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Tinguely e o cinetismo na América Latina

Iris Clert, Jean Tinguely e Marcel Duchamp em uma exposição em Paris (1959) swissinfo.ch

A euforia dos anos 20 foi intensa nas artes e na cultura, mas a devastação provocada pela Segunda Guerra Mundial alterou os rumos da produção artística no continente europeu e também na América Latina.

A arte cinética, uma corrente de artes plásticas que explora efeitos visuais por meio de movimentos físicos ou ilusão de ótica, teve o escultor Jean Tinguely (Friburgo, 1925 -1991) como um de seus principais representantes.

O cinetismo foi apresentado ao público inicialmente em Paris, em 1955, em uma exposição chamada “O movimento”, na galeria Denise René, uma das maiores galeristas do século XX. Dela participaram Tinguely, Vasarely, Jesus Soto e Yaacov Agam, entre outros.

Avanços – Enquanto isso, na América Latina dos anos 50 fortalecia-se a ideia do modernismo. No Brasil, Juscelino Kubitschek, presidente entre 1956 e 1961, anunciava o crescimento econômico e a construção de Brasília.

“Nessa época, muitos artistas latino-americanos foram para Paris. Queriam trocar ideias com artistas europeus”, conta o professor da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Felipe Scovino. “Eles queriam se aproximar do primeiro mundo”, completa.

A arte cinética produzida por esses artística mostrava a busca pelo conhecimento e pelo avanço do meio artístico entre os anos 50 e 60. O debate entre os artistas incluía a relação entre a arte e a ciência, e estimulava a participação do espectador na obra de arte.

Nos anos 60 o movimento tomou força graças às exposições na Suíça, na Holanda e na Iugoslávia, entre outros centros de vanguarda da época. Nessa época ficou conhecida a escultura apresentada por Tinguely em Nova Iorque, que se autodestruiu.

Parafernalha 

O cinetismo foi praticamente contemporâneo na Europa e na América Latina, principalmente no Brasil, Argentina e Venezuela. Segundo Ana Paula Nascimento, curadora de exposições recentes sobre o tema, é possível perceber as relações entre os trabalhos de Tinguely e do brasileiro Abraham Palatnik, e de Tinguely com o venezuelano Alejandro Otero.

“Palatnik realiza, já na década de 50 os Aparelhos cine cromáticos, caixas com uma das faces translúcidas que possuem dispositivos mecânicos que ligam e desligam lâmpadas coloridas em sequências preestabelecidas”, explica. “Otero, a partir da década de 70 e da experiência de estudo e trabalho no MIT (Massachusetts Intitute of Technology) desenvolveu as chamadas esculturas cívicas, pesquisando com afinco em equipes multidisciplinares as relações entre arte e ciência”, completa Ana Paula.

Para ela, o trabalho de Tinguely tem um caráter mais anárquico, se comparados ao dos latinos. “O cinetismo, assim como movimentos de cunho construtivo no Brasil e na Venezuela, tem forte ligação com uma modernidade em expansão, via arquitetura, desenho industrial e artes visuais, a fim de diminuir as distâncias entre América Latina e Europa e Estados Unidos”, acrescenta Ana Paula.

Bichos 

Para o professor Felipe Scovino a leitura individual do cinetismo para cada artista é diversa. “Apesar de serem contemporâneos, as intenções dos artistas cinéticos eram bem diferentes”, conta. “Palatnik viu uma possibilidade de cinetismo na pintura, Lygia Clark, na escultura, com os Bichos”, completa. “Bichos” são esculturas metálicas articuláveis por meio da participação do observador. A série consagrou a escultora na VI Bienal de São Paulo, em 1961.   

No Brasil a arte cinética é considerada um desdobramento da arte construtiva, conforme a interpretação da curadora. “Daí a maior parte de seus expoentes terem uma pesquisa muito mais ligada às ambiguidades geradas pela cor, ou seja, como a cor ‘vibra’ no espaço, e como estes fenômenos são usufruídos no corpo do espectador.”

O escultor Tinguely foi um representante da arte cinética na Europa. Segundo a curadora Ana Paula Nascimento, no Brasil, os principais representantes do movimento são Abraham Palatnik (1928), Almir Mavignier (1925), Ivan Serpa (1923-1973), Luiz Sacilotto (1924-2003) e Lothar Charoux (1912-1987), por exemplo. Alguns críticos, como Guy Brett também reconhecem característica do cinetismo nos trabalhos de Sérgio Camargo (1930-1990), Lygia Clark (1920-1988) e Mira Schendel (1919-1988).

Todavia, o cinetismo no Brasil tem relações mais fortes com a questão das experiências ópticas, ou seja, as sensações de movimento pela via da relação das cores e formas no plano bidimensional – entre o concretismo e a pop art.

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