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“Esses países ainda são atraentes para se investir”

Inundação no Brasil: uma potência com grandes problemas estruturais. AFP

A crise afeta o crescimento nos países emergentes e, especialmente no BRICS, porém o seu dinamismo ainda faz deles o "motor" da economia global.

swissinfo.ch entrevista uma analista do Credit Suisse sobre as perspectivas e problemas das potências do “futuro”.

Para a economista alemã Nora Wassermann, especialista de países emergentes na divisão Global economic research no segundo maior banco suíço, a crise na zona euro pode afetar os países emergentes. Porém a perspectiva de crescimento nessas regiões do globo é mais forte do que no “velho continente”.

swissinfo.ch: Muitos analistas veem problemas não solucionados nos países emergentes, especialmente do BRICS: burocracia, medidas protecionistas, inflação em alta, divida pública crescente, dependência dos recursos naturais ou investimentos reduzidos na infraestrutura e educação. A senhora também não é um pouco cética? 

Nora Wassermann: De fato existem esses problemas relacionados ao desenvolvimento dos países em determinadas áreas. Porém os países do BRICS ainda são vistos como fortes impulsionadores do crescimento quando você analisa o contexto da economia global. Os dados mostram um crescimento nos últimos dez anos, que começou quando a China aderiu, em 2001, à Organização Mundial do Comércio (OMC). Esse crescimento ocorreu não apenas na China, mas também em outros países do BRICS, e responde por 50% do crescimento global da economia.

Agora nos últimos dois anos, desde o início da crise econômica, houve de fato uma queda de crescimento nos países desenvolvidos. Porém precisamos dizer que as perspectivas nos próximos anos são de que a economia chinesa não irá mais crescer a taxas de 10%, como até então, mas também que ela estará mais focalizada no crescimento do consumo interno e menos no crescimento a partir de investimentos. Isso significa que as importações da China vão aumentar, o que faz com que o país continue a impulsionar positivamente a economia global. Mas de fato a economia chinesa deve crescer menos, de forma geral.

swissinfo.ch: Se pegarmos o exemplo do Brasil, vemos também um paralelo com os riscos atuais na China através do forte aquecimento do mercado imobiliário. Analistas consideram que existe um risco de bolha nesses mercados. A senhora também compartilha essa opinião? 

N.W.: Penso que esses dois países têm consciência do problema. Porém tanto o Brasil, como a China e a Índia, decidiram tornar mais rígidas suas políticas monetárias e fiscais entre 2010 e 2011, depois da crise global em 2009. Isso foi absolutamente uma reação ao forte crescimento da demanda doméstica, que em parte foi financiada pelo “boom” de crédito e abasteceu também o mercado imobiliário.

Agora no momento já podemos detectar na China uma leve queda no preço dos imóveis, sendo que no Brasil ainda não. Na China esse desenvolvimento é impulsionado pelo próprio governo e pelo Banco Central da China para combater essa bolha e estabilizar os preços.

swissinfo.ch: Há pouco pesquisadores do Banco Mundial alertaram os países emergentes para se preparem a uma queda severa na economia global. Quais são seus prognósticos? 

N.W.: De fato existe o risco de uma diminuição das taxas de crescimento mais forte nesse e no ano que vem se a crise europeia piorar. Mas atualmente avaliamos que Europa deve viver em 2012 uma leve recessão com taxas negativas de crescimento e, no próximo ano, a taxas de 1% ou até menos, mas pelo menos positivas.

Para os Estados Unidos as taxas de crescimento devem ficar abaixo de 2%, ou seja, abaixo do seu potencial, mas pelo menos mais fortes do que na Europa. Não é um cenário positivo, mas também não tanto pessimista. Porém tudo depende se a zona euro consegue resolver sua crise. E o resultado é que devemos ter também taxas mais fracas de crescimento nos países emergentes como a China e o Brasil, porém sem ser uma queda brutal.

Nós esperamos para 2012 taxas de crescimento no Brasil na ordem de 2,5%, que está abaixo das perspectivas de crescimento em longo prazo do país, mas em todo caso muito mais forte do que os números durante a crise econômica em 2008/2009, quando chegou a ser negativo. Para a China esperamos taxas de crescimento na ordem de 8%. Nos dois países vemos o apoio é dado através de uma política monetária menos rígida. E esse apoio vem não apenas dos juros mais baixos, mas da política fiscal, especialmente no Brasi, onde se investe pesado na infraestrutura em vista dos grandes eventos esportivos, dentre outros.

swissinfo.ch: Que consequências teriam para os países emergentes um colapso do euro? 

N.W.: As consequências podem ocorrer através de dois canais: o canal de comércio e o canal financeiro. A exposição através do canal financeiro é relativamente baixa na Ásia e não representam um risco substancial na América Latina. Para as relações comerciais a exposição é mais grande, especialmente para a China, cuja economia beneficiou de forte crescimento nas exportações, da quais 19% são direcionados atualmente para a Europa. Isso significa que a China sentiria fortemente esse possível colapso, apesar da transição que ela está vivendo para um crescimento movido mais graças ao consumo interno. Mas esse processo não decorre rápido o suficiente, o que faz que o país esteja ainda bastante exposto a esses riscos, significando talvez uma redução da economia para taxas de crescimento cerca de 6%. Porém precisamos aqui ressaltar que essas taxas ainda são bastante elevadas no contexto global. A China ainda tem alguns recursos para segurar sua economia, especialmente através de instrumentos fiscais ou monetários.

