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Abrindo novas fronteiras

O ministro suíço da Economia, Johann Schneider- Amman (à esquerda) esteve recentemente no México para tratar de negócios entre os dois países Keystone

Dorit Sallis, diretora geral da Câmara de Comércio Latino-Americana (Latcam) e da Câmara Conjunta de Comércio Suíça-Russa/CEI, na Suíça, avalia o papel das camâras de comércio bilateral num cenário em que as economias, as empresas e as formas de comunicação estão em plena transformação.

A internet e as mídias sociais aproximaram as relações entre pessoas e entre as empresas, principalmente aquelas que vivem ou estão localizadas em diferentes partes do mundo, e facilitaram significamente o acesso à informação. Essa transformação, é claro, vem afetando cada vez mais o papel exercido pelas câmaras de comércio bilateral no mundo.

Na Suíça, as câmaras, entidades privadas, têm se desdobrado para manter seu papel de promotor de networking, fornecedor de informação e acompanhante das empresas no desbravamento de mercados estrangeiros na era digital.  Dorit Sallis, diretora geral da Câmara de Comércio Latino-Americana (Latcam), da Câmara de Comércio Conjunta Suíça-Russa/CEI (em inglês, Joint Chambers of Commerce Switzerland – Russia/CIS), fala sobre os desafios e as oportunidades do setor.

A primeira câmara de comércio foi fundada em 1599 em Marseille, na França. Desde então, o mundo dos negócios mudou significativamente. Câmaras de comércio não só voltadas para as indústrias locais, mas também internacional e bilateral surgiram. Qual é o papel das câmaras de comércio bilateral na Suíça?

O papel das câmaras bilaterais de comércio suíças é promover e reforçar os negócios entre a Suíça e os mercados internacionais. Essas câmaras dão assistência às empresas suíças, especialmente as de pequeno e médio porte, atuantes em diversos setores, que têm interesse estratégico em expandir sua atuação para mercados internacionais. 

Os serviços prestados pelas câmaras bilaterais de comércio são fundamentais para ajudar essas empresas a fazer a melhor escolha de mercado e a tomar as medidas necessárias, minimizando assim os riscos associados a investir fora.  (Veja mais detalhes sobre os serviços no Box ao lado)

Quantas câmaras de comércios bilateral existem hoje na Suíça?

Eu estimo que existam de 15 a 20 câmaras bilaterais de comércio na Suíça atualmente e  30 em todo o mundo. É importante esclarecer que existem as câmaras de comércio bilateral na Suíça, por exemplo, a Câmara Latino-Americana na Suíça (Latcam) assim como as câmaras bilaterais de comércio na América Latina (incluindo Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Peru, Uruguai e Venezuela). Nesse contexto, sua função de dar suporte à economia suíça não pode ser subestimada.

Como a internet e as mídias sociais estão afetando as atividades das câmaras de comércio?

A internet e as mídias sociais são instrumentos excelentes para atingir membros potenciais, e para informar os membros e parceiros sobre eventos de networking assim como sobre temas chaves relacionados aos negócios. O eco da voz da câmara é exponencialmente maior via mídia social do que via mídia tradicional. De fato, o mundo virtual tem um efeito multiplicador no que se refere ao número de pessoas que a câmara pode atingir com sua mensagem. Ao mesmo tempo, acredito que esses novos recursos não substituirão as relações face a face.

Para citar Adam Davidson, cofundador do Planet Money na National Public Radio americana: ‘É um fato notável  que numa economia cada vez mais difusa e conectada atitudes básicas como se reunir, olhar o parceiro de negócios nos olhos e tomar juntos um café  são ainda essenciais e potencialmente rentáveis.’ Então, a internet e as mídias sociais não podem substitutir a interação direta humana, mas podem enriquecê-la de uma maneira poderosa e efetiva.

Keystone

Qual será o papel das câmaras de comércio nos próximos 5 anos?

As câmaras bilaterais de comércio continuarão o papel já descrito acima. O nicho que elas cobrem atualmente continuará a ser o mesmo no futuro, e sua importância será provavelmente maior assim que certos mercados estrangeiros atingirem um ponto de saturação para as empresas suíças e novos destinos de negócios passarem a ser procurados.  Por exemplo, a Câmara de Comércio Conjunta Suíça  – Russia/CEI está em busca de oportunidades para as empresas suíças em mercados pouco explorados na Ásia Central e no Cáucaso. O mesmo ocorre para mercados na América Central e no Caribe que continuam relativamente desconhecidos pelas empresas suíças. A Latcam está já trabalhando para que seus membros se familiarizem com estas regiões promissoras.

Além disso, num contexto em que mercados já estão saturados e uma abordagem tradicional talvez não funcione, é o papel das câmaras bilaterais ajudar seus membros a pensar de forma mais criativa e a explorar abordagens mais inovadoras. Assim, nós tentamos organizar um ou dois eventos por ano em que apresentamos novas perspectivas para os membros e os encorajamos a pensar de forma menos convencional. Essas abordagens podem parecer um pouco plausível hoje em dia, mas pode dar às companias uma vantagem competitiva numa perspectiva de 5 anos.

É fato que na Suíça as câmaras de comércio são instituições indepentendes, sem ligação direta com o governo, diferentemente da Alemanha, por exemplo? Quais são as diferenças e como isso afeta o trabalho das câmaras de comércio na Suíça?

