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ONG suíça utiliza arte para melhorar a vida em Moçambique

Ein Gruppenbild von jungen Menschen, die vor einem Fenster stehen.
Acesso à água potável é o principal tema dos jovens que atuam na ong suíça. ZVG

Entusiasmar em vez de educar: diversão, eventos e amizades são os principais instrumentos utilizados por uma ONG suíça para melhorar a vida de populações carentes em Moçambique. Uma abordagem que já traz seus primeiros frutos.

Ajudar o desenvolvimento de uma forma diferente: em vez de europeus irem a uma aldeia africana, construírem poços e partirem novamente, a ONG suíça “Viva com ÁguaLink externo” celebra a água potável como uma festa exuberante, com música e arte.

Nas zonas rurais de Moçambique, dois terços das aldeias não têm acesso a água potável. Muitas vezes existe falta de conhecimento sobre saneamento e higiene, que são essenciais para a nutrição e a saúde.

Então tiveream a ideia de organizar concertos, arte de rua e futebol de praia para lidar com esses temas de forma lúdica. Afinal, nesse país da África Oriental, com uma população de 30 milhões de habitantes, cerca de 65% têm menos de 25 anos. Em vez de ensino frontal ou publicações, os suíços adotam uma abordagem voltada diretamente para os grupos interessados.

“Me convenci imediatamente que essa abordagem é muito diferente das outras”, afirma Biché Carimo. Esse estudante moçambicano de 22 anos participou pela primeira vez de um festival organizado em Maputo, em 2014. Três anos depois já estava apoiando o grupo. “Os suíços têm uma mensagem clara, que é disseminada através do entretenimento, união, diversão e arte. Outras ONGs vão às escolas e fazem longos discursos, que não interessam a ninguém”, diz.

Conteúdo externo

“Viva com Água” segue esta receita há dez anos. O grupo suíço da ONG fundada em Hamburgo (Alemanha) foi criado em 2009. Gregor Anderhub participa do projeto desde seu início. O suíço de 33 anos nasceu em Lucerna e diz que o foco do seu trabalho é a diversão. Em vez de cooperação, formam-se amizades que, graças às redes sociais, continuam a existir mesmo depois que os cooperantes retornam aos seus países.

O compromisso social como um estilo de vida moderno parece ter causado impressão: um grupo, na maioria adultos, quer criar a sua própria organização em Maputo ainda neste ano. É por isso que a ONG convidou dois representantes, o estudante Biché Carimo e a gerente de projetos Helia Chamuel, para uma formação na Europa.

Olhar atento

Tanto na Alemanha como na Suíça, Carimo e Chamuel participaram das reuniões e eventos da ONG para ver como são planejados os festivais, as visitas às escolas e os torneios de futebol. Nos workshops aprenderam sobre estratégias de formação de equipes e gestão de voluntários.

“Viva com Água” organiza também noites culturais com música e arte na Suíça. Seus membros são conhecidos na Suíça por estar sempre presente nas festas solicitando aos presentes para doar o copo reutilizável (que geralmente é fornecido com o depósito de um ou dois francos, para obrigar que a pessoa devolva aos organizadores): ao doar o copo, o depósito é doado para projetos de água em Moçambique e Nepal.

No entanto, as celebrações por si só não são suficientes para garantir às populações o acesso à água potável. Por esta razão, a Viva com Água apoia o grupo caritativo Helvetas na construção infraestruturas locais como bombas de água e tanques. Nos últimos dez anos, mais de 150 mil pessoas tiveram acesso à água graças ao projeto, diz Anderhub. Só neste ano, a ONG já arrecadou mais de 85 mil francos suíços, em festivais na Suíça.

Zwei Frauen stehen lachend in einem Kreis von Menschen.
Os jovens ativistas da ong “Viva com Água” utilizam a arte para transmitir a sua mensagem nos países onde atuam. ZVG

Estratégias que não podem ser exportadas

“Isso não funcionaria em Moçambique já que aqui não temos festivais sem fins lucrativos”, explica Carimo. Por conseguinte, os projetos da Viva com Água Moçambique serão diferentes dos realizados na Suíça.

