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Portugalidades vibram na frequência suíça

DJ de rádio no estúdio
O rádio como mídia continua vivo e pulsante: da Hora Lusitana à Portugalidade, Cristina Rodrigues mantém acesa a língua pátria no dial genebrino. Filipe Carvalho

A espontaneidade e acutilância comunicativa de Cristina Rodrigues demonstram de imediato que ser animadora de rádio é um lugar natural para si. Há cerca de nove anos que diariamente, entre as 19h00 e as 20h00, a locutora mantém no ar o programa em língua portuguesa Portugalidades, na Rádio Cité Genève.

Num final de tarde, a swissinfo.ch deslocou-se aos estúdios da rádio para conversar com a única locutora em português das rádios genebrinas. O nosso encontro terminou quando a música de abertura do programa Portugalidades foi para o ar.

A Genebra ilustrada

Cristina Rodrigues é oriunda da cidade da Póvoa de Varzim, próxima da cidade do Porto, e chegou a Genebra há cerca de 30 anos. Desses tempos a locutora recorda uma Suíça bastante diferente, tão distante que nem parece real, “era uma perseguição ao imigrante ilegal. Era assustador. Quem não estava legal não passava em alguns pontos [da cidade] porque estava sujeito [a ser deportado]. Eu vivi isso: as sirenes tocarem, as portas fecharem e a gente ter de apresentar passaportes e documentos”, no seu local de trabalho.

Com a mesma convicção acrescenta, “os que vêm agora são recebidos em berço de ouro. Embora a suíça não faça parte da UE, têm de reconhecer que um grande trabalho foi desenvolvido também pelos que já cá estavam”, realça a nossa entrevistada.

Mas os anos passaram e Cristina permaneceu na cidade genebrina, onde se sente em casa e “um elemento decorador do postal, desta linda paisagem em movimento, um postal vivo em que nós somos elementos participantes. Adoro Genebra, foi a cidade que escolhi para viver”, partilha sorridente e visivelmente satisfeita com essa imagem poética da cidade

Atualmente, a locutora divide o seu tempo entre as emissões e o trabalho como animadora social em lares de idosos. Tal como Cristina destaca, “ninguém trabalha como animadora a tempo inteiro em lares de idosos para evitar que se criem elos, embora seja inevitável. O trabalho de três pessoas é dividido por seis para que não tenhamos sobrecarga psicológica”.

As portugalidades que se difundem

Cristina Rodrigues iniciou-se na rádio através de um convite que lhe fizeram durante um evento que organizou em Genebra. “Talvez pela forma como me exprimo e a facilidade de comunicação, começaram a convidar-me para ir [para a rádio]. Começou com aquelas emissões banais dos discos pedidos e depois as coisas continuaram por aí. Juntamente com um grupo de amigos, formamos a rádio Alma Lusa. Está sediada em Gland, mas eu já não sou colaboradora”.

Devido à sua rede de relações, Cristina soube que o organismo regulador suíço para as comunicações OFCOM tinha exigido que a Rádio Cité Genève voltasse a abrir o microfone para as comunidades estrangeiras. Ora a notícia despertou em si a vontade de criar um programa de rádio em FM, permitindo dar continuidade à sua predileção pela comunicação.

“A vontade surge na ausência do que eu fui reparando, somos a maior comunidade estrangeira residente na área de Genebra, com cerca de 70 mil cidadãos inscritos no consulado português, ou seja, era mais do que justificativo que houvesse uma emissão de rádio em português”.

Durante cerca de 20 anos, teve lugar aos fins-de-semana uma emissão em português chamada a Hora Lusitana. Contudo, após uma restruturação interna na estação de rádio, o programa terminou e durante cerca de 5 anos não se ouviu o linguajar lusófono nas ondas FM.

Neste contexto, Cristina Rodrigues não se fez rogada e apresentou uma proposta ambiciosa à direção da estação. “Eles ficaram surpreendidos porque eu disse que só queria que esta emissão existisse se fosse todos os dias. Então, desde há 9 anos que o Portugalidades Link externotem lugar. De segunda a sexta-feira estamos aqui a falar português das 19h às 20h. Sempre em directo”.

