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“O importante é estar presente no Brasil”

José Gomes Temporão (esq.) e Didier Burkhalter apertam a mão após o encontro. Rubens Silva

No primeiro dia da viagem ao Brasil, o ministro suíço do Interior, Didier Burkhalter, encontrou os ministros brasileiros José Gomes Temporão (Saúde) e Sérgio Machado Rezende (Ciência e Tecnologia) em Brasília.

Na pauta de discussões, o apoio à candidatura da Suíça ao conselho executivo da Organização Mundial da Saúde (OMS), cooperação na pesquisa de doenças tropicais e a oferta de uma embaixada “científica” suíça no Brasil.

Um funcionário graduado vai ao ponto para explicar o principal objetivo da viagem do ministro suíço do Interior, Didier Burkhalter, e sua delegação de altos representantes da ciência helvética. “Para nós é importante estar presente em um país de forte crescimento como o Brasil”, afirma Mauro Moruzzi, chefe do setor de cooperação bilateral em pesquisa na Secretaria de Estado para Educação e Pesquisa, lembrando que a Suíça desfruta de uma fama de parceiro confiável no maior país da América do Sul e também “de cumprir seus compromissos”.

Pouco depois de desembarcar em São Paulo, a delegação tomou um avião em direção à Brasília, onde uma apertada programação de encontros entre os governos já estava agendada. Com batedores da Polícia Militar, os carros atravessaram a Esplanada dos Ministérios para chegar ao primeiro compromisso com José Gomes Temporão.

O ministro brasileiro da Saúde já conhecia Didier Burkhalter de outra reunião na Organização Mundial da Saúde (OMS) em Genebra. O tema continuou no segundo encontro. “A Suíça e o Brasil compartilham uma opinião comum dentro da OMS, que é o de reforçar seu papel e rever o financiamento desse órgão internacional”, explicou Jean-Marc Crevoisier. O porta-voz do Ministério suíço do Interior lembrou que a Suíça é candidata a um posto no comitê executivo da OMS. Por isso Burkhalter aproveitou a ocasião para ressaltar frente ao homólogo brasileiro o interesse do país em participar dessa organização, onde o Brasil já ocupa um posto no mesmo comitê. “A dois poderemos reforçar nossa visão comum”, completa Crevoisier.

Outro ponto na conversação entre os dois ministros foi a gripe suína, tema já abordado em Genebra pelos dois governos quando a própria Suíça estava no auge da crise epidêmica. Temporão contou aos presentes a satisfação de metade da população brasileira ter sido vacinada. “Esse é um setor – o das campanhas de vacinação – onde os dois países podem colaborar”, afirma o porta-voz.

Marcel Tanner, diretor do Instituto Tropical e de Saúde Pública Suíça e membro da delegação, aproveitou a ocasião para levantar frente ao ministro brasileiro a possibilidade de maior colaboração entre os dois países na pesquisa e luta contra doenças tropicais. “Os representantes brasileiros concordaram que convém aos dois países reforçar seu trabalho conjunto, no qual somamos o ‘know how’ brasileiro no combate a enfermidades que conhecemos insuficientemente nos países do norte, com a experiência dos cientistas suíços”, diz Crevoisier.

Interesses conjuntos

Por isso, participantes como Tanner consideraram o encontro com Temporão um sucesso. “Ele é também um pesquisador, ligado a Fiocruz, e que conhecemos há muito tempo”, afirma o diretor do instituto localizado na Basileia. As duas delegações estavam de acordo que é necessário uma coordenação global até na área de diplomacia internacional em prol das grandes iniciativas de saúde.

Quanto à colaboração, o interesse de pesquisadores suíços se explica pela qualidade da pesquisa brasileira. “O Brasil é um país endêmico para muitas doenças tropicais. Porem tem uma ciência muito desenvolvida na área de saúde, além de uma boa medicina de base e aplicada. O Brasil está em uma situação melhor do que outros países endêmicos”, explica Marcel Tanner.