Em vez de seguir o conceito clássico de ajudar as pessoas a se ajudarem a si próprias, a Viva com Água quer dar aos ativistas locais a maior liberdade possível: “Não queremos seguir a ideia clássica de desenvolvimento”, diz Anderhub. “Muitas vezes nossas ideias não correspondem à realidade local. Assim queremos dar a liberdade de projetar às pessoas envolvidas e promover abordagens locais e inovadoras.”

A Semana da Água deste ano, um festival sobre o tema da água potável, foi já em grande parte organizada de forma independente por uma equipe de cerca de 15 voluntários de Moçambique. Os voluntários suíços apenas prestaram apoio de base. Helia Chamuel também vê uma vantagem nisso: “O uso correto da água é uma questão sensível, especialmente quando se trata de higiene pessoal”, explica a gerente de projetos. “Viva com Água concentra-se na alegria, fala dela como uma situação e não como um problema. Isso ajuda.”

No entanto, o seu trabalho em Moçambique não será fácil: “Encontrar voluntários é um grande desafio. Esse conceito não existe em Moçambique. Quando falamos aos amigos sobre a ONG e perguntamos se eles gostaram de participar, a primeira pergunta é sempre: “Quanto irei ganhar?”, diz Chamuel. “Depois temos de explicar que, embora não se receba dinheiro, a pessoa sente que está fazendo algo útil”. No momento, 15 pessoas participam das atividades.

“Vamos continuar apoiando”

O objetivo da ONG em Moçambique é de apoiar o grupo local e permitir que desenvolvam seus próprios projetos e eventos. No entanto, a Viva com Água Suíça continuará a recolher doações para Moçambique. “A sensibilização local é fundamental para o nosso trabalho. Se eles também puderem arrecadar suas próprias doações, vale a pena apoiar”, diz Anderhub. “Mas isto pode ser difícil e demorar algum tempo. Continuaremos a apoiá-los em qualquer caso.”

Cooperação

A cooperação suíça para o desenvolvimento em Moçambique tem três prioridades: desenvolvimento econômico, saúde e governança. A Suíça apoia projetos locais, principalmente nas três províncias do norte: Cabo Delgado, Niassa e Nampula.  A nível nacional, ela está ativamente empenhada no diálogo político com o objetivo de combater a pobreza, e promover a transição política e econômica.

Moçambique é um dos países mais pobres do mundo. Ainda hoje, mais de metade da população vive abaixo do limiar da pobreza. A dependência do orçamento público da ajuda externa permanece elevada. Mais de 80% da população vive da agricultura familiar, e o país é particularmente susceptível a catástrofes naturais. Além disso, há a epidemia de SIDA, que dificulta o progresso do desenvolvimento. Por outro lado, Moçambique espera atualmente uma forte expansão econômica no setor de matérias-primas. O elevado crescimento econômico, de mais de 8% nos últimos anos, caiu acentuadamente em 2016 (3,7%) devido à crise da dívida. Moçambique será, no entanto, uma das economias de crescimento mais rápido da África, a longo prazo.

A Suíça tem atuado em Moçambique desde 1979. Na nova estratégia de cooperação 2017 – 2020, o compromisso da Suíça está concentrado geograficamente em três províncias do norte, e tematicamente em boa governança, saúde e desenvolvimento econômico. A partir de 2016, a Suíça passou a estar cada vez mais envolvida de forma financeira, logística e com expertise técnica no processo de paz e, em 2017, assumiu a presidência do grupo de contato internacional com o país. A Suíça também prestou ajuda humanitária de forma rápida e abrangente após os dois ciclones de 2019, com ações diretas no campo do abastecimento de água potável.

Fonte: Ministério suíço das Relações ExterioresLink externo (EDA)

Adaptação: Flávia C. Nepomuceno dos Santos

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