As portugalidades em programação

O programa Portugalidades é emitido apenas para a cidade de Genebra. Para a sua realização é necessário um empenho considerável e a maioria do trabalho concentra-se em Cristina. “É um projeto voluntário bastante ousado, porque é muito trabalho, é uma hora de rádio todos os dias, em que temos convidados, assuntos específicos, divulgação de eventos e música. No primeiro momento nem fui questionada sobre o que iria ser [o programa]. Depois fui formatando a emissão conforme via a receptividade dos ouvintes”. Em suma, o Portugalidades procura sempre abordar temas que digam respeito aos emigrantes portugueses e lusófonos, recorrendo a temas de entretenimento quando há escassez de participantes.

Quando perguntamos a Cristina quais os temas preferidos dos ouvintes portugueses, prontamente nos responde, “o oculto, fado e futebol”. O primeiro tema surpreende-nos e pedimos que desenvolva. “Não tenho é colaboradores suficientes para fazer regularmente uma emissão dedicada a esse tema, mas sempre que consigo, tenho de meter aqui assistentes para atenderem as chamadas. 

Apenas passa a música da abertura e a música do fecho, não há espaço para mais música. É sempre pessoal a telefonar e a consultar a pessoa que está em estúdio. Às vezes são búzios, outras cartas. Em breve vem um convidado fazer leitura da aura e limpeza energética das ondas negativas”.

Ela sublinha que um dos objetivos principais do programa é manter a comunidade portuguesa informada sobre o que está a acontecer em Portugal. Exemplifica isso com o facto de ter realizado uma entrevista ao chefe de cozinha português José Avillez e de atores e personalidades irem ao seu programa quando se deslocam a Genebra, ou mesmo de tocar música portuguesa atual. 

“Eu quero que as pessoas cheguem lá em baixo [Portugal] e digam ‘eu já conheço’, e possam dizer que não estão longe porque têm em Genebra uma emissão de categoria que os atualiza. Que as pessoas estejam informadas e pertinho de Portugal, estando longe”.

As colaborações no programa

O Portugalidades abrange um diverso leque de temáticas graças à participação de pessoas especializadas em cada uma delas. O professor de história apossentado Reto Monico tem uma rubrica quinzenal sobre história de Portugal e história local suíça, Falando de História. Quinzenalmente também, Mariana Mendes lê contos infantis e entrevista autores e ilustradores na rubrica As Estórias da Mariana. 

Sandra Pernet, que é presidente da concelhia de Lausanne do partido democrata cristão PDC, realiza o Alerta Família. O segmento do fado fica entregue a Mariana Correia no Especial Fado. Também há a colaboração do padre Miguel, que é o pároco principal da comunidade católica de língua portuguesa em Genebra, com a Emissão Espiritual. Pontualmente, Licínio Pascoal participa com as temáticas esotéricas em As Leituras de Energias.

A língua portuguesa ainda tem espaço na FM

Cristina Rodrigues diz-nos que enquanto ela tiver disponibilidade de conjugar a vida profissional com o programa, a emissão vai se manter no ar. No entanto, é a própria que desabafa, “gostaria que o Portugalidades fosse mais reconhecido pela nossa comunidade, que fosse mais popular, que fosse mais escutado. Isto dá muito trabalho, são várias pessoas aqui empenhadas e que também têm o seu mérito. Não sou apenas eu o Portugalidades, são todos os colaboradores”. Todo o trabalho realizado por cada pessoa que entrega a sua voz e conhecimento ao programa é voluntário.

O esforço de manter a emissão do Portugalidades irá continuar no próximo ano. O formato será mantido, “porque foram os parâmetros que funcionaram, é a confiança total que eu tenho, que me deram. Por tanto, vai se mantendo”. A equipa que participa é reduzida mas permite ter confiança de que o programa vai continuar a existir. Por isso, a comunidade portuguesa e lusófona de Genebra vai continuar informada sobre os eventos genebrinos e as novidades vindas do retângulo luso.  

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