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Nova Friburgo recebe com festa “irmãos” suíços

Emoções

No primeiro dia do encontro entre friburguenses e cidadãos de Nova Friburgo, 323 suíços apresentam-se com seus grupos folclóricos e musicais na principal rua da cidade juntamente com grupos brasileiros.

Escolares brasileiros participam do desfile de suíços em Nova Friburgo. swissinfo.ch

Milhares de pessoas aplaudiram com alegria o cortejo. Nos discursos oficiais, políticos dos dois países lembram o passado comum sob o lema “dois povos, um só coração”.

Nicolan Papaux e sua família chamavam atenção das crianças das escolas públicas quando chegaram às nove da manhã na Praça Dermeval Barbosa Moreira, no centro de Nova Friburgo. Vestidos com roupas folclóricas, todos queriam tirar fotos ao lado dos “verdadeiros” suíços. O filho mais novo, Lucien, oito anos, não escondia o riso enquanto segurava um cartaz explicando que era a porta estandarte da Sociedade de Musica de Treyvaux, uma pequena comuna ao sul da capital do cantão de Friburgo.

“Essa é a nossa primeira viagem na América do Sul. Nossa motivação é descobrir um novo país, novas culturas e as pessoas. E se os habitantes dessa cidade são descendentes dos nossos ancestrais, então estamos felizes de ter escolhido Nova Friburgo”, justifica Nicolan a decisão de participar da viagem.

Ao lado, sua esposa Nicola concordava. Para ela, um dos aspectos mais interessantes foi o acolhimento por parte da população friburguenses. “Fomos muito bem recebidos por uma família da região, que nos fez descobrir as montanhas. Elas muito parecidas com as nossas”, conta, mas lembrando que houve surpresas. “Enquanto temos pinheiros, aqui as árvores são completamente diferentes. Mas a geléia de morango que nossos anfitriões nos deram, tem o mesmo gosto.”

Poucos minutos depois chegaram para a concentração na praça os outros suíços, em grande parte membros dos grupos musicais como Brass Band de Treyvaux, Guggenmusik Les Trois Canards, Les Corales de Bulle, La Gérinia de Marly e o coral Rosa Nova. As crianças sentadas nas arquibancadas aplaudiam a cada minuto, balançando no ar centenas de bandeirolas suíças e brasileiras. Pouco antes do início do desfile, elas cantaram aos presentes um dos clássicos da música folclórica suíça “Le vieux chalet” e outra canção própria em francês. Os erros de pronúncia eram corrigidos pela professora com o violão em punho ao microfone.

Pierre-Alain Clément, prefeito da cidade de Friburgo, na Suíça, estava emocionado. Humilde, ele explicava sua vinda pelo fato dos predecessores no cargo também terem participado de outras viagens à Nova Friburgo. Porém não esperava que o prefeito da cidade “irmã” estaria o esperando na noite de sexta-feira na porta do ônibus que os trouxe do aeroporto no Rio de Janeiro. Grande parte dos suíços que participam da viagem está abrigada por famílias brasileiras, das quais algumas são descendentes de suíços.

Alguns deles também estavam concentrados na praça e faziam questão de mostrar suas raízes. Jayer Herdy Boechat, 78 anos, era um. Nascido em Itaperuna, no interior fluminense, ele trajava uma camiseta com o brasão da família. A cada suíço que esbarrava, apresentava seu poema especialmente composto para a ocasião. A primeira estrofe dizia: “Parecia um grande sonho. Hoje é realidade. Os nossos irmãos suíços nos abraçando em nossa cidade”.

No alto-falante, um funcionário da prefeitura anunciou que o grande desfile iria começar. A população de Nova Friburgo já lotava as duas calçadas em toda a extensão da Avenida Alberto Braune aguardando curiosa pela passagem dos cortejos. A abertura foi feita pelo comitê de personalidades, dentre as quais se destacavam o prefeito de Nova Friburgo, Heródoto de Mello, e o historiador Martin Nicolan, autor da tese “La Genese du Nova Friburgo”, a obra que foi o principal fator de reaproximação entre os dois povos, dando início ao processo de aproximação de Nova Friburgo com o Cantão de Friburgo, de onde partiu, em 1819, a maioria dos colonos que vieram participar da formação do município.

