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Um sucesso diplomático com ceticismo

O ministro das Relações Exteriores iraniano, Mohammad Javad Zarif (segundo da esquerda), é cumprimentado por parlamentares do país após acordo da ONU para o programa nuclear iraniano. Keystone

"Um dia histórico", "progresso", "o início de uma nova era". Os editorialistas suíços saudaram a entrada em vigor do acordo sobre o nuclear iraniano e o levantamento das sanções contra o regime de Teerã. No entanto, eles alertam contra a fragilidade deste acordo.

A maioria dos jornais suíços não cede à euforia. O “La Liberté”, de Friburgo, evoca “uma construção hipersensível”. “O levantamento das sanções contra Teerã é antes de tudo uma aposta de um homem, o presidente Rohani.”

O jornal identifica duas condições para o sucesso do presidente iraniano. Por um lado, “ele precisa de resultados rápidos, contáveis, para o horizonte de meses em vez de anos”. Por outro lado, isso depende da “posição futura dos Estados Unidos”. “Mesmo se os democratas saírem vitoriosos na eleição presidencial de novembro, os republicanos, que dominam o Congresso, continuarão fazendo pressão nas disputas entre Teerã e Washington.”

De acordo com o La Liberté, o Irã pode se apoiar em uma força: “sua modernidade e sua capacidade de se adaptar.” “Diante das monarquias petrolíferas esclerosadas, Teerã tem demonstrado uma habilidade pragmática que se pensava incompatível com o regime do legado do Aiatolá Khomeini.”

Sucesso eleitoral

A imprensa suíça também lembra que o parceiro iraniano permanece controverso. “Ao levantar as sanções internacionais, é como se alguém tivesse removido a camisa de força do regime iraniano. Depois de anos de isolamento, o país está de volta nos mercados internacionais (…). No entanto, ainda está longe o retorno de Teerã a um sistema de Estado de direito”, diz o “Neue Zürcher Zeitung” (NZZ), de Zurique.

O diário também duvida da boa fé do Irã sobre a política atômica. “Não há nenhum vestígio em Teerã de uma mudança radical de percepção. O regime deixa a porta aberta para voltar dentro de uma década.”

O NZZ acredita que o sucesso das negociações se baseia principalmente em um cálculo político: “O Irã pode esperar agora que as receitas do petróleo aumentem e recuperar os 100 bilhões de dólares que foram bloqueados nos Estados Unidos. O regime garantiu assim um sucesso nas urnas em fevereiro próximo.”

Relações complexas

O editorial conjunto do “Bund” e do “Tages Anzeiger” também observa que Assan Rohani marcou pontos: “o presidente Rohani cumpriu suas promessas eleitorais e pode esperar que a força moderada liderada por ele saia mais forte nas eleições parlamentares do final fevereiro.”

No entanto, os jornais lembram que o Irã mantém algumas áreas cinzentas: “O acordo não altera o fato de que o Irã não tenha feito nada até agora na Síria para forçar Bashar al-Assad a um compromisso (…). No Irã, os divergentes são condenados a penas de prisão e chicotados. Além disso, o regime ainda executa mais pessoas do que em qualquer país da região.”

Se ambos notam que “os intercâmbios econômicos e culturais podem ajudar a mudar”, eles também salientam que “não devemos esperar que o regime de Teerã abandone suas crenças ideológicas.”

“A hora chegou”

Esta também é a conclusão do NZZ, que salienta que “o acordo de Viena se baseia na esperanças de que o Irã irá reduzir sua orientação islâmica e antiocidental.” Um sucesso que não é garantido, segundo o diário.

O editorialista do “Neue Luzerner Zeitung” se mostra mais animado com a esperança de que o acordo conduza a uma abertura democrática do Irã. “A sociedade iraniana é mais desenvolvida do que todos seus rivais árabes. A população é educada, instruída e disciplinada. Os jovens iranianos estão entre os mais talentosos da região. Eles sabem o que querem. E que a hora deles chegou.”

Um sucesso para a Suíça

A imprensa suíça, em particular a de língua francesa, destaca o papel da diplomacia suíça nos bons ofícios entre Washington e Teerã, que resultou neste fim de semana na liberação de três prisioneiros norte-americanos.

O “LeTemps” afirma ter visto o trabalho “do melhor da Suíça”. “No momento em que a Confederação Suíça vem sendo desafiada nos últimos anos por outros países e plataformas no contexto das negociações de paz, ela volta com força em uma das questões mais espinhosas da agenda internacional desde o final da década de 1970.”

O otimismo corre solto nas colunas do Le Temps: “isso nos leva a um futuro melhor, para uma maior estabilidade no mundo. Isso demonstra que um pequeno país tem um papel a desempenhar, embora, neste caso, desempenhe o papel de facilitador e não pode pretender mais do que isso”.

“Para quem ainda tinha dúvidas, a mediação suíça continua bem viva”, proclama o “Tribune de Genève”. O jornal encontrou a evidência: a chegada no aeroporto de Genebra dos três cidadãos americanos libertados no sábado pelo Irã.

“Sinal de que há sempre uma via para a diplomacia. E que o papel dos países mediadores é mais do que nunca indispensável”, analisa o La Tribune de Genève. No entanto, o jornal acrescenta uma nota de cautela: “Obviamente, os esforços são frustrantes. Claro, entre Washington e Teerã, ainda não é a paz. Mas agora, as coisas mudaram.”

Adaptação: Fernando Hirschy

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