trabalhem nas ruas de Zurique, das 1.200 registradas oficialmente.

Adaptação: Alexander Thoele

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