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Colocando os animais para “trabalhar”

A tartaruga "Jumbo" belisca o brinquedo de borracha para ganhar um pedaço de fruta. Zoo Zürich, Enzo Franchini

Um novo programa no Zoológico de Zurique cria apresentações de animais para incentivar seu comportamento natural e melhorar os conhecimentos ecológicos do público.

A experiência mostra que até mesmo a maior tartaruga do mundo é capaz de correr, se seus instintos forem despertados. E tudo é comentado através de microfone.

É como se tivessem escondendo ovos de Páscoa. Dois jovens tratadores dos guaxinins e ursos-de-óculos entram no espaçoso recinto no Zoológico de Zurique, decorado o mais naturalmente possível com troncos de árvores, arbustos, córrego d’água e rochas, e começam a distribuir as diferentes guloseimas.

No chão são espalhados insetos. Nos buracos das árvores, eles escondem pintos mortos com a ajuda de longas varas. Nas perfurações de diversos bastões de madeira são colocadas as uvas-passas e depois jogadas atrás dos arbustos. Pedaços de frutas colocados nos vários esconderijos e o mel, passado no alto dos troncos mortos, complementam o banquete.

Os primeiros a se servir são os guaxinins, bichinhos ágeis e travessos. Eles sobem com maestria os troncos e descobrem os pintos mortos. Outros vão colhendo os insetos no chão ou retirando os frutos atrás folhagens. Depois entram os ursos-de-óculos, animais típicos dos Andes, e escalam as árvores atraídos pelo mel. Então eles começam a brigar para tirar a comida colocada em um saco de linho, pendurado no tronco. O mais esperto aperta uma alavanca e ganha, como prêmio, uma maçã.

Toda a ação é comentada ao vivo por um tratador através de um microfone acoplado na sua cabeça. Ele dá informações gerais sobre os animais – entre outras, que os ursos-de-óculos são uma espécie ameaçada de extinção – e explica ao público como os animais procuram alimentos na natureza.

Mensagem ecológica

“A vida deles seria muito monótona se o alimento tivesse sido simplesmente jogado no chão”, explica Cordula Galeffi, curadora dessa mais recente atividade desenvolvida pelo Zoológico de Zurique, a apresentação de animais. “Para superar também o limite de espaço nos recintos, desenvolvemos esse projeto de enriquecimento comportamental, que é incentivar as capacidades naturais como sua perícia e o instinto de caça.”

Galeffi e sua equipe desenvolveram um programa semanal de apresentações de animais em 14 diferentes recintos no zoológico, que incluem animais como pinguins, camelos, lontras, elefantes ou as gigantescas tartarugas de Galápagos. Depois da fase de testes e ensaio, o programa inicia oficialmente em primeiro de abril. O projeto tem financiamento garantido por três anos pela sociedade mantenedora da instituição. “Mas nosso objetivo é que seja uma atração permanente aqui no zoológico”, acrescenta Galeffi.

Atrações circenses no zoo? A questão faz a zoóloga balançar a cabeça. “Existem instituições que fazem isso, mas nossa intenção é completamente diferente. Além de melhorar as condições de vida dos animais, também queremos transmitir uma mensagem ecológica. Ao explicar as apresentações, queremos que as pessoas conheçam melhor a natureza”, afirma, lembrando também a frase de um conhecido poeta senegalês. “As pessoas só protegem o que elas gostam e só gostam do que elas conhecem”.

Problema na jaula é o ócio

Enquanto explica, os ursos-de-óculos começam a farejar diversos troncos e pedras. O mistério é desvendado por ela: “Nós exercitamos os animais não apenas através de alimentos, mas também espalhando essências no seu recinto. É que eles gostam bastante de farejar e sentir novos aromas”, acrescenta Galeffi, revelando que os ursos têm uma predileção por perfumes femininos.

Para determinar a importância dos exercícios, a jovem zoóloga lembra que os felinos são a família de animais com grande disposição para ter problemas de comportamento em cativeiro, o que explica o movimento de ir-e-vir de tantos leopardos nas suas pequenas jaulas em vários zoológicos do mundo. “A questão não é o tamanho da jaula, mas sim o ócio”, afirma ela. Isso também explica porque a grande parte dos animais em Zurique é alimentada até seis vezes durante o dia com pequenas porções.

Carinho nas tartarugas

Exercícios práticos também podem ser observados na apresentação das gigantescas tartarugas das Ilhas Galápagos. O Zoológico de Zurique tem o único casal no mundo a se reproduzir em cativeiro. “Jumbo” mostra que o clichê de lentidão desses animais está longe da realidade. Com destreza, esse exemplar de 55 anos de idade e 220 quilos, persegue uma peça colorida de borracha, pregada num bastão, carregada pela zoóloga Andrea Strasser. Ao alcançá-la, ele dá uma mordida.

“Experimentamos essa brincadeira e o Jumbo gostou. Depois da mordida, ele larga e espera que a gente coloque na sua boca um pedaço de fruta. Assim ele é animado a se movimentar e superar os diversos obstáculos”, comenta através dos microfones, enquanto tira mais um pedaço de maçã do bolso.

Após o exercício voluntário, Jumbo e sua companheira Nigrita exigem “carinho” dos tratadores. As tartarugas se imobilizam como estátuas e apontam a cabeça para o alto. Então Strasser e seu colega começam a apalpar lentamente o pescoço e as pernas das tartarugas. Aparentemente elas estão tendo muito prazer. “É assim que ficam quando os pássaros na natureza montam nelas para retirar os parasitas”, explica a zoóloga e brinca, “Aqui somos os seus pássaros.”

Alexander Thoele, swissinfo.ch

O Zoológico de Zurique foi inaugurado em 1929 em uma colina acima de Zurique, bairro também conhecido pelo nome de Zürichberg.

Hoje ocupa uma área de 15 hectares – que até 2020 deve ser expandida para 28 hectares.

Número total de animais: 3.731 (de 357 diferentes espécies). Dos quais: 489 mamíferos (69 espécies), 792 pássaros (121), 288 répteis (49), 138 anfíbios (13), 1883 peixes (74) e 141 invertebrados (35)

Visitantes por ano: 1,8 milhões.

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