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O mistério da morte de abelhas em Portugal

Há perdas de colmeias, mas estudos estão em curso. Filipa Soares, swissinfo.ch

Há relatos de perdas de abelhas, mas não existem estudos sobre a Síndrome do Colapso das Colónias em Portugal. A Federação Nacional dos Apicultores de Portugal (FNAP) estima que os criadores de abelhas não estejam a conseguir repor metade das perdas dos efectivos que, normalmente, acontecem na época de pousio e que costumam rondar os 20%. Mas nada garante que este problema esteja relacionado com o fenómeno.

A FNAP promoveu uma investigação que pode ajudar a compreender a síndrome. Executado pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Universidade de Évora e pelo Laboratório Nacional de Investigação Veterinária, sob a coordenação científica do Centro de Investigação de Montanha do Instituto Politécnico de Bragança, o projecto Portugal, Apicultura e Nosema (PAN) está a traçar o perfil epidemiológico actual da nosemose no território português.

A coordenadora do projecto, Sância Pires, revelou à swissinfo.ch o que é possível extrair, para já, dos resultados intermédios:  “Foram detectadas amostras com resultados positivos, ou seja, foi identificada a presença de esporos de nosema em todos os distritos do país, o que permite sugerir que, neste momento, a única espécie causadora de nosemose em Portugal Continental é o nosema ceranae”. Trata-se de um agente que vários investigadores relacionam com a Síndrome do Colapso das Colónias.

Sância Pires diz que ainda é cedo para tirar conclusões sobre uma eventual relação de causalidade entre o nosema ceranane e o fenómeno, uma vez que até à data não há evidências científicas da existência da síndrome em Portugal. Decorridos dois anos de investigação, continua em aberto a questão:  “O nosema ceranae causa a Síndrome do Colapso das Colónias isoladamente ou em combinação sinergética com outros factores, tais como outras doenças, doenças do habitat ou insuficiência dos recursos alimentares.”

Os dados resultantes da aplicação do questionário, que seguiu o modelo utilizado pela rede internacional de cientistas COLOSS e que aborda, entre outras questões, a mortalidade das colónias, ainda “vão ser submetidos a um estudo estatístico, que permitirá, posteriormente, revelar as evidências científicas que resultam da sua interpretação”.

“Não sei por que razão nos andam a enganar”

“A grande dificuldade é não ter dados. Nós sabemos que há perdas. Não sei por que razão é que nos andam a enganar”, afirma o presidente da FNAP. Manuel Gonçalves explica que os poucos dados a que tem acesso apontam para uma manutenção do efectivo apícola a nível nacional nos últimos nove anos, apesar de ter havido “mais pessoas a entrarem na fileira” e de “todos os outros apicultores terem crescido, porque o mercado do mel está favorável”.

Para além de promover a investigação, a FNAP vai fazendo “mais pressão sobre a tutela do que trabalho efectivo, porque no aspecto sanitário, em Portugal, não é possível fazer nada  sem autorização, acompanhamento e a validação da Direcção-Geral de Veterinária”. E dá um exemplo: “São feitas colheitas trimestrais pelas organizações de produtores junto dos apicultores, para ver a evolução em termos de doenças e de problemas sanitários de desaparecimento das abelhas, mas nós não conseguimos avaliar nada, uma vez que as perdas não são oficialmente contabilizadas”.

“Não tenho sido afectado por esse fenómeno”

José Miranda de Oliveira tem conhecimento da existência da Síndrome do Colapso das Colónias, mas garante que o fenómeno ainda não bateu à sua porta. Este apaixonado pela apicultura, que tem colmeias desde pequeno, “mas em maior quantidade há cerca de 40 anos”, mostrou à swissinfo.ch, que mesmo nesta altura, “em que o número de abelhas é já bastante diminuto, a criação está saudável, as colmeias estão bem povoadas”.

Apesar de referir que não tem habilitações técnico-científicas para o fazer, Oliveira dá a sua opinião sobre o que está por trás do desaparecimento das abelhas: “É essencialmente derivado da introdução de produtos agressivos nas colmeias. Para eliminar a varroa temos de utilizar acaricidas leves e que não tenham outras substâncias. Tenho conhecimento que há apicultores que usam remédio do escaravelho”.

O apicultor acrescenta que “as próprias ceras são contaminadas”, pelo que é importante “meter, todos os anos, uns quadros novos nos ninhos para que haja mais saúde na colónia”.

Há investigadores que acreditam que na origem da síndrome está uma sinergia entre vários factores, como a varroa, má gestão, má nutrição e pesticidas adicionais.

Segundo dados fornecidos por organizações de produtores, o número de cortiços/colmeias existentes em Portugal, em Junho de 2012, aproximou-se dos 431 mil, face a quase 405 mil em 2006.

A quantidade de apiários também aumentou de quase 23 mil há seis anos para mais de 26 mil no passado mês de Junho.  A swissinfo.ch solicitou dados sobre o número de apicultores ao Ministério da Agricultura, mas não foram disponibilizados.

A nosemose é provocada pelo desenvolvimento do microsporídeo nosema apis ou nosema ceranae nas células da mucosa do intestino médio de abelhas adultas.

Trata-se de umas das doenças mais prevalentes e com maior impacto financeiro na apicultura.

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