Desfile na avenida

Para a maioria dos habitantes de Nova Friburgo, era o primeiro contato com o folclore helvético. A fanfarra La Gérinia de Marly (50 músicos) entrou na avenida com seus pujantes trajes militares e o tom marcial na música. Porém a maior impressão foi causada pelos grupos mais ritmados como o Guggenmusic Trois Canards (31 músicos), cujos membros tocavam com toda energia a típica música do carnaval helvético com seus instrumentos de percussão e sopro. “Esse samba deles é um pouco estranho”, brincou uma jovem brasileira com sua filha no colo, que não parecia compartilhar da opinião da mãe.

Um contraste foi oferecido depois pelos 16 dançarinos do Les Coraules de Bulle, que apresentaram os passos delicados e coordenados dos casais ao som de instrumentos de sopros. Quatro músicos seguiam à frente com suas cornetas alpinas. Ao tocá-las, todos se impressionavam com a força dos instrumentos. Um repórter da TV Globo colocou o microfone diretamente no bocal dos cornes. Impressionado pelo espetáculo, o jovem jornalista já havia entrado ao vivo no RJ TV, o principal noticiário do Estado do Rio de Janeiro para apresentar a chegada dos suíços em Nova Friburgo.

No público, aplausos fortes vinham também dos descendentes de suíços reunidos nas calçadas da avenida. Reunidos sobre diferentes famílias, lá estavam representantes várias gerações brasileiras dos Balmat, Monnerat, Thurler, Wermelinger, Peclat, Boechat, Curty e muitas outras. Eles depois concluíram o desfile, acompanhados por vários grupos de Nova Friburgo como bandas escolares, associações esportivas e beneficentes, além de representantes das outras colônias de imigrantes da cidade. Mesmo dois malabaristas em cima de pernas-de-pau também balançavam a bandeira brasileira e helvética para animar o público.

Povos irmãos

Enquanto uma banca brasileira de carnaval impressionava os suíços com suas evoluções na percussão, a deputada-federal suíça Thérèse Meyer tomava água para se refrescar do calor de 20 graus. Ela não participa da viagem como autoridade política, mas sim membro do coro Rosa Nova, da pequena comuna de Estavayer-le-Lac – local de partida para a imigração helvética no século 19. Questionada sobre a impressão do evento, a parlamentar não se conteve.

“Sinto uma intensa alegria e emoção. Fizemos uma grande viagem para ser recebidos com uma cordialidade impressionante. Muitos de nós nunca estiveram no Brasil. Creio que essa é uma forma extraordinária de tomar consciência do país, aterrissando no Rio de Janeiro e subindo diretamente à Nova Friburgo, uma terra com a qual estamos ligados de coração e alma. Sentimos que, através das idades e continentes, existe um sentimento de parentesco. Somos irmãos e irmãs. É emoção o tempo todo.”

No palanque, as autoridades suíças e brasileiras presentes fizeram o encerramento do desfile. Pascal Corminboeuf, chefe do governo cantonal de Friburgo, discursou para a população com ajuda de intérpretes e comparou a crise de fome que levou à imigração suíça ao Brasil há 200 anos com a crise atual. “Era uma situação que obrigava a mudar e decidir ser melhor. Quando viemos aqui, éramos mais de dois mil e 300 morreram durante a viagem, sendo seus corpos jogados no mar. No Brasil não era possível chorar os mortos, mas sim encarar a vida e construir a nova cidade nas terras dadas pelo rei D. João VI.”

O prefeito de Nova Friburgo, Heródoto de Mello concluiu a festa convidando os suíços a participar ativamente de um evento futuro: “En route vers les 200 ans” (Encontro Rumo aos 200 Anos), os festejos do bicentenário da criação de Nova Friburgo em maio de 2018. “É necessário comemorar aqui e na Suíça. É preciso dizer a todas as pessoas, o que significa essa data. Na sua história milenar, não acredito que a Suíça tenha uma história parecida de mais de duas mil pessoas abandonando o país para emigrar para outra nação.”

O último grupo a se apresentar foi a Escola de Samba Unidos de Nova Friburgo, composta por integrantes de todas as escolas de samba da cidade. Com sua bateria e sambistas, seus membros conseguiram colocar até os mais tímidos suíços a dançar na Avenida Alberto Braune. E para compensar tantas fotos tiradas ao lado de brasileiros, vários rapazes suíços pediram para a mulata dançarina posar ao lado deles. Seus olhos brilhavam.

Alexander Thoele, Nova Friburgo, swissinfo.ch

Além do desfile na principal avenida da cidade, o encontro entre suíços do cantão de Friburgo e Nova Friburgo inclui missa, concertos públicos, encontros folclóricos, festas jovens e também uma viagem de apresentação a comunidades rurais nas cercanias.

O encontro ocorre entre 17 a 20 de outubro.

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