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O artista das múmias e monstros

O artista vivia em uma casa cercada por suas obras. Rodrigo Carrizo Couto

O trabalho de HR Giger, artista suíço premiado com um Oscar, pode ser visto em filmes como "Alien". Reconhecido no meio artístico, agora ele ganha espaços nobres nos museus e galerias de arte.

swissinfo encontra o artista na sua casa em Zurique e descobre que ele é muito mais simpático e divertido do que transparecem as imagens fantasmagóricas das suas criações.

Corpos humanos deformados como monstros e com cabeças superdimensionadas, embriões tecnóides em cavernas de ossos ou paredes de lágrimas em queda sem fim e cruzadas por escadarias estreitas: esse é o reino de terror de HR Giger exposta nas salas do Museu de Arte de Chur, capital do cantão dos Grisões, ao leste da Suíça.

Mais simpático é o jardim do artista suíço atrás da pequena casa geminada no bairro de Oerlikon, em Zurique. À luz do dia, cobertos pela sombra das árvores, os monstros ao lado dos arbustos ou do matagal até parecem animais domésticos, se bem que um pouco estranhos.

“Está tudo se degradando aos poucos”, diz o mestre de forma lapidar e aponta para uma grande fonte de água com figuras de braços e pernas de metal, uma obra desenhada por ele próprio. “Ela tem um furo, mas eu não sei aonde”.

Sucesso problemático

Sobre si, ele tem uma opinião mais do que sóbria. Mesmo tendo conquistado um Oscar pelo cenário e figuras utilizadas no filme de ficção científica “Alien”, do diretor americano Ridley Scott, ele nem consegue se considerar uma personalidade. “O que significa ser famoso? As pessoas me conhecer no cantão dos Grisões. Para mim isso já é tudo”, declara ele quase constrangido.

De fato, o sucesso obtido em Hollywood não trouxe apenas bons frutos. A primeira má experiência foi ter sido descartado do mundo da arte. “HR Giger não foi convidado mais para expor nos museus e também ninguém mais comprava suas obras”, esclarece Beat Stutzer, diretor do Museu de Arte de Chur.

Porém a sua popularidade entre os tatuadores, designers, esotéricos e amantes de filmes de terror só aumentou. O fenômeno terminou prejudicando sua carreira como artista.

“Assim Giger acabou se limitando a conceber móveis, objetos de decoração, capas de discos e outros projetos para o cinema”, completa Stutzer. O ápice artístico, a intensidade e a força de expressão das suas antigas obras acabaram nunca mais se repetindo.

A múmia egípcia no porão

Assim o Museu de Arte de Chur decidiu realizar uma exposição dos trabalhos de Giger produzidos entre 1961 e 1976. “Nessas obras ele alcançou tudo do ponto de vista estilístico e iconográfico, o que lhe deu uma base para ele continuar trabalhando”, avalia Stutzer.

Um sonho de criança do artista suíço, considerado por muitos como um mestre do “realismo fantástico”, terminou sendo concretizado pelos organizadores: eles incluíram uma múmia egípcia, que Giger sempre admirava quando era criança no Museu Histórico dos Grisões, na exposição.

Agora ela está no primeiro salão, logo ao lado da obra “Passagens do Templo”. A entrada estreita deste, em forma de um sarcófago, dá a impressão de ser uma caverna entre a vida e a morte.

“Quando eu tinha oito anos, eu ia quase todas as manhãs de domingo no porão do Museu Histórico de Chur para ver essa múmia egípcia”, lembra-se Giger. Essa rotina repetia-se muitas vezes, como se o jovem estivesse possuído.

Essa experiência marcou o artista para sempre. “Minha obra não existiria sem a inspiração da arte egípcia, com o seu culto à morte”, esclarece Giger.

Passagens estreitas e câmaras mortuárias

Já como criança ele gostava muito de desenhar. “Trens sempre me inspiraram, além de castelos, ruínas, esquiadores, índios, fadas e, sobretudo, belas mulheres”, lembra o artista, que é formado em desenho industrial e arquitetura de interior.

As criações monstruosas de Giger, onde pessoas (em grande parte mulheres) e máquinas se fundem, como na obra em que a coluna vertebral se transmuta em tubo de respiração entrando pela boca, podem lembrar até pesadelos. Giger não concorda com essa impressão. “Não, minhas figuras e formas são produtos da fantasia. Eu não sei o que estou fazendo”.

Mesmo assim, ele concorda que sua obra pode refletir medos, obsessões e talvez até um sentimento de claustrofobia. “Quando eu tinha pesadelos, eu via muitas vezes passagens estreitas incômodas. Era horrível! Eu achava que tinha de me arrastar por entre placas de mármore estreitas”, conta.

Na realidade, o suíço teve apenas uma experiência comparável. Foi no Egito, quando ele entrou na pirâmide de Quéops, atravessou diversas passagens estreitas e sentiu, de repente, claustrofobia. “Eu nunca mais vou voltar nesse lugar”, garante o criador dos monstros, olhando para elas com um sentimento de carinho, quase paterno.

A exposição mostra trabalhos de HR Giger realizados entre 1961 e 1976, antes de se tornar conhecido pelos cenário de “Alien”.
Ela pode ser vista até 9 de setembro de 2007 no Museu de Arte de Chur.
O Museu HR Giger, localizado no castelo de St. Germain no vilarejo de Gruyère expõe durante todo o ano quadros, esculturas e desenhos, além de outros objetos utilizados em filmes e móveis.

HR Giger nasceu em Chur, capital do cantão dos Grisões (oeste da Suíça) em 1940.

Depois de concluir um curso profissionalizante de desenho arquitetônico, ele se mudou em 1962 para Zurique, onde estudou durante cinco anos arquitetura interior e desenho industrial.

A partir de 1975 ele trabalhou em diversos projetos cinematográficos de filmes de ficção cientifica em Hollywood.

Em 1978 o suíço recebeu o Oscar pelos cenários empregados no filme “Alien”, do diretor Ridley Scott.

Em 1984, HR Giger foi homenageado com uma retrospectiva do seu trabalho no Centro Cultural de Seedamm, em Pfäffikon, na Suíça.

Nos anos posteriores outras retrospectivas foram realizadas em Paris, Praga e Viena.

Atualmente, HR Giger deve exibir seu trabalho em Valência (Espanha) e Frankfurt (Alemanha). Além disso, o artista participa de uma exposição sobre o design suíço.

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