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Peixes e hortaliças crescem nos tetos de Basileia

O jovem agricultor urbano Mark Durno em sua "cobertura agrícola", instalada em um teto de um armazém industrial. swissinfo.ch

Fazendas urbanas foram surgindo ao redor do mundo e agora estão se tornando um negócio sério. A tendência está só começando na Suíça, mas há potencial, como revela uma visita à empresa suíça Urban Farmers e sua “fazendinha de telhado” em Basileia.

Os três jovens agricultores acabam de receber uma remessa de sementes e ração para peixes que eles plantam e criam em uma estufa de 250 metros quadrados localizada em uma zona industrial da cidade.

Desde janeiro, a pequena equipe começou a colher os frutos de seu trabalho: peixes e uma variedade de saladas, legumes e ervas cultivadas no telhado do depósito LokDepot UF001 e entregues a cinco restaurantes da região, de bicicleta.

A pequena spin-off da Universidade de Ciências Aplicadas de Zurique usa uma técnica chamada “aquaponia”, a combinação de aquicultura (criação de peixes) e hidroponia (cultivo de plantas fora do solo, na água), na qual os peixes fertilizam as plantas com os seus resíduos, enquanto as raízes das plantas extraem da água os nutrientes que elas precisam para crescer, deixando a água limpa para os peixes.

Em uma sala separada na extremidade da estufa, quatro grandes tanques repletos de tilápias respingam água para todos os lados. “Esses peixinhos vão estar em um prato até o final do mês”, brinca o técnico da Urban Farmers, Mark Durno, enquanto joga um punhado de ração orgânica na água.

Uma rede de tubos corre pelas paredes dos tanques. Num circuito fechado simbiótico, a água dos peixes, rica em nutrientes, é bombeada continuamente para a estufa ao lado onde alimenta fileiras de vegetais plantados em jangadas de poliestireno que flutuam em grandes mesas metálicas planas ou em longos canais de plástico.

A água limpa volta então para os tanques dos peixes. Isso tudo é controlado por sensores, computadores e outros componentes de alta tecnologia para garantir a utilização adequada da energia, luz, ventilação e água.

“Em termos de estufa esta aqui é realmente um Rolls Royce”, sorri Durno.

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Do produtor direto ao consumidor

O projeto suíço faz parte de um movimento crescente por produtos sustentáveis, produzidos localmente nas cidades.

Estes variam entre loteamentos urbanos e grupos comunitários sem fins lucrativos, como as famílias e amigos que cultivam hortaliças no local do estádio demolido Hardturm, a antiga casa do time de futebol de Zurique Grasshoppers FC, e os profissionais que aproveitam os tetos dos prédios para cultivar com técnicas ultramodernas de plantio.

Os Estados Unidos, especialmente Nova York, são fonte de inspiração para muitos empreendedores, com empresas como a Gotham Greens e a Brooklyn Grange, que estão transformando os tetos da cidade em verdadeiras “fazendas aéreas”.

Em uma escala maior, o grupo Bright Farms assinou acordos com seis grandes cadeias de varejo dos Estados Unidos para o desenvolvimento de modernas estufas de teto acima ou perto dos supermercados.

A Food Urbanism Initiative (FUI) tem por objetivo analisar o impacto geral dos alimentos no design urbano, estudando o potencial de novas estratégias de arquitetura e paisagismo para a integração da produção, processamento, distribuição e consumo de alimentos nas cidades suíças.

Em uma pesquisa realizada com 2.500 pessoas em Lausanne (oeste), mais de 50% dos entrevistados disseram que eram favoráveis à produção urbana de alimentos. Elas também estariam prontas a pagar mais por itens como tomate urbanos.

As pessoas também se mostraram dispostas a gastar mais tempo na produção amadora de alimentos se for facilitado o acesso à terra, ao conhecimento e à manutenção.

A FUI pretende lançar pequenos projetos pilotos de “fazendas urbanas” em terrenos baldios de Lausanne e testar um grande espaço (1 a 6 hectares) no centro da cidade que serviria como espaço público-privado para a produção de alimentos.

A Iniciativa FUI faz parte do Fundo Nacional para a Pesquisa Científica da Suíça, no âmbito do Programa Nacional de Pesquisa PNR 65 “Nova Qualidade Urbana”.

Cobertura agrícola

Em Basileia (noroeste), os clientes da Urban Farmers também parecem contentes.

“É um pouco mais caro, mas vale a pena porque são produtos de alta qualidade. A alface deles é muito melhor do que a que você encontra no supermercado”, conta Markus Himpsl, chef do restaurante Schmatz, próximo dali. “É uma ideia muito boa para oferecer produtos frescos na cidade”.

Os agricultores urbanos esperam alcançar a plena capacidade agora no mês de abril e têm como objetivo produzir cinco toneladas de legumes e hortaliças e 800 kg de peixe por ano.

Mas com apenas 250 metros quadrados, a “cobertura agrícola” funciona, no momento, mais como vitrine para a tecnologia e as técnicas usadas, enquanto a empresa se prepara para coisas maiores.

Além de cuidar de suas plantas e alimentar os peixes, a equipe vem apresentando seu trabalho aos agricultores interessados, atacadistas, donos de restaurantes e chefs de todo a região. E eles já estão planejando uma UF002, uma cobertura agrícola de 1.000 metros – o ponto em que a tecnologia se torna comercialmente viável – para um comerciante suíço, que deverá estar operacional no final deste ano.

Projeto para o futuro

Segundo a Urban Farmers, existe um potencial enorme em uma cidade como Basileia, que tem cerca de dois milhões de metros quadrados de telhados.

Mas não é tão fácil, afirma Craig Verzone, arquiteto da Food Urbanism Initiative (ver box) que analisa a interação entre o ambiente urbano e a produção local de alimentos: “Muitos edifícios não são capazes de suportar a carga extra de uma estufa e é muito complicado renová-los. No futuro, veremos essas instalações nos edifícios novos que serão preparados para isso.”

Enquanto isso, a Urban Farmers procura simplificar ainda mais o controle de sua “cobertura agrícola”, por exemplo, para poder verificar a temperatura da água dos peixes pelo smartphone. Assim que o sistema provar sua eficiência, o objetivo a longo prazo será fechar acordos com os supermercados para instalar estufas de aquaponia em seus telhados.

Adaptação: Fernando Hirschy

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