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“A Suíça não é uma colônia da União Europeia”

Christoph Mörgeli na tribuna da Câmara dos Deputados do Parlamento suíço. Keystone

A reação de Bruxelas após a decisão dos suíços de limitar a imigração deixa Christoph Mörgeli indiferente. Para o deputado federal do Partido do Povo Suíço, a legenda por trás dessa decisão, essa situação "empurra a eventual adesão da Suíça à União Europeia para um horizonte cada vez mais distante".

Com a vitória da chamada iniciativa popular contra a imigração de massa, o Partido do Povo Suíço (SVP, na sigla em alemão) desencadeou uma tempestade política na Suíça. Mas Christoph Mörgeli, um dos principais cérebros do partido, nos explica alguns motivos para não se preocupar com a questão.

swissinfo.ch: As reações de Bruxelas foram mais rápidas e claras do que o esperado. As negociações sobre novos acordos relativos ao mercado da eletricidade, os mercados financeiros e as questões institucionais foram bloqueadas. Fala-se também de uma suspensão da participação da Suíça nos programas de pesquisa Horizon 2020 e Erasmus +. Isso preocupa o senhor?

Christoph Mörgeli: Não, porque a União Europeia está mostrando agora sua verdadeira face. Esta é uma oportunidade para a Suíça. Uma adesão do nosso país à UE foi agora adiada para um horizonte ainda mais distante, porque esse tipo de comportamento por parte da UE não agrada em nada aos nossos concidadãos. A Suíça, definitivamente, não é uma colônia da União Europeia, mas atualmente é assim que ela vem sendo tratada.

Christoph Mörgeli

A União Europeia está mostrando agora sua verdadeira face.

swissinfo.ch: Segundo o senhor e Christoph Blocher (um dos líderes do SVP), a Suíça deve ser firme em Bruxelas e agir de acordo com o lema do “tudo ou nada”, ou seja, negociar tudo ou nada, usando como alavanca o acordo sobre a tributação da poupança. Mas, até mesmo o Secretário de Estado da Suíça, Jacques de Watteville, julga esta estratégia ilusória, já que a troca automática de informações deve se tornar em breve um padrão da OCDE.

C.M.: A Suíça é um Estado soberano. Isto parece ter escapado à UE e até mesmo ao nosso governo e à nossa administração. Como provavelmente a maioria das pessoas da administração, o embaixador Watteville é favorável à adesão à UE. O governo, especialmente (a ministra da Fazenda) Eveline Widmer-Schlumpf, apoia a troca automática de informações bancárias.

Mas vamos nos opor massivamente a isto com a iniciativa popular “para a proteção da esfera privada”. Queremos preservar o sigilo bancário, pelo menos na Suíça.

swissinfo.ch: O senhor acha que algumas dificuldades políticas internas ameaçam a Suíça? Os partidos do centro são a favor de acalmar o jogo com relação à UE.

C.M.: Isso é bastante razoável, não se deve perder a calma agora. Mas seria imprudente aceitar simplesmente a atitude aproveitadora da UE. Ela diz: “Aqui negociamos, aqui não”. Mas são sempre pacotes. Aliás, é a mesma posição que a UE defendia antes. É por isso que não podemos simplesmente dizer: ‘aqui os interesses da UE estão em jogo, por isso vamos ceder’. Esta não é a maneira de negociar.

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swissinfo.ch: O governo quer introduzir uma nova legislação este ano para implementar a iniciativa. O senhor está satisfeito com esta ação rápida do governo?

C.M.: Nós estaremos satisfeitos se o governo estiver agindo corretamente. O interesse da Suíça é poder controlar novamente a imigração no país de forma independente. Além disso, o Liechtenstein, embora faça parte do Espaço Econômico Europeu (EEE), também conseguiu definir cotas. O que ela permite a um membro do EEE, a União Europeia deveria, a fortiori, também permitir a um Estado não-membro.

swissinfo.ch: Como o SVP percebe sua responsabilidade depois de ganhar a votação do dia 9 de fevereiro?

C.M.: Não é mais o caso do SVP implementar o novo artigo constitucional aceito pelo povo. A maioria do povo e dos cantões deu um mandato claro ao governo para fazê-lo. Com o “sim” dos cidadãos, não é só o SVP que tem esta responsabilidade, mas todo o povo que, por sorte, a leva a sério.

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swissinfo.ch: Quais são as consequências a médio prazo desta vitória nas urnas? Uma volta de Christoph Blocher ao governo em 2015?

C.M.: Para ele, é um retorno incrível. Ele conseguiu colocar um novo marco na política europeia da Suíça, vinte anos após a vitória contra a adesão ao EEE. Esta é uma decisão extremamente importante, porque, pela primeira vez em anos, o povo suíço reitera: “Somos um Estado soberano, não somos membro da UE e do seu mercado interno e nem pretendemos nos tornar”.

Não é bom ser discriminado, mas a Suíça nunca deve entrar em uma estrutura que discrimina assim os outros. Só vale a pena viver no mundo se os pequenos países também podem respirar. Isso explica porquê Christoph Blocher é a pessoa certa para o Conselho Federal.

swissinfo.ch: Para voltar para esse mercado interno, as empresas suíças devem provavelmente renegociar as condições de exportação com cada país da UE, se Bruxelas denunciar os acordos Bilaterais I. Haveria um aumento na burocracia que o seu partido é sempre o primeiro a denunciar.

C.M.: As organizações econômicas nem sequer notaram ainda que elas são as grandes ganhadoras do dia 9 de fevereiro. Na verdade, com esta votação, as “medidas de acompanhamento” caem. Elas foram obtidas através de uma extorsão da esquerda e dos sindicatos. A economia havia aceitado tudo e teria continuado a fazê-lo.

Agora tudo está em cima da mesa: os verdadeiros obstáculos burocráticos e os custos que os controles relacionados a essas medidas de acompanhamento causavam para as empresas. Na comparação, qualquer outro sistema é mais leve.

swissinfo.ch: Mas se as medidas de acompanhamento cair, os eleitores do seu partido também são susceptíveis de enfrentar uma mão de obra estrangeira que será limitada por cotas e que poderia trabalhar por salários baixos.

C.M.: Não, porque a política não vai autorizar essas cotas baratas. O objetivo das cotas é garantir a qualidade. A Filarmônica de Berlim também não aceita músicos de uma bandinha qualquer. Temos que garantir que todos que vêm também criem riqueza. Esta é uma política de interesse razoável para cada Estado.

Adaptação: Fernando Hirschy

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