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“É aqui onde tudo começou”

Britânicos escalam em qualquer tempo. swissinfo.ch

Um grupo dos mais conhecidos montanhistas britânicos do século XX retorna aos Alpes suíços para homenagear o lugar onde tudo começou e fazer um alerta sobre o futuro.

O grande dia em Zermatt marcava o 150o aniversário do Clube Alpino Britânico, o primeiro do seu gênero no mundo, e começou com a escalada da montanha Breithorn, com 4.164 metros.

No evento participaram membros de elite do mundo britânico das escaladas.

Alguns deles, como Stephen Venables e Doug Scott, sobreviveram às aventuras vividas no Himalaia para descrevê-las depois em livro – como eles sobrepujaram paredes de pedra e gelo aterradoras e fizeram descidas angustiantes com pernas quebradas.

Mas os famosos alpinistas não vieram descobrir novas rotas de escalada no Zermatt, pelo menos nesse dia.

Eles preferiram muito mais se sentar e gozar a impressionante vista das montanhas no início da manhã do teleférico que lhes transportou até uma altitude de 3.800 metros.

O resto da excursão foi apenas um passeio ao longo de uma trilha suave que subia a encosta da montanha. O único desafio eram as repentinas rajadas de ar que apagavam o caminho ou impediam a visão dos fotógrafos que acompanhavam o grupo.

Um esporte em ascensão

“Este evento foi organizado para celebrar o fato de que o montanhismo continua sendo um esporte florescente desde que surgiu há 150 anos, como também o nosso clube. Foi aqui que tudo começou”, declara Venables à swissinfo depois que o grupo conseguiu alcançar seu modesto objetivo.

Fundado por membros da alta classe média britânica em 1857, durante uma época que muitos consideram até hoje como a “idade de ouro do alpinismo”, em pouco tempo ele já era falado em todo o país. Durante esse período os ingleses conquistaram a grande maioria dos picos alpinos.

Mas a conquista, em 1865, de uma das mais famosas montanhas suíças, Matterhorn, foi manchada pela morte de três alpinistas britânicos e do seu guia. O líder da expedição e membro do Clube Alpino Britânico, Edward Whymper, foi o único sobrevivente britânico.

A sensacional façanha inflamou um grande interesse nos Alpes e coincidiu também com o boom do surgimento de ferrovias e hotéis e sua extensão também aos mais isolados vales suíços. Repentinamente as montanhas passaram a ser acessíveis para o grande público, que antes não podia se dar ao luxo de fazer uma tal viagem.

Desafios em regiões remotas

Num curto período os grandes alpinistas começaram a abandonar os Alpes, em favor de montanhas ainda mais elevadas em outras regiões remotas do globo, onde haviam incontáveis oportunidades de desafiar a morte.

Ao mesmo tempo, a indústria turística nos Alpes passou por um crescimento explosivo. Nela, montanha por montanha foi conquistada por meios mecânicos. Hoje em dia, alpinistas influentes como Scott e Venables estão chocados com o que eles encontram através dos Alpes.

“Zermatt é um lugar belíssimo, mas se você vê como a prática de esqui estraga a paisagem”, lamenta Venables. Ele também se opõe à prática de fixar cabos, grampos e degraus na pedra para tornar o alpinismo um esporte relativamente seguro para um público mais amplo.

“Nosso temor é de que essa política de saúde e segurança queira transformar cada vez mais as montanhas num espaço seguro e controlado, transformando-as em algo parecido com parques temáticos, onde todos podem passear sem medo”, declara.

Perigo

“A ponto principal do montanhismo é que ele é perigoso. É necessário que existam lugares onde você possa sentir solidão, onde você possa escalar uma montanha nos seus termos, ao invés de preparar as rotas com grampos e outros apoios”.

Para Doug Scott, a emoção do alpinismo é viver essa linha de fragilidade, se admirar com o que está no próximo canto.

Ele acredita que as rotas com os cabos fixos e grampos, ou “via ferratas” como esses caminhos preparados são conhecidos, significa que o alpinismo foi “domesticado em nome do dinheiro”.

Mas a maioria dos turistas britânicos parece não se incomodar com a nova situação. Levando-se em conta o número de noites passadas nos hotéis de Zermatt, os ingleses escalaram à terceira posição apenas atrás dos suíços e alemães.

“O evento que estamos organizando também tem por fim de melhorar os negócios de verão, já que alpinismo é uma atividade de verão e a maior parte do crescimento no número de turistas britânicos ocorreu no inverno”, declara Daniel Luggen, da secretaria de turismo de Zermatt.

Mais de trezentos membros do Clube Alpino Britânico não resistiram e vieram à Suíça participar das cerimônias que incluíram também a inauguração de uma estátua em homenagem ao montanhista britânico do século XIX. A reunião teve a maior participação da história do clube.

“Os Alpes são quase a minha casa. É o lugar que você continua tendo vontade de retornar, pois é familiar. Além disso, as montanhas aqui têm também uma história tão familiar para nós. E elas são belíssimas”.

swissinfo, Dale Bechtel

O Clube Alpino Britânico foi fundado em 22 de dezembro de 1857 por doze homens no hotel Ashley, em Londres.
Dentre os seus primeiros membros se destaca Edward Whymper, que se tornou em 1865 o primeiro escalador a conquistar o pico do Matterhorn, e o autor e crítico Leslie Stephen, também conhecido como “pai” de Virgina Woolf.
O clube aproveita a ocasião do seu aniversário para recomendar aos alpinistas que dêem mais importância ao salvamento daqueles que se encontram em dificuldade do que alcançar suas próprias ambições.

O renovado Museu de Zermatt, agora chamado “Zermatlantis”, exibe a vida rural nas montanhas e também as façanhas dos alpinistas e sua importância para o desenvolvimento do vilarejo localizado na região dos Alpes ao sul da Suíça.

O objeto central do museu, que custou alguns milhões de francos para ser montado, é a reconstrução de um vilarejo com vários temas destacados nas paredes das pequenas estruturas de madeira.

O lugar de honra é ocupado pelo pedaço de corda fixado sobre um pano vermelho e atrás de um vidro. Ela partiu durante a descida do conhecido escalador Edward Whymper do Matterhorn (uma das montanhas mais conhecidas do país, cujo pico está a 4.478 metros acima do nível do mar), provocando a morte de quatro membros da sua equipe.

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