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Suíço prêmio Nobel é estrela de programa científico brasileiro

Vista aérea da reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro. UFRJ

Meta compartilhada por importantes universidades do Brasil e da Suíça, a aproximação entre as comunidades acadêmicas dos dois países recebe um grande impulso com a participação do cientista suíço Kurt Wüthrich no programa Ciência sem Fronteiras, recentemente lançado pelo governo brasileiro.

Ganhador do Prêmio Nobel de Química, concedido em 2002 como reconhecimento ao seu trabalho na área de ressonância magnética nuclear, Wüthrich atuará pelos próximos três anos como pesquisador visitante oficial da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Convidado pessoalmente pelo ministro brasileiro da Educação, Aloizio Mercadante, Wüthrich viajará periodicamente ao Brasil, onde se dedicará ao desenvolvimento da produção científica no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Biologia Estrutural e Bioimagem (Inbeb) da UFRJ. O instituto, considerado um centro de excelência, funciona em um prédio com instalações modernas, inaugurado há dois anos na Ilha do Fundão, Zona Norte do Rio de Janeiro. Wütrich esteve no Inbeb para a inauguração do laboratório.

O maior trunfo do Inbeb, fundamental para o fechamento da parceria com o cientista suíço, são seus equipamentos de ressonância magnética nuclear. O instituto possui três espectrômetro dotados de tecnologia de ponta, sendo que o mais avançado deles – modelo Bruker Avance III 800 MHz – é idêntico ao que Wüthrich utiliza na Escola Politécnica Federal de Zurique (ETH), onde é professor de biofísica. O suíço também trabalha com outro aparelho do mesmo tipo no Instituto de Pesquisa Scripps, em La Jolla, Califórnia (EUA), onde leciona biologia estrutural.

O professor Wütrich contou à swissinfo.ch, durante o Congresso dos Suíços do Estrangeiro, em agosto em Lausanne, onde foi palestrante, que esteve na UFRJ no ano passado dando um curso para jovens pesquisadores e que foi aí que para assinar um contrato. “Matinha contados na minha área porque jovens professores da UFRJ estiveram em meu laboratório” na Politétcnica de Zurique (ETH). Acrescentou que, “com um equipamento desses dá para fazer um trabalho sério.” 

Ao todo, os investimentos realizados pelo Inbeb, com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), somam R$ 20 milhões. Quando foi apresentado oficialmente como pesquisador da UFRJ, em 26 de julho, Wüthrich não escondeu que esse esforço foi fundamental para sua decisão de atuar no Brasil: “Não teria sentido vir para o Brasil se não houvesse laboratórios e equipamentos. Temos que ser realistas, sem esse tipo de investimento básico, nada aconteceria”, disse aos jornalistas.

Em entrevista ao jornal brasileiro O Globo, o cientista suíço se disse animado com o novo desafio: “Historicamente, o Brasil, assim como outros países da América Latina, enfrentou altos e baixos na ciência. Agora, porém, o país está em um momento de forte crescimento nos investimentos em ciência, o que faz com que seja a hora certa de combinar grandes gastos com uma mudança de patamar na produção científica”.

Orientador

Após a apresentação oficial, Wüthrich retornou à Suíça. Sua próxima vinda ao Brasil está programada para outubro, quando começará a participar de atividades como aulas, seminários e reuniões de trabalho. O governo brasileiro custeará todas as despesas do suíço durante sua estada no país, além das passagens aéreas. Além disso, segundo a UFRJ, Wüthrich disporá de uma verba anual de R$ 50 mil para despesas com pesquisa nos laboratórios do Inbeb.

Kurt Wütrich confirmou à swissinfo.ch que tem um contrato de três anos “mas que deverá ser prorrogado para 4 ou 5 anos, tempo que leva para uma tese de doutorado.” Disse ainda que tem um contrato similar na Coreia há dez anos, “onde passo um mês por ano, mas provavelmente vou reduzir para se concentrar no Brasil”, onde passará duas a quatro semanas por ano. Os doutorandos também poderão trabalhar no laboratório de Wütrich na Califórnia.

