Perspectivas suíças em 10 idiomas

Bancos estrangeiros descobrem o mercado suíço

O banco brasileiro Itaú está interessado na Suíça. AFP

Apesar dos revezes sofridos pelo setor financeiro helvético e os danos à sua imagem causados pelo caso UBS, o país dos Alpes continua atraente.

Prova disso é o crescente interesse de instituições financeiras de países emergentes, que estão tentando obter uma licença bancária para atuar na Suíça.

Posicionar-se nos mercados financeiros europeus em geral e, em particular, na Suíça, faz parte agora das prioridades de um número crescente de grupos bancários de países com um forte crescimento econômico, como os BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China).

“Após o Banco da China, outro banco chinês planeja se instalar na Suíça. Instituições mexicanos manifestaram recentemente seu interesse e também bancos indianos desejam abrir filiais no nosso país. Sim, a tendência existe de forma concreta”, confirma Martin Maurer, da Associação de Bancos Estrangeiros na Suíça.

Essa tendência é ilustrada pelo gigante bancário brasileiro Itaú. Essa instituição financeira, a mais importante da América Latina depois de ter comprado o Unibanco e com mais de cem mil funcionários, estaria prestes a inaugurar duas filiais: em primeiro lugar em Zurique e, posteriormente, Genebra. O banco, porém, não respondeu às questões enviadas pela swissinfo.ch.

Gestão de fortuna

No entanto, no seu site, o Banco Itaú (Suíça) S.A já publica o endereço da sua filial às margens do rio Limmat, embora indicando que ela se encontra “em fase final de obter uma licença bancária suíça”. O banco pretende oferecer uma gama completa de produtos financeiros no setor de gestão de fortuna, seguindo o modelo suíço de “excelência”.

A gestão de fortuna ou “private banking” é justamente o nicho no qual esses bancos querem marcar sua presença no país dos Alpes. É o caso também do Banco da China, que recentemente inaugurou sua primeira filial helvética em Genebra.

Daniel Loeffler, chefe de promoção econômica de Genebra, confirma a informação de que grupos indianos também teriam manifestado seu interesse em abrir uma filial na cidade de Calvino, que conta com aproximadamente 60 bancos estrangeiros lá instalados. “Os bancos desses países de forte crescimento econômico desejam desenvolver produtos e instrumentos financeiros em várias frentes.”

Em outras palavras, essa é uma maneira de atrair, por um lado, uma clientela europeia a produtos financeiros dos seus países e, do outro, oferecer serviços financeiros do tipo “helvético” a seus clientes tradicionais.

Boa imagem da Suíça

“Independentemente do que se diga e escreva sobre a Suíça, a imagem do nosso país continua excelente no exterior”, ressalta François Carrard, advogado em Lausanne e membro do conselho de administração do Banco da China (Suíça), para explicar essa atratividade do setor financeiro na Suíça.

“Na cabeça dessas pessoas, há cada vez mais negócios a realizar e oportunidades de investimentos interessantes na Europa e no nosso país. Isso explica o interesse por questões de conforto, de dispor de instituições financeiras próximas a eles, mas também que colaborem com outros bancos suíços”, diz.

Para Daniel Loeffler, a volatilidade dos mercados e o ambiente de insegurança monetária são a origem desse movimento. “A Suíça tem a vantagem de possuir uma certa estabilidade política, o que é muito importante no setor das finanças e, particularmente, nesses períodos de crise.”

Reciprocidade

Os especialistas questionados pela swissinfo.ch são unânimes: “Abrir a porta aos bancos dos países do BRIC e outros emergentes não representa só vantagens para as três regiões suíças especializadas no setor financeiro – Zurique, Genebra e Lugano”.

Existe eventualmente o risco de concorrência. “Não se pode esquecer que esses bancos não irão oferecer empréstimos imobiliários ou outros produtos suscetíveis de interessar a média dos clientes suíços. Penso que eles irão muito mais se voltar a seus expatriados”, prevê Martin Maurer.

“E, se houver concorrência com os bancos suíços, isso só poderia reforçar todo o setor”, acrescenta Daniel Loeffler. Outros especialistas também acreditam que existe a vontade de recuperar no local os capitais que abandonam esses países para rincões financeiros europeus e, particularmente, suíços.

A abertura dessas filiais estrangeiras deverá igualmente facilitar a circulação no sentido inverso, ou seja, a instalação de bancos helvéticos nesses mesmos países, conforme o princípio da reciprocidade. “É evidente. Por isso, precisamos recebê-los aqui em um espírito duplo de abertura”, insiste François Carrard.

Igualdade perante a lei

Do lado da autoridade federal de vigilância dos mercados financeiros (FINMA), seus representantes preferem não comentar essa tendência, ressaltando, porém, que a “chegada dos bancos estrangeiros no nosso país é bem-vinda”.

Em todo caso, a obtenção de uma licença bancária suíça pode exigir bastante tempo. “Seis meses, quando tudo ocorre bastante rápido, ou seja, quando o banco em questão está bem preparado e dispõe de um exército de advogados. E vários anos, sobretudo nos casos mais complicados”, admite Alain Bischsel, porta-voz da FINMA.

“E as recusas não são raras. Suíços ou estrangeiros, os bancos devem cumprir os mesmos critérios e se submeter às mesmas leis”, lembra.

Estratégias de aquisição

Eventualmente, a chegada desses bancos de países emergentes poderá também ter consequências para a economia helvética.
François Carrard está convencido disso: “Penso que em breve iremos viver aquisições de empresas helvéticas através de fundos do tipo capital chinês”, avalia o advogado.

“Estou consciente de que esse cenário pode nos causar medo. Pessoalmente, estou convicto de que o futuro da nossa economia irá passar por esse tipo de transação. É o mais natural do mundo”, cocnlui.

Nicole della Pietra, swissinfo.ch
(Adaptação: Alexander Thoele)

Os 154 bancos estrangeiros na Suíça (dados de 2008) correspondem a 45% das instituições bancárias do país. Mais de 70% desses estabelecimentos são de origem europeia.

Segundo estimativas, os fundos sob gestão dos bancos estrangeiros na Suíça chegariam a cerca de 950 bilhões de francos em 2008. Um ano antes, esse montante chegava a 1 trilhão de francos.

A maior parte desses bancos concentra suas atividades na gestão de fortunas.

Com um desenvolvimento e taxas de crescimento superiores às médias ocidentais, a China, Índia e o Brasil são as três novas grandes potências mundiais.

Esses países e outros de forte crescimento econômico resistiram melhor à crise econômica mundial de 2008 e às suas consequências.

A denominação de “países em via de desenvolvimento” deu lugar à de “países emergentes”, considerada politicamente mais correta. Nenhuma das duas expressões corresponde, porém, a uma definição econômica precisa.

O procedimento de autorização é um dos principais instrumentos de controle preventivo a serviço da vigilância dos mercados financeiros.

A FINMA observa que “o desafio é recusar sistematicamente qualquer validação de práticas comerciais incorretas, estruturas de acionários opacas e direções que não garantem uma conduta empresarial adequada”.

A legislação de vigilância prevê condições de autorização diferentes segundo os bancos e seus fins.

Os critérios gerais dizem respeito principalmente à organização, às finanças e ao pessoal.

Segundo o nível de preparação dos solicitantes da autorização bancária, o procedimento pode exigir de seis meses a até vários anos.

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR