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Bispo suíço quer “lista suja” de religiosos pedófilos

Markus Büchel, bispo de Sankt Gallen, diz que "situação atual é catastrófica principalmente para as vítimas" da pedofilia na Igreja Católica. Keystone

Markus Büchel, bispo de Sankt Gallen, no nordeste da Suíça, defende a introdução de uma lista em que sejam registrados religiosos que cometeram abusos sexuais.

Segundo ele, em casos especiais envolvendo vítimas infantis, também a Igreja deve quebrar a lei do silêncio e denunciar os supostos criminosos à polícia.

Com isso, Markus Büchel, vice-presidente da Conferência dos Bispos Suíços (CBS), adota uma posição diferente da do presidente da CBS. Norbert Brunner declarou à imprensa que não quer uma “lista suja”. A CBS precisa discutir um cadastro de casos de abusos, diz Büchel.

O abade do mosteiro de Einsiedeln (centro da Suíça), Martin Werlen, propôs uma “lista suja” internacional a ser administrada por Roma. Com isso, seria possível impedir que religiosos pedófilos voltem ao trabalho pastoral.

Markus Büchel quer restringir a lista a regiões linguísticas, conforme disse à agência de notícias suíça SDA. Assim, um padre condenado na Suíça, por exemplo, seria proibido de trabalhar na assistência espiritual na Alemanha ou na Áustria.

Sankt Gallen reagiu cedo

O bispado de Sankt Gallen, com 142 paróquias e 258 mil católicos, foi pioneiro na Suíça na luta contra a exploração sexual e a violência na Igreja Católica. Em 2002, tornou-se público um caso de abuso sexual em Uznach, povoado de 5,6 mil habitantes no nordeste da Suíça.

Um padre havia cometido abusos sexuais contra dois meninos. Ele foi imediatamente suspenso e condenado pelo tribunal regional a quatro anos e meio de prisão.

O então bispo Ivo Fürer instituiu um grêmio independente para apoiar vítimas de abusos sexuais na Igreja. Desde 2002, este grêmio agiu 19 vezes. Três vezes houve denúncia à polícia. Dois processos foram arquivados, um ainda está pendente, diz Edith Brunner, jurista e presidente do grêmio.

Quebrar a lei do silêncio

Segundo as diretrizes da CBS, o grêmio com cinco integrantes (três mulheres, dois homens) é obrigado a manter sigilo. Isso é bom, porque a proteção às vítimas tem prioridade, diz Markus Büchel. Ele defende que, em casos especiais, a Igreja deve quebrar a lei do silêncio e apresentar denúncia à polícia.

Também neste ponto o bispo de Sankt Gallen e Edith Brunner diferem do presidente da CBS. Para eles, “casos especiais” são aqueles em que as vítimas são crianças e os responsáveis por sua educação não agem pelo bem da criança.

“Igreja cometeu erros”

Markus Büchel quer discutir também este ponto na Conferência dos Bispos. Ele considera catastrófica a situação atual em que regularmente surgem acusações contra religiosos. “Com todo meu amor pela Igreja, a situação é catastrófica principalmente para as vítimas”, diz o bispo.

Büchel diz que tem pena também de todos os padres e funcionários da Igreja Católica, que agora se encontram quase sob suspeita geral.

O bispo de Sankt Gallen admite que a Igreja cometeu erros e deve assumi-los. “Não pode mais acontecer que casos de abuso sexual sejam regulados internamente pela Igreja.”

Personalidades maduras

Não existe nada pior para uma pessoa do que ser decepcionada por alguém de confiança, afirma Markus Büchel. Ele diz estar profundamente chocado com o fato de ter sido infligido tanto sofrimento a tantas pessoas dentro da Igreja. “Isso dói. “

Na conversa com a SDA, o bispo de Sankt Gallen discorda que o celibato atraia homossexuais e pedófilos à Igreja. Segundo ele, na formação dos sacerdotes, dá-se muito valor a que eles, antes da ordenação, tenham uma personalidade madura em todos os campos da vida.

Ele não descarta, porém, que em instituições eclesiásticas fechadas as tendências sexuais individuais de determinadas pessoas possam se desenvolver. Segundo Büchel, escolas e internatos da Igreja precisam ser muito bem vigiados.

swissinfo.ch com agência SDA

De 2001 a 2010, o Vaticano recebeu cerca de 3 mil denúncias sobre casos de abusos sexuais ocorridos nos últimos 50 anos na Igreja Católica.

A informação foi divulgada no último dia 13 de março por Charles Scicluna, um representante da Congregação para a Doutrina da Fé, no jornal episcopal italiano “Avvenire”.

Em cerca de 60% dos casos não teriam ocorrido contatos sexuais. Segundo Scicluna, em 30% dos casos houve contato heterossexual e apenas 1% dos casos teriam sido de pedofilia.

No total, em nove anos 300 de um total de 400 mil padres teriam sido acusados de pedofilia, informou a agência de notícias AFP, citando o jornal “Avvenire”.

Após o julgamento de 20% dos casos, 10% dos acusados teriam sido suspensos de suas funções de sacerdócio.

Segundo o semanário Sonntag, os bispados suíços investigaram mais de 60 denúncias de abusos sexuais nos últimos 15 anos.

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