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A economia mundial no sanatório de Davos

O sanatório Alexanderhaus-Klinik, na praça de Davos, que hospedou participantes do WEF 2007, já não é mais clínica. A crise chegou a Davos. Keystone

A crise financeira e econômica mundial atrai um número recorde de executivos e políticos ao Fórum Econômico Mundial 2009, em Davos.

O presidente do evento, Klaus Schwab, compara a crise a um acidente de engavetamento na autoestrada da globalização. A cura dos feridos será discutida nos Alpes suíços – sem festa.

Em apenas 36 horas, nos dias 29 e 30 de setembro do ano passado, 600 bilhões de dólares foram queimados nas bolsas de valores em todo o mundo. “36 horas em setembro: o que aconteceu de errado?” – pergunta uma das mesas redondas do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), que acontece de 28 de janeiro a 1° de fevereiro, em Davos.

Entre os debatedores das causas da crise estará Daniel Kahneman, professor de Psicologia em Princeton (EUA) e pesquisador da sorte, autor da afirmação de que os investidores são incapazes de aprender com seus erros.

Não só a opinião de psicólogos é requisitada em Davos. Os médicos em economia deverão ser as estrelas do encontro. Pelo menos é o que insinua o presidente do WEF, Klaus Schwab.

Em entrevista ao jornal NZZ am Sonntag, ele comparou a crise a uma espécie de acidente de engavetamento na autoestrada da globalização, decorrente do excesso de endividamento do sistema financeiro.

“Os governos foram ao local do acidente, resgataram os feridos, estancaram suas hemorragias e os levaram aos hospitais”, compara Schwab. O papel do próximo WEF seria analisar cada paciente e ver como garantir a sua sobrevivência em longo prazo. Davos, com sua tradição como centro de sanatórios, é o lugar certo para a elite econômica se recuperar do choque.

Por outro lado, acrescenta Schwab, é preciso definir regras para que a autoestrada volte a ser utilizável e a coordenação dos participantes do trânsito funcione. “A busca de soluções para o futuro provavelmente é o motivo pelo qual Davos é tão atraente este ano.”

Normalmente, em torno de 25 chefes de governo participam do WEF. Mas este ano há 48 chefes de Estado e 200 membros de governos entre os mais de 2.500 inscritos no fórum – entre 600 e 700 dos EUA. Ainda não se sabe quem representará o governo norte-americano.

Como de costume, o governo suíço participa com o trio formado pelo presidente em 2009 e ministro das Finanças, Hans-Rudolf Merz, a ministra das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey, e a ministra da Economia, Doris Leuthard. O governo brasileiro será representado pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

Putin e o gás russo



Na abertura do evento, em meio à neve garantida de Davos, o primeiro-ministro e ex-presidente russo, Vladimir Putin, em sua primeira participação oficial no WEF, vai falar sobre um assunto quentíssimo: a crise do fornecimento de gás russo à Europa Ocidental. Se a Rússia fechar a torneira, os europeus congelam.

Mas o tema dominante, sem dúvida, será a busca de saídas para a crise, como indica o slogan do fórum Shaping the Post-Crisis World (modelar o mundo pós-crise). Schwab cita uma série de crises: uma cíclica, outra de inovação, “mas a pior é a crise de confiança” dos consumidores e dos empresários.

Em Davos 2009, representantes governamentais, dos setores econômico, acadêmico e da sociedade civil vão debater questões como a relação entre o Estado e o mercado, regulamentação e transparência (escândalo Madoff) e cooperação internacional.

A festa acabou



O encontro não oferecerá receitas prontas, no máximo, recomendações e perspectivas, como sempre ocorreu. Um dos grupos de destaque deverá ser o G20, composto pela União Européia e 19 países. “Cooperamos com o G20 para avançar no processo de superação da crise”, declarou Schwab ao NZZ AM Sonntag.

Uma crise que, em novembro passado, parecia atingir também o próprio WEF. Schwab afirmou na época que os banqueiros só vinham a Davos para participar de festas luxuosas e fechar negócios, e não para ouvir advertências de colegas ou especialistas.

A três semanas do início do encontro, o fórum prova que tem um sistema imunológico forte, como mostra o número recorde de participantes inscritos. A crise gerou fome de informação. Mesmo assim, o WEF 2009 promete ser diferente dos anos anteriores.

“O tempo de festa acabou. Vivemos num tempo de mais modéstia. Os jantares serão mais de trabalho. Porque realmente não há motivos para festejar”, diz Schwab.

swissinfo, Geraldo Hoffmann

O Fórum Econômico Mundial 2009 vai reunir mais de 2.500 participantes de 91 países – cerca de 75% são lideranças econômicas, entre elas, 1.170 CEOs das maiores empresas do mundo.

Estarão presentes também 219 lideranças do setor público, incluindo 40 chefes de Estado, 64 ministros e 30 representantes de organizações internacionais.

Além disso, estão inscritos 432 participantes não ligados à economia, entre eles, 32 representantes de organizações não governamentais, 225 líderes da mídia e 149 do meio acadêmico.

Paralelamente ao Fórum Econômico Mundial, acontece de 29 a 31 de janeiro, o Open Forum Davos, na escola de ensino médio da cidade.

O evento é organizado pela Federação Suíça das Igrejas Protestantes e pelo WEF. O público vai debater com representantes da sociedade civil, da política e da economia, entre outros temas, a crise financeira, justiça climática e suicídio assistido.

De 27 de janeiro a 1° de fevereiro acontece também o Fórum Social Mundial, em Belém. O evento que surgiu em oposição ao WEF, espera 80 mil participantes este ano. A Suíça participa com uma delegação de 50 pessoas.

Os principais temas serão ecologia, justiça climática, mundo do trabalho, direitos humanos, criminalização dos movimentos sociais e povos indígenas.

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