Mas ele acredita que ainda há um longo percurso a percorrer no combate das doenças que ele considera “negligenciadas”: “Podemos começar com a febre da dengue, na qual faltam recursos para encontrar medicamentos e diagnósticos. Mas também os vermes intestinais, a esquistossomose, a leishmaniose ou a doença de chagas”. Em sua opinião, é preciso encontrar uma solução global para tratar desses problemas, sobretudo através da cooperação científica, na qual a própria Suíça pode ter grande interesse, apesar de não sofrer dessas doenças tropicais. “O que acontece nesses países termina nos influenciando como, por exemplo, através de movimentos migratórios de populações das regiões atingidas por endemias.”

Outro aspecto interessante na cooperação é uma troca de experiências na administração dos custos de saúde, que na Suíça se elevam a cada ano frente ao desenvolvimento demográfico e as novas tecnologias. “Podemos também aprender com o Brasil e outros países mais pobres do que a Suíça a garantir a saúde com poucos recursos. Nós que gastamos sete mil francos por ano e por cabeça no setor, podemos começar a discutir a razão e formas de racionalização dos nossos gastos”, acrescenta o pesquisador.

Novos programas científicos

Em Brasília, Didier Burkhalter também foi recebido por seu homólogo brasileiro, o ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Machado Rezende. Os dois fizeram uma análise dos resultados do programa de cooperação cientifica assinado em setembro de 2009 no qual, após processo de seleção, dez projetos de pesquisa foram apoiados financeiramente em quatro principais setores: neurociência, meio-ambiente, saúde e energia.

O sucesso do primeiro programa levou os dois governos a continuar o programa. “Após uma análise acurada em cada um dos países, Brasil e Suíça irão lançar em breve uma segunda licitação para novos projetos conjuntos de pesquisa”, declarou Jean-Marc Crevoisier. Segundo ele, o Brasil pediu dessa vez um reforço maior nas áreas de energia e meio-ambiente.

Burkhalter também abordou o interessa da Suíça em criar no Brasil um “swissnex”, que são “embaixadas científicas” em locais de grande potencial com pessoal especializado na promoção da cooperação cientifica. Atualmente cinco já estão em funcionamento em Bangalore (Índia), Boston e São Francisco (EUA), Cingapura e Xangai (China). A proposta foi bem recebida pelo ministro Resende, que prometeu transmiti-la ao seu sucessor quando o novo governo brasileiro estiver formado após as eleições de 3 de outubro de 2010.

A atuação do ministro suíço agradou membros da delegação suíça. “Sinto em Burkhalter uma forte vontade de tomar iniciativas para conectar a ciência suíça com a de outros países. Da parte do Brasil, sinto que estamos sendo levados em consideração”, avalia Dieter Imboden, presidente do conselho nacional de pesquisa do Fundo Nacional Suíço de Pesquisa Cientifica (FNS, na sigla em francês). O pesquisador em biogeoquímica na Escola Politécnica de Zurique também lembrou que a cooperação cientifica ocorre fora dos tratados bilaterais, “pela iniciativa e contato direto entre os próprios cientistas.”

Imboden traz números concretos do que já significa a cooperação entre os dois países. Entre 2003 e 2009, o FNS investiu 21 milhões de francos em projetos na Suíça que incluíam cooperação com cientistas brasileiros. “E o Brasil aplicou essa mesma soma também”, aponta Imboden para uma tabela retirada da sua pasta. A grande parte dos projetos atua nas áreas de matemática, ciências exatas, engenharia e medicina.

Alexander Thoele, Brasília, swissinfo.ch

Em 14 de agosto de 2008, Brasil e Suíça asssinaram um “memorandum of understanding” no qual ficou previsto, entre outros setores, a intensificação da cooperação científica entre os dois países.

Em 29 de setembro de 2009, Brasil e Suíça assinaram um tratado de cooperação científica.

Concretamente, o acordo possibilitou o financiamento de dez projetos de pesquisa conjunta.

Na visita ao Brasil, Didier Burkhalter e seu homólogo brasileiro manifestaram o desejo de fazer uma segunda licitação para selecionar novos projetos.

O ministro suíço do Interior também afirmou estar interessado na criação de um “swissnex”, embaixadas “científicas” em locais de grande potencial com pessoal especializado na promoção da cooperação cientifica.

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