O mesmo também vale para o Brasil. As relações comerciais com a Europa também correspondem a 20% do todo, mas o país também exporta 17% dos seus bens para a China. Por isso o país poderá sofrer consequências também indiretamente de um possível colapso na zona euro, já que o crescimento da China poderá diminuir e, consequentemente, a demanda por produtos brasileiros como matéria-prima. Taxas menores de no Brasil, frente a taxas já reduzidas de 2,5%, levam o país a permanecer em um patamar reduzido de crescimento. Não é ideal, mas também não acreditamos que a crise do euro leve a uma forte recessão no Brasil.

swissinfo.ch: Os últimos números do Banco Central Suíço mostram que os investimentos diretos suíços no Brasil passaram de 12,7 bilhões de francos em 2009 para 20,3 bilhões em 2010? Que empresas estão investindo por lá e por que esse crescimento foi tão grande? 

N.W.: Eu não posso dar nomes de empresas, mas posso dizer que existem dois setores interessantes no Brasil: em primeiro lugar, os setores relacionados ao consumo de produtos domésticos ou alimentares, explicado pelo forte crescimento do consumo interno no país nos últimos anos e o fortalecimento da classe média; o outro setor é a infraestrutura graças aos investimentos planejados para os grandes eventos. Fornecedores da indústria de construção, por exemplo. O setor financeiro tem até agora sido também interessante, mas enfrenta o aumento da competitividade dos bancos públicos e pressão do governo para reduzir as suas margens.

swissinfo.ch: Somados, os investimentos diretos suíços dos países do BRICS correspondem a 42,5 bilhões de francos. Porém somente em Luxemburgo a Suíça tem 68 bilhões de francos investidos. Já nos centros financeiros “offshore” na América do Sul e Central esse número chega a 97 bilhões de francos. Qual a razão dessa discrepância? 

N.W.: Obviamente o setor bancário na Suíça é muito forte, o que explica também as investimentos nesses países. A questão é que ainda vejo riscos nos países emergentes, o que explica a reserva por partes dos investidores suíços de colocar o seu dinheiro neles. São países onde os trâmites para se abrir uma empresa ainda são muito complicados como é o caso do Brasil, onde a cobrança de impostos é extremamente complexa. O Brasil ainda é um dos países com a colocação mais baixa no ranking do “ease of doing business” do Banco Mundial (ver link na coluna da direita). Por isso acredito que existem ainda fortes problemas administrativos a se resolver, o que explica porque não se investe mais no país.

swissinfo.ch: O poupador na Suíça e países da zona euro como a Alemanha sofre atualmente ao ver que seus investimentos praticamente não trazem mais juros. Nesse sentido, a senhora como analista de Credit Suisse, recomendaria aos clientes do banco de investir nos países emergentes como os do BRICS? 

N.W.: As previsões de crescimento foram fortemente revisadas para baixo para os países do BRIC nos últimos meses. Em meio a um ambiente mais fraco de crescimento global, é improvável que o BRIC retorne para a força pré-crise. No entanto, ainda esperamos um crescimento mais forte do que nos países industrializados e por isso pensamos que os mercados emergentes oferecem oportunidades de investimento atraentes. Nossos analistas acreditam que a situação atual oferece algumas oportunidades de compra atraentes no espaço de equidade (nos sectores relacionados ao consumo, por exemplo). Além disso, os mercados emergentes ainda oferecem dividendos mais elevados.

Em todo caso, precisamos ser seletivos com esses países. Nós iríamos recomendar mais investir no Brasil do que na Índia, por exemplo, porque o Brasil tem uma política fiscal e monetária mais eficientes.

Em economia, BRICS é um acrônimo que se refere aos países membros fundadores (Brasil, Rússia, Índia e China) e à África do Sul, que juntos formam um grupo político de cooperação.

Em 14 de abril de 2011, o “S” foi oficialmente adicionado à sigla BRIC para formar o BRICS, após a admissão da África do Sul (em inglês: South Africa) ao grupo.

Os membros fundadores e a África do Sul estão todos em um estágio similar de mercado emergente, devido ao seu desenvolvimento econômico.

É geralmente traduzido como “os BRICS” ou “países BRICS” ou, alternativamente, como os “Cinco Grandes”.

Apesar do grupo ainda não ser um bloco econômico ou uma associação de comércio formal, como no caso da União Europeia, existem fortes indicadores de que “os quatro países do BRIC têm procurado formar um “clube político” ou uma “aliança”, e assim converter “seu crescente poder econômico em uma maior influência geopolítica.”

Desde 2009, os líderes do grupo realizam cúpulas anuais.

A sigla (originalmente “BRIC”) foi cunhada por Jim O’Neill em um estudo de 2001 intitulado “Building Better Global Economic BRICs”. Desde então, a sigla passou a ser amplamente usada como um símbolo da mudança no poder econômico global, distanciando-se das economias desenvolvidas do G7 em relação ao mundo em desenvolvimento.

De acordo com um artigo publicado em 2005, o México e a Coreia do Sul seriam os únicos outros países comparáveis ​​aos BRICS, mas suas economias foram inicialmente excluídas por serem consideradas mais desenvolvidas, uma vez que já eram membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

 Fonte: Wikipédia em português

Nora Wassermann trabalha no banco suíço Credit Suisse como especialista de países emergentes na divisão Global economic research.

A economista é formada pela Universidade de Viena, na Áustria.

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