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Bunker com canhão vira hotel de luxo

A entrada da fortaleza é guardada por um canhão calibre de 10.5 centímetros. swissinfo.ch

Distante apenas vinte minutos do centro de Weggis, o primeiro hotel construído num bunker desativado é uma das atrações da região.

Até 1998, o local ainda era considerado altamente secreto pelo exército suíço. Seus canhões poderiam bombardear barcos que passassem no lago dos Quatro Cantões.

O turista que vai à Weggis não espera muitas surpresas. Ele sabe o que vai encontrar: montanhas cobertas de neve eterna, pastos verdejantes, chalés de madeira, hotéis cinco estrelas e as águas cristalinas do lago dos Quatro Cantões. Porém, quem poderia imaginar que esse idílico cenário alpino esconde um complexo de fortalezas armadas com canhões de grosso calibre?

A Fortaleza de Vitznau é uma delas. Distante de carro apenas vinte minutos do centro de Weggis, ela está localizada nas montanhas do vilarejo vizinho, que também se chama Vitznau. Apesar das armas e das paredes espessas de concreto, o local ficou conhecido ao deixar de ser uma instalação militar ultra-secreta do exército suíço e se transformar, em 1998, no primeiro “bunker-hotel” da Suíça.

Escudo contra Hitler

A fortaleza de Vitznau fez parte de um grupo de fortificações construído a mando do governo helvético entre 1941 e 1943, quando se acreditava que a Suíça estava prestes a ser invadida pelas tropas nazistas de Adolf Hitler. Também conhecido como “Réduit”, o complexo se espalhava pelos Alpes, indo de Genebra, passando pela Suíça central até chegando ao Bodensee, lago na fronteira com a Áustria e a Alemanha. Seu papel seria permitir a resistência militar por muitos meses.

As mais de 15 mil fortalezas e fortificações, muitas delas camufladas de chalés alpinos ou fazendas, perderam sua utilidade em 1995 a partir da reforma geral do exército suíço, um programa chamado “Armée 95”. Desde então elas estão sendo vendidas, alugadas ou mesmo fechadas com cimento.

A Fortaleza de Vitznau, incluindo também sua área verde de 8.700 metros quadrados nas montanhas, foi vendida pelo exército suíço em agosto de 1998 à comuna de Vitznau por um preço simbólico de 43.000 francos (US$ 35 mil), que depois alugou as instalações por 7.000 francos (US$ 5,7 mil) ao ano a uma associação local. Em grande parte aposentados, seus membros têm como principal objetivo manter a fortaleza e fazer dela uma atração turística da cidade.

– Veja só a espessura do concreto na entrada do bunker. O sistema de defesa foi muito bem planejado na época, pois o sistema fechamento hermético das portas de aço permitia aos artilheiros atingir os inimigos sem ser atingido. Até o túnel de entrada é curvo, para impedir que uma bala de canhão pudesse atingir as áreas centrais – explica o aposentado Albert Fröhli, um dos monitores.

As várias galerias e corredores da fortaleza foram encravados no granito da montanha. Na ativa, até setenta soldados ficavam estacionados no local. Seu principal armamento eram dois canhões de calibre 10.5 centímetros, dezenas de metralhadoras de grosso calibre e lançadores de granadas. Os canhões continuam no local e estão em perfeito estado de funcionamento. Até hoje eles estão apontados para o lago dos Quatro Cantões.

– A idéia era proteger o tráfego de embarcações e bloquear o lago se necessário. Os canhões tinham um alcance de até 21,4 quilômetros e podiam lançar até 15 balas por minuto – detalha Fröhli com uma paixão de ex-militar.

Abrigo nuclear

Depois da Segunda Guerra Mundial, a fortaleza continuou na ativa. Em 1959 foram instalados nela filtros especiais para purificar o ar em caso de guerra nuclear, além de antenas e aparelhagem moderna de comunicação.