Na Suíça, ao contrário da Alemanha e outros países, as câmaras de comércio bilateral são instituições privadas. Isso significa que elas não recebem fundos do governo suíço, ao contrário das câmaras de comércio alemãs e italianas. Somo bancados pelas taxas de anuidade pagas pelos membros, pela verba de patrocinadores dos eventos e anúncios em suas publicações e  websites.

A vantagem de tal sistema é que as câmaras de comércio bilateral são instituições independentes  que atendem primeiramente aos interesses de empresas do setor privado, seus afiliados.  A dificuldade é que as câmaras bilaterais usam uma parte enorme de seu tempo e trabalho na busca de fundos para cumprir eficientemente seus mandatos. Isso tira o tempo e os recursos que as câmaras poderiam investir melhor no fornecimento de serviços de qualidade aos seus membros.

Dorit Sallis explica a seguir os serviços oferecidos pelas câmaras de comércio bilateral para as empresas-membro:

 

Uma das funções principais das câmaras de comércio bilateral é criar e oferecer uma plataforma de networking  ancorada em eventos que discutem tópicos relevantes às empresas suíças que queiram desenvolver negócios nas regiões em questão. Os membros têm acesso não somente a investmentos ou informações relacionadas ao comércio, mas também encontram tomadores de decisão, parceiros em potencial e empresas que já têm experiências em fazer negócios nas regiões alvo.

Além disso,  as câmaras de comércio  informam as empresas sobre setores com maiores oportunidades de negócios em novos mercados.  Suas equipes estão atualizadas em relação às mudanças em andamento (impostos, taxas e regulamentações aduaneiras etc) que têm um impacto direto na maneira de se fazer negócios entre os países envolvidos. Elas assistem ainda  as empresas em seus primeiros passos na entrada nos mercados desejados,  oferecendo um time de experts.

Outro aspecto importante das câmaras de comércio é o de fazer lobby em nome de seus membros, procurando influenciar dentro das comissões econômicas em nível  governamental nos países em questão. A organização atua como solucionador de problemas e mediador em nome de membros específicos que possam encontrar dificuldades no país em que opera ou quer operar.

Ao mesmo tempo, é importante notar que as câmaras bilaterais de comércio na Suíça também oferecem suporte às empresas nas regiões em questão caso estas queiram exportar seus produtos ou serviços para a Suíça ou mesmo montar operações na Suíça. O  apoio é  bilateral,  da Suíça para fora e do país parceiro para a Suíça.

Que tipos de demanda a senhora recebe das empresas latino-americanas atualmente? Há um interesse grande dessas empresas em estabelecer negócios na Suíça ou vice-versa?

Quase não recebemos solicitações das empresas latino-americanas interessadas em desenvolver negócios na Suíça.  A maior parte das solicitações vem de empresas suíças tentando desenvolver negócios na América Latina.

E qual a relação entre Suíça e os países membros da Câmara de Comércio Conjunta Rússia-CEI (JCC Switzerland-Russia/CEI)?

Temos que considerar que a Comunidade dos Estados Independentes (CEI) não é um bloco homogêneo. A presença de empresas suíças na Federação Russa é obviamente maior do que em certos países da Ásia Central. Ao mesmo tempo, sabemos que grandes marcas suíças como a Nestlé, ABB e Holcim estão presentes na maioria dos países da região CEI. O que a câmara está buscando é promover a presença das empresas de porte médio suíças nesta região como um todo.

A Câmara de Comércio Conjunta Suíça-Rússia/CEI representa oficialmente a Suíça dentro desse grupo inter-regional. Na Rússia, nossa estratégia, alinhada com os interesses de nossos parceiros russos,  é explorar as oportunidades fora dos centros metropolitanos de Moscou e São Petersburgo.  E como tal estamos mudando nosso foco para novas oportunidades de negócios em 12 a 15 regiões russas que vivem uma intensa onda de crescimento. Devido aos seus recursos naturais e humanos, além do suporte apresentado pelas autoridades locais, queremos acessar as oportunidades nessas localidades. 

Como é a relação entre as câmaras de comércio e a Osec? Há colaboração entre essas instituições? Como essa relação pode ser estimulada?

A Osec, como o orgão oficial de promoção da importação/exportação, é um  elemento essencial na construção de uma estratégia de promoção dos negócios da Suíça no exterior. Para as câmaras bilaterais de comércio, a Osec é um parceiro de valor e nós trabalhamos em conjunto para atingir objetivos em comum. As câmaras focam seu trabalho na criação de uma plataforma de relações  na qual as ligações de negócios são modeladas e as informações trocadas. O foco da Osec é oferecer um suporte de consultoria especializada a empresas individualmente e a  fornecer pesquisas detalhadas sobre setores em crescimento em diversos países que sejam de interesse das empresas suíças. Nós instituímos uma tradição de organizar eventos em comum uma vez ou duas vezes ao ano, e damos suporte um ao outro no marketing dos eventos e serviços.

A Osec foi fundada como uma entidade formada pela associação de membros. Hoje, talvez fizesse mais sentido repensar essa estrutura para que não acabasse competindo diretamente com as câmaras de comércio bilateral na busca de membros. Tomar essa atitude seria lógico e justo, dado que a Osec tem uma função de instituição quase estatal e recebe financiamento suficiente do governo suíço.  Já as câmaras de comércio bilateral são dependentes dos volume de recursos pagos pelos associados e para realização de seus mandatos. Portanto, essa pequena mudança estrutural para Osec poderia resultar em uma alteração importante para as câmaras de comércio bilateral e iria ajudá-las a administrar melhor a escassez de recursos financeiros. 

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