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Bicicleta, a nova aliada do cidadão europeu

Estacionamento de bicicletas na estação ferroviária de Fribourg. swissinfo.ch

Na Suíça, como em outros países europeus, muitos cidadãos são entusiastas da bicicleta, como meio de transporte e de lazer.

Companheira quase indispensável do holandês, apreciada por alemães e escandinavos, adotada oficialmente em Paris e Lyon, a “magrela” também ganha crescente espaço na Suíça.

De fato, neste país, como ocorre na Escandinávia e em grande parte da Europa Central, as pessoas tornam-se mais conscientes de que este veículo de duas rodas é alternativa muito interessante ao transporte público ou como seu complemento por ser rápido, prático, saudável e não poluente.

Salto de 70%

E a este respeito, o entusiasmo do deputado federal suíço, Roger Nordmann, é “muito forte”. Para o deputado, vice-presidente de Pro Vélo Suisse – órgão que reúne as associações helvéticas de ciclismo com 25 mil inscritos – “a onda”, ou seja, o maior interesse pelo veículo, começou na Suíça Alemã, contaminando mais recentemente à Suíça de expressão francesa.

Já na Suíça de língua italiana, o interesse pelo ciclismo se dá como prática esportiva.

O deputado Nordmann, residente em Lausanne, capital do cantão de Vaud e vizinho de Genebra, lembra que na sua cidade, em cinco anos, o número de ciclistas aumentou 70%. “Há dez anos, brinca, conhecia todos os ciclistas que encontrava nas ruas, mas agora são tantos que conheço muito poucos”.

O fato é extraordinário, considerando que a cidade, sede do Comitê Olímpico Internacional, é um centro de topografia acidentada e, conseqüentemente, “pouco propício à bicicleta”, exceção feita à ciclovia próxima ao Lago Léman (também chamado de Lago de Genebra, denominação que agrada apenas aos genebrinos).

O porquê do entusiasmo

O fenômeno tem várias explicações. Como as cidades, mesmo as pequenas e as de médio porte, estão entupidas de carros, em particular nas horas de grande afluência, “a bicicleta é o meio de transporte mais rápido para curtas distâncias de 3 a 4 km”.

Como as pessoas gastam cada vez mais tempo para chegar ao trabalho, a “magrela” se torna um meio prático de locomoção e fácil de estacionar, “exceto nas estações ferroviárias”.

As estatísticas vêm corroborar os dizeres do político. Verifica-se que nos centros urbanos, a bicicleta anda em velocidade que varia de 16 a 32 km/h. O carro, comparativamente, circula nos congestionamentos em velocidades que oscilam entre 15 e 20 km/h..

A bicicleta é também um veículo que pode ser facilmente carregado. Na Suíça – que tem a maior rede ferroviária do mundo e os trens dispõem de bagageiros especiais para transporte do veículo – a bicicleta é um trunfo no transporte alternativo.

O argumento saúde

Com o crescente sedentarismo, a ‘pequena rainha’ (petite reine) – como os franceses a chamam, familiar e carinhosamente e com maior poesia que os brasileiros – torna-se um fator importante de preservação da saúde através de exercício físico, com uma vantagem adicional: ela não polui.

E como veículo de passeio, oferece maior possibilidade de admirar a natureza e de respirar ares mais puros…

A propósito de “ser bom para a saúde”, sob o lema “mais que um esporte, é um meio de transporte”, Pro Velo assegura que 30 minutos diários de bicicleta bastam para aumentar a esperança de vida e diminuir de até 2/3 as possibilidades de doenças cardíacas.

São tantos os argumentos favoráveis a esse veículo, constata Roger Nordmann, que “uma vez que a gente monta, não larga mais”.

Fenômeno internacional

Mas a opção pela bicicleta seria, mais que suíça, uma tendência européia?

Sim, diz Nordmann, e cita o Velib’, em Paris, referindo-se a um novo sistema que, desde 15 de julho, coloca à disposição dos habitantes da capital francesa mais de 10 mil bicicletas, em 750 locais apropriados.

O sistema é pago – exceto os primeiros 30 minutos de uso do veículo. Os interessados precisam comprar uma licença anual de 29 euros (R$ 75,00 aproximadamente). Mas há possibilidade de utilização por períodos curtos (confira no site ao lado).