O abastecimento de água era feito por fontes que ainda jorram dentro da montanha. Os depósitos tinham capacidade para armazenar grandes quantidades do líquido. Também a energia nunca foi um problema em Vitznau, pois o bunker dispõe de dois motores a diesel e um tanque de combustível com capacidade para armazenar 32 mil litros de combustível. Caso o fornecimento de energia fosse cortado durante um ataque inimigo, a fortaleza continuaria funcionando por até 66 dias. E comida também não seria problema: a dispensa continha víveres suficientes para alimentar um batalhão por até três meses.

– Os respiradouros também estavam escondidos. De certa forma, a fortaleza era capaz de resistir por muito tempo mantendo todo o seu poder de fogo – completa Fröhli.

Impressionantes em Vitznau é o paiol de dinamite e o das balas de canhão, que eram separados por uma questão de segurança. O material explosivo foi retirado após a venda da fortaleza, porém as granadas vazias ainda continuam empilhadas nas prateleiras segundo o seu tipo: iluminação, produção de névoa, estilhaço e até as incendiárias. O paiol de dinamite já nao contém mais nada. Um detalhe interessante é o sistema de segurança criado caso a dinamite explodisse:

– Se isso ocorresse, a explosão seria tão violenta que poderia matar todos os ocupantes da fortaleza. Por isso os engenheiros na época construíram os paióis próximos de algumas aberturas feitas na montanha, que funcionariam como válvulas levando a pressão para fora. Ao mesmo tempo, portas espessas de aço isolariam os ocupantes da área onde estavam o canhão e os explosivos.

Uma noite no bunker

A fortaleza de Vitznau se transformou num albergue, mas o ambiente militar ainda impera na cantina, nos dormitórios dos oficiais, dos suboficiais, dos sargentos e dos soldados. Apesar de espartana, a área “residencial” é aquecida constantemente a 20 graus, o que dá mais conforto do que os 12 graus constantes do resto do bunker.

O pacote turístico “Swiss Army Night” (Noite do Exército Suíço) dá o privilégio ao turista de passar uma noite dentro da fortaleza. Lá ele tem direito ao pernoite em beliches militares onde as camas não têm divisão, café-da-manhã e visitação. O programa custa apenas 55 francos (US$ 45) por pessoa.

Os quartos de dormir ainda estão decorados como no tempo do exército, com quadros de motivos alpinos ou fotos do famoso general Guisan. Nas paredes da cantina estão penduradas pistolas, fuzis e bandeiras da Suíça. Perguntado se o regime do hotel é como na caserna, Fröhli conta sem pudor:

– O que os hóspedes gostam mais de fazer é ficar sentado na cozinha bebendo cerveja e contando piada. Esse é o programa da noite.

Ao abrir a dispensa da cozinha, ele mostra que o bunker dispõe até de cervejas Brahma. A esperança é que apareçam alguns brasileiros para comprar algumas latinhas dessa bebida nacional. Apenas na comida, a Fortaleza de Vitznau prefere manter as tradições do exército suíço:

– Aqui servimos pratos típicos da Suíça como raclette e fondue de queijo. O charme daqui é poder degustá-los num ambiente especial como esse, um local que foi altamente secreto até poucos anos atrás.

swissinfo, Alexander Thoele

Fortaleza de Vitznau – informações e reservas:

Tourist Information Vitznau
Seestrasse
CH-6354 Vitznau
Tel: 0041 – 41 – 398 0035
Fax: 0041 – 41 – 398 0033
E-mail: info.vitznau@wvrt.ch

Preços:
“Swiss Army Night”: CHF 55 (adultos) e CHF 40 (crianças). Mínimo de CHF 650.

A Fortaleza de Vitznau dispõe de 88 camas, sendo que duas no quarto do comandante e quatro no de oficiais.
A forma mais fácil de acesso é pegar o barco em Lucerna e ir até Vitznau. Depois caminhar 300 metros até a entrada do bunker.

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