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As contas redondas do Moléson

O queijo produzido em Nova Friburgo fez uma viagem de volta às origens para ilustrar o dinamismo do trabalho realizado pela associação suíço-brasileira. swissinfo.ch

Suíços e brasileiros se encontraram a 2002 metros de altitude para prestar contas da ajuda suíça destinada à reconstrução de Nova Friburgo e apresentar os projetos que estreitam os laços de amizade de duas regiões irmãs.

Foi no meio de uma espessa cortina de névoa que cobria o Moléson que o presidente suíço da Associação Fribourg-Nova Friburgo (AFNF), Raphaël Fessler, esclarecia à imprensa do cantão de Friburgo o fim que levou os fundos recoltados pela associação para ajudar as vítimas da tragédia de 2011 na região serrana do Rio de Janeiro.

O encontro foi marcado, no inicio do mês de outubro, no topo do imponente monte Moléson, à 2002 metros de altitude. De lá, “normalmente se vê quase toda a Suíça”, garante Fessler, que pretendia aproveitar a ocasião para mostrar a bela região de Gruyère aos representantes brasileiros do Instituto Fribourg-Nova Friburgo responsáveis da Casa Suíça de Nova Friburgo.

“Foi dos vales que cercam o Moléson que saíram muitos imigrantes do início do século XIX. Dos 803 suíços do cantão de Friburgo, 400 eram da região de Gruyère”, conta Fessler. O que os suíços não sabem é que o monte também emprestou o nome a um queijo fabricado pela queijaria-escola de Nova Friburgo, situada no complexo da Casa Suíça.

Sob nova direção

Com o queijo “Moléson” nas mãos, o novo arrendatário da parte comercial do Instituto, Marco Aurélio Grillo, apresentava números, produtos e muita ambição para o futuro da parte econômica da Casa Suíça.

Na verdade, o novo contrato assinado com o grupo de Marco Aurélio, SM4, permitirá que a Casa Suíça receba, finalmente, um aluguel conforme o preço do mercado.

As instalações da queijaria, chocolataria, restaurante e loja foram alugadas por 6.500 francos por mês (cerca de 15 mil reais). Além do aluguel, o Instituto também receberá uma participação de 2% do faturamento para o financiamento da parte sociocultural da Casa Suíça.

O contrato com o empresário brasileiro fechou com chave de ouro o projeto “Revitalização 2009-2013” da Casa Suíça de Nova Friburgo, financiado pelo cantão de Friburgo e a “Loterie Romande”, com um montante anual de 48 mil francos suíços.

Uma delegação do governo do pequeno estado suíço chegou até a se deslocar até a cidade serrana brasileira para avaliar o trabalho cumprido por Maurício Pinheiro, enviado ao Brasil pela AFNF em 2009 como diretor cultural do instituto, que acabou desempenhando muitas outras funções por conta da tragédia de 2011.

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Ajuda suíça

Segundo Raphaël Fessler, as autoridades suíças “saudaram em termos elogiosos” o trabalho de Pinheiro e a atuação da AFNF, que coordenou o projeto.

A campanha por doações lançada pela associação após o temporal da noite de 11 de janeiro de 2011 conseguiu arrecadar mais de 361 mil francos suíços de 440 doadores. Só o governo do cantão de Friburgo chegou a doar 100 mil.

O presidente da associação suíça ressaltou principalmente a eficácia do emprego dos fundos recebidos. Segundo Fessler, para a Fundação Zewo, que garante a transparência e a equidade das doações na Suíça, a taxa média para instituições de caridade de pequeno tamanho é de 73% dos recursos alocados. A Associação Fribourg-Nova Friburgo ultrapassou esta referência, investindo quase 95% dos recursos.

“É também uma forma de tranquilizar todos aqueles que acreditavam que o dinheiro tinha sido perdido, roubado ou esquecido. A imprensa de ambos países chegou a revelar escândalos de desvios da verba destinada a Nova Friburgo, mas isso nunca aconteceu com o dinheiro vindo da Suíça”, insiste Raphael Fessler.

Além de investir na reconstrução de algumas instituições de amparo, a ajuda suíça também será usada para a formação contra catástrofes climáticas de dois geólogos brasileiros. Em 2012, uma geóloga brasileira participou de um projeto de 3 meses em Genebra e Friburgo e a AFNF espera ainda a candidatura de um segundo especialista da região.

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Potencial local

Os suíços da AFNF pretendem principalmente capacitar o pessoal local para tentar alcançar uma certa autonomia na parte brasileira.

No caso da queijaria-escola, uma nova política de ajuda e conselhos veterinários foi desenvolvida para os pequenos produtores locais de leite. Marco Aurélio Grillo pretende, assim, passar de 3 mil para 5 mil litros de leite tratados diariamente, em 2014.

O Instituto Fribourg-Nova Friburgo continua proprietário da marca FRIALP, dos produtos da queijaria, que o novo arrendatário pretende desenvolver mais no Brasil. Uma das ideias de Marco Aurélio Grillo é a abertura de lojas finas em bairros nobres do Rio de Janeiro e de outras capitais.

O desenvolvimento da parte sociocultural da Casa Suíça também será mantido por alguém da região. Com o retorno de Maurício Pinheiro à Suíça, a direção cultural do Instituto ficou nas mãos da jovem historiadora Rosane Canto, que veio passar um período de “descoberta” na Suíça a convite da AFNF.

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Futuro promissor

Para o presidente da Associação Fribourg-Nova Friburgo, o projeto realizado no período de 2009 a 2013 conseguiu colocar a Casa Suíça no caminho da autonomia financeira em 80%. Fessler garante que o instituto alcançará os 100% em 2018, ano do bicentenário da fundação de Nova Friburgo e dos 40 anos da AFNF.

O suíço aproveitou a ocasião para agradecer a decisão do cantão de Friburgo de continuar apoiando o funcionamento da Casa Suíça, de 2013 à 2018, com uma ajuda de 11 mil francos por ano.

A loteria suíça “Loterie Romande” também demonstrou interesse em continuar no projeto, anunciando a doação de 80 mil francos para os reparos do telhado do Instituto Fribourg-Nova Friburgo.

A associação também pretende aproveitar a classificação da Suíça para a Copa do Mundo no Brasil para promover visitas a Nova Friburgo, organizadas em colaboração com as agências de viagens do cantão de Friburgo.

“Uma coisa é certa, cada jogo da seleção suíça será uma festa na Casa Suíça!”, garantiu Raphaël Fessler, com sorrisos de apoio de todos brasileiros.

A sequência de fortes chuvas na Região Serrana do Rio de Janeiro na noite de 11 de janeiro de 2011 causou uma das maiores tragédias brasileiras: três cidades ficaram praticamente em total destruição, entre elas Nova Friburgo, e outras três fortemente afetadas por deslizamentos de terra, desabamento de encostas, soterramento de bairros e alagamentos. Milhares de pessoas perderam as casas, centenas perderam a vida e várias outras continuam desaparecidas.

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