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Justiça alemã rejeita queixa contra o Cern

Imagem de uma colisão de prótons no LHC, com o qual o Cern quer descobrir segredos do universo, como a matéria escura (6/12/09). AP Photo/CERN

O Tribunal Constitucional Federal alemão rejeitou a queixa-crime de uma alemã residente em Zurique que teme que a Terra possa desaparecer num buraco negro produzido pelo Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern), em Genebra.

Segundo a decisão publicada na terça-feira (9/3), a mulher não conseguiu provar de forma consistente por que o Planeta estaria ameaçado. Enquanto isso, o diretor do Cern espera abrir este ano “uma porta para a nova Física”.

Antes mesmo da inauguração Grande Colisor de Hádrons (LHC), em 10 de setembro de 2008, o pesquisador do caos Otto Rössler, da Alemanha, já advertia que os experimentos físicos do Cern poderiam produzir buracos negros que “engoliriam” a Terra.

Um grupo de pesquisadores liderado por Rössler apresentou queixa à Corte Europeia de Direitos Humanos, em Estrasburgo (França), argumentando que o risco de destruir a Terra era tão grande que o projeto deveria ser interrompido. Em nome dos pesquisadores, três pessoas – uma da Suíça, uma da Alemanha e uma da Áustria – assinaram a queixa. A alemã também recorreu à Justiça de seu país.

Em sua decisão, o Tribunal Constitucional Federal alemão não faz objeções a decisões do Superior Tribunal Administrativo da Renânia do Norte-Westfália, onde a alemã residente em Zurique tentou, sem sucesso, através de um pedido urgente, forçar o governo em Berlim a impedir os experimentos do Cern.

Queixa infundada

Na mira da queixa está o LHC. No túnel circular de 27 quilômetros localizado na fronteira da Suíça com a França, a cerca de 100 metros de profundidade, os cientistas realizam colisões de partículas para pesquisar a origem do universo.

Críticos do LHC temem que esses experimentos possam produzir pequeníssimos buracos negros. Na opinião dos juízes alemães, a acusadora alemã não explicou de forma convincente por que estes testes violariam seus direitos fundamentais. Além disso, faltou uma fundamentação consistente sobre por que o dano temido por ela realmente há de acontecer.

Físico diz que discussão é “absurda”

Segundo o tribunal, a dimensão do suposto dano – neste caso a destruição da Terra – não permite renunciar a uma fundamentação regular da queixa. “Não basta basear advertências em uma desconfiança geral em relação às leis da Física, ou seja, em relação a afirmações teóricas das modernas Ciências Naturais”, argumentaram os juízes.

Físicos descartam a possibilidade de que o LHC produza buracos negros e, com isso, “engula” a Terra. “Toda essa discussão é completamente ridícula e absurda”, disse o Prêmio Nobel de Física norte-americano David Gross, segundo a agência de notícias alemã DPA.

Segundo Gross, se os temores fossem fundados, a catástrofe já teria acontecido há muito tempo. “A Terra e a Lua continuam existindo, apesar ocorrerem colisões de partículas cósmicas que são muitos mais potentes” (do que as colisões no Cern).

“Abrir uma porta para a nova Física”

O diretor do Cern, Rolf-Dieter Heuer, disse na segunda-feira (8/3), em Genebra, que espera ainda para este ano a primeira grande descoberta científica com a ajuda do maior acelerador de partículas do mundo.

Segundo ele, os experimentos do LHC poderão revelar a natureza da assim chamada matéria escura, um fenômeno difícil de pesquisar e ainda não comprovado. Heuer anunciou que no final de março o LHC irá estabelecer um recorde mundial ao operar com energia de 7 tera eletrovolts (TeV).

Após uma pausa de dois meses e meio, o LHC voltou a funcionar no último domingo. “No final do ano iremos abrir uma porta para a nova Física”, disse Heuer, referindo-se à pesquisa da matéria escura.

“Demorou décadas para entendermos o universo visível, que é descrito pelo assim chamado modelo padrão. Mas o problema é que apenas 5% do universo são visíveis”, explicou o diretor do Cern.

Um outro foco das pesquisas é a chamada energia escura de que seriam constituídos 70% do universo. Físicos supõem que ela tenha a ver com o vácuo, distribuído de forma igual entre tempo e espaço. Supõe-se que a energia escura seja responsável pela expansão do universo.

Em 2012, o LHC fará uma nova pausa e será equipado para operar com 14 TeV. No ano seguinte, os cientistas pretendem finalmente atacar seu objetivo de longo prazo: comprovar a existência da assim chamada partícula de Higgs. Sua existência é prevista no modelo padrão da Física Elementar.

“A partícula de Higgs não é fácil de ser encontrada”, admitiu Heuer. “Sabemos tudo sobre ela, menos que ela existe”, disse o diretor do Cern, segundo informou a agência de notícias DDP.

Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch (com agências)

O LHC (Large Hadron Collider) é um túnel de 27 km de comprimento, situado a 100 m de profundidade, na fronteira da Suíça com a França.

Os cabos utilizados no LHC totalizam uma distância equivalente a 10 vezes a distância entre a Terra e o Sol.

No LHC, os prótons giram a mais de 99% da velocidade da luz. Esses prótons são extraídos do hidrogênio. Mesmo com essas velocidades, a máquina levaria um milhão de anos para “queimar” um grama de hidrogênio.

A colisão prevista na “máquina do Big Bang” gera temperaturas que podem chegar a bilhões de graus. Em uma fração de segundos, um ponto minúsculo pode ser mais quente do que uma galáxia.

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