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Miss Suíça a caminho do Brasil

Lauriane Sallin, Miss Suíça 2016, natural do cantão de Friburgo, vai usar sua imagem para divulgar na Suíça os 200 anos da criação de Nova Friburgo Keystone

Para promover as comemorações da maior expatriação organizada da Suíça, uma associação suíço-brasileira resolveu pedir a ajuda da “mulher mais bela da Suíça”.

Foi em um canto bem simbólico e esquecido do cantão de Friburgo, na Suíça, que a Associação Fribourg-Nova Friburgo (AFNF) decidiu apresentar seu maior trunfo da campanha de promoção das comemorações do bicentenário da fundação de Nova Friburgo, no Brasil, previstas para 2018.

No final de um pequeno caminho chamado “Chemin du Brésil” (Caminho do Brasil, na tradução do francês), que leva a uma moderna cabana situada entre uma plantação de trigo e uma floresta, o presidente da AFNF, Raphael Fessler, aguarda a chegada da mídia acompanhado de ninguém mais, ninguém menos que a mulher mais bela do país, a Miss Suíça 2016, Lauriane Sallin.

A miss, natural da pequena cidade de Belfaux, lugar onde fica a cabana onde estamos, aceitou ser a madrinha das comemorações do bicentenário de Nova Friburgo e se prepara agora para ir ao Brasil, para a abertura dos Jogos Olímpicos do Rio e uma pequena escapada até Nova Friburgo, onde inaugurará uma creche construída com a ajuda dos suíços.

Caminho do Brasil

No início da apresentação, Raphael Fessler lembra a situação difícil que a Suíça teve que enfrentar no início do século XIX, que levou muitos de seus habitantes a emigrarem para outras terras. “Eles eram refugiados econômicos, como muitos que recebemos hoje, se compararmos com a questão migratória atual”, diz Fessler.

“No total, duas mil pessoas participaram dessa aventura, que constitui a maior expatriação organizada da História da Suíça. 800 pessoas do cantão de Friburgo, e as outras dos cantões de Berna, Jura, Valais, Neuchâtel, Genebra, Solothurn, Argóvia, Lucerna e Schwyz”, lembra.

O “Caminho do Brasil”. Uma parte da floresta foi derrubada para ajudar a pagar a viagem dos emigrantes para o Brasil no início do século XIX swissinfo.ch

Entre esses antigos “refugiados econômicos”, um chamou particularmente a atenção da Miss Suíça. Ele também morava em Belfaux.

“Paul Gaspard Melchior Balthazar Mantel nasceu em 6 de janeiro de 1787”, conta Lauriane. “Ele embarca para o Brasil com sua mulher e seis filhos. A família é considerada indigente e as autoridades decidem, então, vender a lenha de uma floresta da cidade para financiar a partida da família. Essa floresta ficava exatamente onde estamos, por isso o nome ‘Chemin du Brésil’.”

Apenas duas crianças, de quatro e seis anos, chegarão ao Brasil e acabarão sendo adotadas por um militar do país. No total, quase quatrocentas pessoas irão morrer durante a viagem.

Lauriane explica seu interesse pela cidade brasileira: “sou estudante de história da arte, na Universidade de Friburgo, e me interesso muito por história. Achei que essa era uma boa ocasião para contar essa história aos outros, para lembrar que não foi um episódio anedótico que não toca a ninguém. Isso tem resultantes agora, como os descendentes dos suíços no Brasil e também traços que ficaram aqui, como o nome desse caminho. É uma ocasião para prestar uma homenagem às pessoas que partiram e contar novamente essa parte da história… e comemorar juntos os 200 anos!”

A relíquia do bicentenário

As famílias que emigram levam com elas alguns utensílios e ferramentas, “tudo que era feito em madeira não resistiu às condições climáticas do Brasil”, conta Raphael Fessler.

Laurianne Sallin e Raphael Fessler com a bicentenária fôrma de fazer “bréchi” swissinfo.ch

O presidente suíço da Associação Fribourg-Nova Friburgo diz ter procurado no Brasil traços e vestígios que testemunham a vinda dos suíços. Como não sobrou nenhuma casa nem outra construção da época da fundação de Nova Friburgo, Fessler tentou encontrar alguma coisa material que comprovasse a origem dos colonos.

Após trinta anos de pesquisa, o presidente da associação conseguiu encontrar um “fer à bréchi”, uma fôrma em ferro fundido usada para fazer o “bricelet”, um tipo e biscoito fino, especialidade da região de Gruyère, no cantão de Friburgo.

Raphael Fessler conta a história do tão procurado objeto: “Essa fôrma de ‘bréchi’, apresentada hoje, tomou o navio no dia 12 de setembro de 1819 na bagagem da família Sanglard de Cornol, do atual cantão do Jura. Ela chegou no Rio de Janeiro no dia 26 de novembro de 1819. Foram 75 dias para ir e 12 horas de voo para retornar à Suíça, quase duzentos anos depois.”

Segundo Fessler, as famílias no Brasil que conservaram o utensílio chamam o objeto de “bréchi”, nome dado ainda hoje no patoá de algumas regiões da Suíça.

A estima a esse vestígio dos primeiros colonos suíços acabou se transformando no logo da AFNF para o bicentenário de Nova Friburgo.

Visibilidade

Em colaboração com a agência oficial de promoção da Suíça, Présence Suisse, e a “Organisation Miss Suisse”, a AFNF convidou Laurianne Sallin a visitar a Casa Suíça de Nova Friburgo e suas instituições culturais e sociais. Uma visita de três dias, entre 6 e 8 de agosto.

“A ideia é aproveitar a notoriedade nacional da Miss Suíça para dar visibilidade à associação e à cidade de Nova Friburgo na Suíça, para tentar reunir todos os 10 cantões que mandaram emigrantes para a região nas comemorações de 2018”, diz o presidente da AFNF.

A associação também conseguiu um lugar para sua instituição localizada em Nova Friburgo na “House of Switzerland”, um espaço eclético criado pela Présence Suisse que funcionará no bairro da Lagoa durante os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio. O espaço será inaugurado no dia 1º de agosto, dia nacional da Suíça, e fica aberto até 18 de setembro.

Nesse espaço, a Casa Suíça de Nova Friburgo pretende divulgar seus produtos, queijos e chocolates, e a associação o bicentenário e a história de Nova Friburgo.

Conteúdo externo

Casa Suíça

A associação pretende colocar a Casa Suíça de Nova Friburgo no centro das comemorações do bicentenário, em 2018.

Para isso, a AFNF vem renovando e melhorando as instalações do prédio há pelo menos seis anos.

A instituição se divide em duas partes. Uma comercial, com uma queijaria, uma chocolataria artesanal, um restaurante e uma lojinha de souvenirs; e uma cultural, com um museu e um memorial da colonização, espaços de exposição, auditório e biblioteca.

O memorial permite que os visitantes pesquisem os traços de seus antepassados suíços através de três terminais interativos.

“Na ocasião dos dois aniversários, os 200 anos de Nova Friburgo, mas também os 40 anos da associação, a AFNF vai inaugurar em maio de 2018 um novo espaço para atividades socioculturais na Casa Suíça”, promete o presidente da associação.

Uma grande caravana partirá da Suíça em maio de 2018 para essas comemorações. “Uma viagem oficial encabeçada pela madrinha Lauriane Sallin e que já conta 300 inscritos. E as inscrições ainda nem foram abertas!”, diz Fessler.

Nesse ritmo, até 2018, o Brasil vai acabar recebendo uma segunda expatriação de Suíços em Nova Friburgo.


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