A UFRJ anunciou também que dois estudantes brasileiros – um de doutorado e outro de pós-doutorado – terão suas teses orientadas diretamente pelo suíço. A tese de doutorado, desenvolvida por Leonardo Vasquez, aluno da própria universidade, trata da síntese de proteínas no interior dos ribossomos. A tese de pós-doutorado é de Luana Heimfarth, aluna da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e trata da aplicação de técnicas de ressonância magnética nuclear no campo da neurobiologia.

Momento decisivo

O incremento da produção científica e tecnológica de ponta no Brasil é um dos principais objetivos do governo brasileiro, segundo o que foi por diversas vezes afirmado pela própria presidente Dilma Rousseff. Atualmente, o país ocupa a décima terceira posição no ranking global de produção científica, mas diversos setores vivem ainda sob à constante ameaça de cortes orçamentários.

Responsável pela vinda de Kurt Wüthrich ao Brasil, o programa Ciência sem Fronteiras é dirigido conjuntamente pelos ministérios da Educação (MEC) e da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e tem a meta de construir um patamar sólido para o desenvolvimento da pesquisa e da produção científica no país. Segundo o governo, o objetivo é trazer para o Brasil 390 pesquisadores visitantes especiais até 2015, alguns deles de renome internacional.

Alto nível e esporte

Wüthrich foi a primeira estrela do mundo científico confirmada, mas deverá ter em breve a companhia de outro ganhador do Nobel de Química, o israelense Dan Shechtman, que levou o prêmio no ano passado. Shechtman, que esteve recentemente no Brasil para participar da 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), também será anunciado nos próximos dias como pesquisador visitante especial da UFRJ.

No Inbeb, o cientista suíço poderá também voltar a trabalhar com um antigo amigo brasileiro, o professor Jerson Lima Silva, que é coordenador do instituto. Wüthrich aposta no sucesso da parceria com a UFRJ: “Espero que minha vinda traga uma nova forma de pensar a educação e a infraestrutura em ciência no Brasil, além de ampliar as opções para as próximas gerações de cientistas brasileiros”, disse.

Respondendo à pergunta de swissinfo.ch sobre a escolha do Rio de Janeiro, Kurt Wütrich sorri antes de responder: “Não se esqueça que minha primeira formação foi de professor de esporte; provavelmente vou ver alguns jogos da Copa do Mundo e depois tem os Jogos Olímpicos.”

Nasceu em Aaberg, cantão de Berna, em 1938.

Sua primeira formação foi de professor de esporte, como também de sua esposa.

Licenciado em Química, Física e Matemática pela Universidade de Berna.

Doutorado pela Universidade de Basileia, em 1964. Ensinou e pesquisou em prestigiosas universidades suíças e estrangeiras.

Hoje é titular da cátedra de Biologia Estrutural no Instituto de Pesquisa Scrips em La Jolla, Califórnia, EUA, e é professor de Biofísica na Escola Politécnica Federal de Zurique (ETH). Suas áreas de pesquisa são a biologia estrutural e o genótipo estrutural.

Sua especialidade é a espectroscopia por ressonância magnética nuclear (RMN) das micromoléculas biológicas, em que introduziu o método de determinação das estruturas tridimensionais das proteínas e dos ácidos aminados em solução.

Seus trabalhos foram reconhecidos, entre outros, com Prêmio Louis Jeantet de Medicina, Prêmio Kioto de Tecnologias avançadas e o Prêmio Nobel de Química em 2002.

Além de atrair pesquisadores de renome internacional para o Brasil, o programa Ciência sem Fronteiras tem o objetivo de dinamizar a formação de estudantes brasileiros no exterior.

A meta do governo federal é conceder, com a ajuda da iniciativa privada, cem mil bolsas de estudo em outros países até 2015. Até agora, segundo o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, pouco mais de 10,5 mil bolsas já foram concedidas.

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