Paris já disporia de 370 km de ciclovias e até o fim de 2007 as autoridades parisienses prometem duplicar o número de bicicletas e dos locais de estacionamento das mesmas.

Exemplos de Nova York e Londres

Pode-se, no entanto, questionar se a bicicleta realmente se adapta às grandes cidades. Claro, reage o deputado suíço: Nova York (onde só o município tem 8 milhões de habitantes) está cheia de bicicletas. Ele acha que “quanto maior a cidade e quanto maior a densidade de trânsito, mais a bicicleta tem utilidade”.

Os transportes públicos, insiste, são mais adequados aos grandes trechos, enquanto que “para trajetos de bairro, a bicicleta tem excelente desempenho”.

Outro exemplo é Londres, com população quase equivalente à de NYC e onde a demanda de bicicleta registrou enorme aumento.

Por razões de segurança, depois dos últimos graves atentados terroristas, e também para evitar a congestion charge (pedágio urbano introduzido em fevereiro de 2003), motoristas e não motoristas optaram pelo veículo de 2 rodas.

E São Paulo?

Roger Nordmann acha a bicicleta um meio de transporte adequado mesmo para uma capital como São Paulo (onde só o município tem 11 milhões de habitantes e sua região metropolitana, 19 milhões).

Bom, primeiro, ele reconhece que certamente precisa mudar “o comportamento cultural” dos motoristas, no sentido de que respeitem mais ou pelo menos aturem os ciclistas.

Nordmann nota que a infra-estrutura necessária não é pesada: nas grandes avenidas a implantação de uma ciclovia separada do leito carroçável seria suficiente. Já nos pequenos eixos, uma faixa deve indicar o espaço reservado aos usuários de bicicleta.

Mas lembra que se nos países em desenvolvimento a bicicleta desempenhava grande papel, observa-se que a tendência atual é abandoná-la

“Na sua história, realça, a bicicleta foi uma grande conquista social. Como meio de transporte barato, é acessível a todos, inclusive aos pobres, o que permitiu “democratizar o transporte”.

Movimentos opostos

A tendência vigente é privilegiar o carro. O fenômeno é maciço na China, mas “tenho certeza, enfatiza Normann, que dentro de dez ou vinte anos, os chineses vão efetuar movimento inverso nos deslocamentos urbanos”.

Em países mais desenvolvidos industrialmente nota-se um fenômeno contrário, com uma maior opção pela bicicleta, o que representa “uma maneira de superar os problemas ambientais no plano urbano e, acessoriamente, um meio de transporte muito sadio”.

Assim, a imagem que ela carregava de “primo pobre” está desmoronando. Sinal de que as mentalidades evoluem. E, de fato, a ‘pequena rainha’ parece ter chegado para reinar.

swissinfo, J.Gabriel Barbosa

Países que mais usam bicicletas por habitantes são: Japão, Países Baixos, Estados Unidos e França.
Na Suíça (7,5 milhões de habitantes) há 4 milhões de bicicletas. Em 2006 foram vendidas 350 mil.
No país, 73% dos lares dispõem de um desses veículos e 28% têm mais de três (as cifras correspondentes em 1984 eram de 52 e 15%, respectivamente).
Nos trens suíços há compartimentos especiais para o transporte de bicicletas e a companhia nacional de ferrovias (SBB/CFF) vem promovendo programas que incentivam o ciclismo em dezenas de estações.

PRO VELO Suíça é uma organização sem fins lucrativos, destinada a promover o uso da bicicleta.

Uma de suas campanhas anuais visando incentivar esse meio de transporte “não poluente e eficaz” é Bike to work – à velo au boulot, em francês, quer dizer “de bicicleta para o serviço”. A iniciativa – lançada em 2005 – consiste em levar as empresas a promoverem a utilização da bicicleta pelos seus empregados nos deslocamentos diários entre a residência e o trabalho.

A operação realiza-se no mês de junho. No período, os participantes formam equipes de 4 pessoas para esses trajetos alternativos, durante pelo menos a metade dos dias que trabalham.

O sucesso tem sido crescente. Neste ano de 2007, mais de 33 mil pessoas percorreram o total de 6,5 milhões de quilômetros no caminho entre casa e trabalho. A média conseguida por participante foi de 14 km diários, contando os 14 dias em que se utilizou a bicicleta.

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