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“Direito à alimentação precisa de bom clima”

Miss Suíça Whitney Toyloy: "Se cada um contribuir, o mundo será mais justo." (Foto: Stefan Salzmann/Brot für alle)

Uma campanha das organizações filantrópicas das igrejas suíças vincula o combate à fome à proteção do clima. O bispo do Xingu, Erwin Kräutler, adverte sobre a ameaça climática aos índios.

Além de arrecadar doações para projetos de ajuda ao desenvolvimento, as duas principais ONGs ligadas às igrejas helvéticas pedem uma drástica redução das emissões mundiais de CO2.

Por causa da mudança climática, cada vez mais pessoas estão ameaçadas pela fome. Por isso, as organizações Pão para Todos (Brot für alle, protestante) e Ação Quaresmal Suíça (Fastenopfer, católica) defendem em sua 40ª campanha ecumênica “um acordo justo sobre o clima e mudanças no estilo de vida”.

Segundo as ONGs, mais de 925 milhões de pessoas sofrem de fome em todo o mundo. “Justamente as pessoas no hemisfério Sul, que menos contribuem com a mudança climática, são as mais atingidas por seus efeitos: secas, furacões e enchentes reduzem as safras e causam fome.”

Protocolo pós-Kyoto

Na próxima Conferência do Clima, de 7 a 18 de dezembro de 2009 em Copenhague (Dinamarca), os países-membros da ONU irão negociar um Protocolo pós-Kyoto. “Nas negociações internacionais, o Conselho Federal (Executivo suíço) deve defender uma redução drástica das emissões mundiais de CO2 e apoiar as reivindicações do Sul”, pedem as duas ONGs.

Segundo elas, para que seja alcançada a meta de limitar o aquecimento global ao máximo de 2° C, “a Suíça precisa reduzir em 40% suas emissões de CO2 no país até 2020 e paralelamente possibilitar uma redução na mesma proporção no exterior”. No exterior, isso poderia ser feito, por exemplo, através da compra de certificados CDM (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) com selo “ouro”, que são sujeitos a critérios ecológicos e sociais claros e controlados.

Na opinião de Chiara Simoneschi-Cortesi, presidente da Câmara dos Deputados e membro da fundação da Ação Quaresmal Suíça, “esse desafio só poderá ser vencido se cada um mudar seu modo de pensar, consumir e viver.” (veja dicas na coluna à direita)

Beat Dietschy, secretário-geral da Pão para Todos, adverte que, para superar a crise, não basta reduzir as emissões dos gases de efeito estufa; ao mesmo tempo é preciso fortalecer o direito dos pobres ao desenvolvimento.

“A proteção do clima não deve ocorrer às custas do combate à fome. Em sua adaptação aos efeitos da mudança climática, os pobres precisam ser apoiados com projetos de desenvolvimento protetores do clima”, disse Dietschy.

Desertificação da Amazônia?

Um exemplo das conseqüências da mudança climática no Sul do mundo foi dado pelo bispo do Xingu e presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Erwin Kräutler. Durante o lançamento da campanha em Lucerna, ele explicou que „a bacia amazônica começa a secar. Milhares de famílias cada vez mais são atingidas e ficam isoladas durante meses quando alguns rios se transformam em riachos.”

Kräutler, de origem austríaca e responsável pelas relações da Igreja Católica com os 500 mil índios brasileiros, disse temer o surgimento de um novo cinturão de desertos na América do Sul, análogo à África, e lembra que também o Saara já foi um celeiro.

Igrejas “verdes”

A Pão para Todos e a Ação Quaresmal Suíça também querem varrer diante da própria porta. Com uma calculadora de CO2 e um manual, elas querem incentivar as paróquias a reduzir as emissões em edifícios das igrejas. “Ali existe um grande potencial de ação”, explica Antonio Hautle, diretos da Ação Quaresmal.”As igrejas precisam dar um bom exemplo.”

Um bom exemplo é a igreja de São Tito, em Basileia, que em 1990 foi a primeira da suíça a instalar coletores solares no telhado. Hoje a paróquia fatura cerca de 6.500 francos por ano com a venda do excedente de energia ecológica. Com o dinheiro, ela financia um projeto de geladeiras solares na Nigéria.

Uma inovação da campanha da fraternidade deste ano é o “Fundo para o Clima e o Desenvolvimento”. Através dele, pessoas físicas e instituições suíças que renovarem suas edificações pelos critérios da eficiência energética, podem usar o dinheiro economizado com energia para financiar medidas de adaptação à mudança climática em países do Sul.

Pães e rosas

Além de fazer lobby político, as duas ONGs também pedem doações para financiar projetos de ajuda ao desenvolvimento. Anualmente elas arrecadam cerca de 30 milhões de francos durante a campanha para esse fim.

De 25 de fevereiro a 12 de abril, 562 padarias suíças vendem “pães para repartir”. Cinqüenta centavos do preço de cada pão são destinados aos projetos sociais apoiados pelas igrejas católica e protestante no hemisfério Sul.

No último dia 14 de março, as ONGs venderam em 600 locais do país 150 mil rosas doadas pela rede de supermercados Migros. Os 750 mil francos arrecadados na ocasião destinam-se a projetos de educação e abastecimento de água no Senegal, bem como de proteção de mangues e pesca artesanal nas Filipinas.

“Se cada um contribuir um pouco, o mundo pode se tornar mais justo”, disse a Miss Suíça, Whitney Toyloy, que participou da venda de rosas em Zurique (veja a foto acima).

swissinfo, Geraldo Hoffmann

A Brot für alle e a Fastenopfer sugerem aos suíços as seguintes medidas de proteção ao clima para implementação individual no cotidiano:

Comprar produtos orgânicos sazonais da região

Reduzir em 10% o consumo de carne

Comprar apenas equipamentos elétricos com padrão de energia A

Não deixar eletrodomésticos em stand by

Ficar um minuto a menos por dia sob o chuveiro quente

Reduzir em 1° C a calefação da casa

Adaptar a moradia ao padrão de mini-energia

Usar transporte público ou bicicleta em vez de carro

Fazer menos viagens aéreas

Comprar energia ecológica e assim investir em energias renováveis

A Brot für alle (BFA), ligada à Igreja Evangélica suíça, apóia desde 1961 projetos de desenvolvimento na América Latina, na África e na Ásia.

Atualmente apóia cerca de 400 projetos e programas em 60 países.

Na América Latina, atua na Bolívia, Brasil, Chile, Argentina, Guatemala, Haiti, Honduras, Colômbia, Equador, México, Cuba e Peru

A Fastenopfer, ligada à Igreja Católica suíça, também foi fundada em 1961.

Atualmente apóia 350 projetos em 16 países.

Na América Latina, atua no Brasil, México, Guatemala, Haiti, Colômbia e Peru.

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