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Associações lusófonas apóiam imigrantes em várias áreas

Sede da Associação de Trabalhadores Portugueses em La Chaux-de-Fonds. swissinfo.ch

A experiência de imigrar pressupõe dificuldades com o idioma e com a compreensão do sistema político, administrativo, jurídico e de saúde do país estrangeiro

Para lutar contra os percalços da adaptação e alcançar um estágio de integração satisfatório os imigrantes lusófonos entraram para o movimento associativo que teve sua maior expressão no final dos anos 80.

Hoje, o número de grupos e associações na Suíça ainda é grande. Entre os serviços oferecidos estão eventos culturais, exposições de arte, serviços de tradução, material informativo em forma de jornais, boletins ou páginas na Internet, seminários, cursos de idiomas e respostas para qualquer tipo de pergunta.

Como o trabalho é quase sempre voluntário, os diretores das associações e os encarregados por diversas tarefas mudam freqüentemente, com algumas exceções. Alguns grupos cobram uma cota anual de seus associados, outros são grátis.

Pergunte à Irene

A jornalista brasileira Irene Zwetsch, na Suíça há dez anos, é integrante do Centro de Integração e Apoio CIGA – Brasil, na Basiléia. O grupo já chegou a manter uma pequena creche com financiamento do governo local, mas a demanda por outros serviços mudou o rumo das atividades do CIGA.

“Atualmente fazemos uma festa junina, bazar de natal, sessões de cinema, caminhadas e palestras”, conta a jornalista que edita bimestralmente o boletim CIGA- Informando. Além disso, Irene e suas companheiras de trabalho voluntário procuram ajudar imigrantes no que podem. “Minha casa tem cinco linhas telefônicas e as pessoas ligam porque têm dúvidas sobre os assuntos mais variados”, conta.

Quando não é possível ajudar diretamente, o CIGA procura encaminhar os casos mais complicados às autoridades competentes. “O importante é poder dar alguma explicação sobre como as coisas funcionam “, completa Irene.

Ela e representantes de outros grupos de brasileiros se reuniram com o intuito de formar o Conselho Brasileiro na Suíça, um órgão que represente a comunidade brasileira no país helvético e sirva como referência para a comunidade brasileira. (ver matéria sobre Conselho).

Língua e cultura

Também com representação no Conselho Brasileiro, na região de Genebra atua o grupo Raízes, liderados por Beatriz de Candolle, que também é deputada estadual e membro do executivo comuna em que reside, Chêne-Bourg, no Cantão de Genebra. “Organizamos um curso de português, língua e cultura brasileira”, conta.

“Os alunos que freqüentam as aulas têm as avaliações incluídas no histórico escolar suíço”, explica Beatriz, que conta com subvenção do governo federal da Suíça para pagar os professores. Fora os cursos de português, o Raízes conta com uma biblioteca de dois mil livros e organiza festas para arrecadar dinheiro para outras atividades.

De modo similar funciona a Associação Brasileira de Educação e Cultura (ABEC), que tem sede em Winterthur, no cantão de Zurique, e é presidida pela brasileira Arlete Baumann.

“Atendemos crianças entre 8 e 15 anos, principalmente nos cantões de Zurique e Berna”, diz Arlete, que faz parte da equipe cuja principal atividade é o ensino da língua portuguesa e da cultura brasileira. “Em algumas localidades há cursos de educação infantil a partir de quatro anos”, completa. “O importante para nós é que as crianças se integrem bem aqui, mas não esqueçam suas origens”, afirma.

Em Zurique, funciona ainda o Centro Brasileiro de Ação Cultural (Cebrac). Além de biblioteca e coleção de DVDs, as voluntárias do grupo atendem os brasileiros na área de assistência social. Elas ajudam no preenchimento de formulários, redação de cartas e encaminham as pessoas de acordo com as necessidades que apresentam, segundo Nilce Cunha, integrante do Cebrac.

Necessidade de falar

A vontade de ajudar outras pessoas foi o que moveu também a formação de grupos como o Equilíbrio, da Turgóvia, e o Atitude, de Berna. “Percebemos que os brasileiros que encontrávamos tinham muita vontade de falar sobre a experiência na Suíça”, conta Patrícia Negrão, do Equilíbrio.

Durante um ano, com o financiamento da Comissão Federal dos Estrangeiros (EKA –sigla em alemão), o grupo organizou palestras sobre temas como política suíça, e bilingüismo, sistema escolar, entre outros, para a comunidade brasileira na Suíça.

“Também ajudamos nos casos onde há problemas familiares, encaminhando as pessoas com problema às instituições especializadas”, diz. Segundo Patrícia, o número de participantes nos eventos só tem crescido.

Em Berna, funciona o grupo Atitude que mantém representação no Conselho Brasileiro, encontros mensais, palestras, um programa de rádio, chamado “Espaço Brasil”, e o “Ponto de Encontro”, organizado por Deborah Biermann, Orçou Wigert e Anita Ettli.

O “ponto” é aberto semanalmente para quem fala português, quer trocar experiências, informações ou simplesmente reunir-se com os compatriotas. O Espaço Brasil, produzido e apresentado em português por Andréa da Rocha vai ao ar a cada quatro semanas. O programa conta com informações sobre os eventos para a comunidade brasileira, entrevistas e notícias sobre integração, entre outras coisas.

A comunidade brasileira normalmente é aberta a lusófonos de outros países, mas a comunidade portuguesa também conta com associações próprias. Porém, no movimento associativo é comum que alguns grupos funcionem durante um período e depois sejam desativados ou mudem o tipo de atividade.

Comunidade portuguesa

Como objetivo de valorizar a comunidade portuguesa na Suíça, o professor português do Instituto de Geografia da Universidade de Lausanne, Antonio da Cunha, preside a Federação das Associações Portuguesas da Suíça. Entre e as realizações do grupo estão eventos culturais como exposições de artes plásticas, e apresentação de peças de teatro e leituras de poesia. “Também queremos promover as atividades de integração dos portugueses na Suíça”, diz o professor. A “Federação”, que trabalha conjuntamente com as associações locais, organiza debates sobre temas de interesse da comunidade como xenofobia nos meios escolares e racismo, entre outros.

Jornal da comunidade

Os meios de comunicação dedicados à comunidade, como a Gazeta Lusófona, dirigida por Adelino Sa, também contribuem para a integração dos portugueses na Suíça. Os leitores têm acesso a informações sobre as mudanças nas leis, e outras notícias sobre a Suíça, de interesse dos imigrantes, tudo em português.

“Nem todos os portugueses compreendem bem os idiomas oficiais suíços”, afirma Adelino que também é autor de três livros. Ele atua ainda como secretário no sindicato UNIA, há três anos, na região de Lucerna. Além do apoio na área trabalhista que o sindicato dá aos sócios, a comunidade portuguesa também busca auxílio na área social.

“Às vezes é preciso fazer traduções, escrever cartas e ajudar os imigrantes a procurar outro emprego”, conta Adelino. “Não é a principal atividade do sindicato, mas procuramos ajudar”, conta.

Outra fonte de informação e assistência para os lusófonos são as missões católicas portuguesas, que reúnem também as crianças para a catequese em português. Distribuídas em diversas localidades da Suíça, é possível encontrá-las pela Internet.

Angola

Mesmo em menor número, os angolanos mantém uma associação na Suíça desde 1983. Presidida por Nicolau Makuntima, a Associacion des Angolais de Suisse, de Biel-Bienne, se dedica a discutir principalmente a situação dos angolanos no país helvético, organiza eventos musicais, exposições de fotografia, entre outras coisas.

Nicolau chegou à Suíça há vinte anos, foi exilado político, é jornalista de profissão e trabalha em uma fábrica de construção de máquinas. “Passei um período muito difícil quando cheguei aqui”, diz. “Queremos ajudar os angolanos que estão aqui e não conhecem o sistema suíço”, completa ele que não se esquece da nova geração. “É importante também passar para nossos filhos a cultura da nossa terra”, afirma.

Os angolanos da região de Lausanne contam ainda com a Association pour le Progrès du Béu en Suisse, e reúnem sobretudo os cidadãos de origem da região do Béu. “Queremos divulgar a cultura da nossa região e agrupar a comunidade angolana na Suíça”, afirma o presidente Sesso Baptista Pululo.

swsisinfo, Heloísa Broggiato

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BRUDER KLAUS

Entre os lusófonos na Suíça, a comunidade portuguesa é a mais numerosa.

Segundo o Bundesamt fuer Migration BFM (sigla em alemão), são 182.324 portugueses, 14.108 brasileiros, 2.339 angolanos , 49 moçambicanos e 968 cabo-verdianos.

As associações estimam que a comunidade de língua portuguesa é ainda maior.

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