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A arte da previsão do tempo – da alta tecnologia às formigas

Raios caem sobre Zurique na noite de 24 de agosto de 2012. Keystone

Antigamente as pessoas se fiavam no folclore local e nas suas observações, hoje em dia os meteorologistas suíços usam satélites e supercomputadores para analisar e prever o tempo no quadro de uma ciência altamente globalizada.

Como essa mudança aconteceu, e por que nós jamais conseguiremos saber com muita antecedência o que o tempo fará, é o tema da exposição “O Tempo. Luz dos Sol, Relâmpagos e TempestadesLink externo”, atualmente em exibição no Museu Nacional de ZuriqueLink externo (Landesmuseum).

O ano de 2016 teve o dezembro mais seco em 150 anos, sendo que algumas regiões do país não registraram qualquer precipitação provocando incêndios florestais no Ticino e em Graubünden. Mas janeiro trouxe uma frente fria e a neve tão esperada.

O tempo continua imprevisível, mas mesmo assim nossa sede de conhecimento sobre ele permanece insaciada. Cerca de um milhão de pessoas assistem todos os dias o boletim meteorológico da televisão pública suíça. Um aplicativo meteorológico está entre os dez mais baixados na Suíça.

“Eu creio que muitas pessoas não têm noção de quanta tecnologia e ciência estão por trás da previsão do tempo que eles usam todos os dias,” diz Peter Binder, diretor-geral do Departamento Federal de MeteorologiaLink externo e Climatologia MeteoSwiss, que ajudou na montagem da exposição.

Estamos numa sala da exposição com imagens de satélite, radares de precipitação, e modelos de prognósticos que ajudam a explicar as condições climáticas do momento e as que estão por vir. Para fazer previsões precisas, os cientistas do tempo se baseiam em movimentos atmosféricos numa escala global, utilizando dados da Suíça e do exterior, totalizando mais de dez milhões de pacotes de dados por dia.

Tendência

Essa tecnologia permite realizar prognósticos bastante detalhados, diz Binder. Mas os meteorologistas não podem prever tudo.

“Acredito que as pessoas às vezes queiram saber como será o tempo no fim de semana depois do próximo e ter já detalhes sobre a previsão do tempo para daqui dez dias, mas isso é praticamente impossível,” contou ele a swissinfo.ch. “Você pode indicar uma tendência de como o tempo poderá estar nesse período, mas não os detalhes para um local específico.” 

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Ele diz que a meteorologia é uma disciplina muito internacional e colaborativa. “Em alguns tópicos, nós aqui na Suíça estamos bem na ponta, por exemplo: na previsão numérica do tempo, assim como na ciência e tecnologia dos radares meteorológicos.”

E este é um país cujas condições geográficas – íngreme, fragmentada, com muitas montanhas e vales – dificulta ainda mais a previsão.

Os “sapos” do tempo

Mas o clima não é só ciência. Ele é assunto de conversa solta e uma parte essencial do folclore (“rubro céu da noite, deleite do pastor”).

Alguns meteorologistas tradicionais mantêm uma enorme popularidade hoje em dia, como os profetas do tempo do vale de MuotaLink externo (Muotathal), na Suíça central.

“Eles fazem uma previsão para o verão e o inverno, e são também muito divertidos, aparecendo no rádio e na televisão. Todo mundo os conhece,” conta Jürg Burlet, curador da exposição. “Eles são um grupo de uma meia-dúzia de campesinos da montanha que fazem previsões baseadas em fenômenos do tipo: como as formigas se comportam, ou pelo cheiro da serragem quando se corta uma árvore.”

“Isso certamente tem a ver com a experiência e as observações. Os agricultores têm de ser bons observadores do tempo, de outro modo a safra morre.”

Será que há alguma verdade no que esses meteorologistas locais dizem? Binder faz uma pausa para pensar. “Para as regras locais do tempo eles podem ser bastante confiáveis, mas apenas no local e no curto prazo. Previsões mais longas – o que eles realmente gostariam de ter – é mais ou menos impossível,” disse.

Os Primeiros Observadores

Os suíços começaram a registrar o tempo bastante cedo na história, como atestam os diários do estudioso Renward Cysat (1545-1614), de Lucerna, e do Padre Joseph Dietrich (1645-1704), monge do mosteiro de Einsiedeln.

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Espetáculo do tempo

Este conteúdo foi publicado em Uma exposição no Museu Nacional de Zurique mostra o fascínio do tempo e explora a meteorologia dos seus primórdios até as medidas “high-tech” da atualidade.  A mostra, organizada através de uma parceria entre o Departamento Federal de Meteorologia e o serviço estatal MeteoSwiss, está aberta até 21 de maio de 2017.  (Texto: Isobel Leybold-Johnson)  

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Eles anotaram o que viram, várias vezes por dia, e ligavam o tempo ao efeito que provocava nas pessoas e no ambiente em volta deles. O Padre Dietrich escreve em agosto de 1675 que havia nevado várias vezes com muito pouca luz do sol. No geral, o verão havia sido úmido e frio. Isso significa baixos retornos no campo, e tempos difíceis para as pessoas.

Mais tarde o trabalho ficou mais científico. O meteorologista Albert Riggenbach (1854-1921), da Basiléia, foi um dos primeiros homens no mundo a fotografar nuvens para conseguir imagens mais precisas – antes disso, as descrições eram feitas em palavras e desenhos, levando a muitas confusões. Riggenbach foi coeditor do primeiro Atlas Internacional das Nuvens de 1896, que determinou a classificação das nuvens.

Observações históricas do clima, especialmente as dos últimos 150 anos, são preciosíssimas para o trabalho dos climatologistas de hoje, como Stephan Bader, da MeteoSwiss, cuja função é analisar como o tempo se desenvolveu, mais do que fazer previsões.

“Nós trabalhamos com essas observações usando-as como base para provar que uma mudança climática está acontecendo. As pessoas daquela época não estavam tão interessadas em previsões quanto no que elas viam. Esse é o alicerce para se fazer uma história climática de longo prazo. Aquelas pessoas não tinham ideia do presente que eles estavam nos dando com todas essas medições,” disse Bader.

Mudança

Uma das mudanças é que a temperatura subiu. “Podemos provar que estamos vivendo numa situação climática diferente de 30 a 40 anos atrás”.

Bader cita, como exemplo, o fato de que os verões estão mais secos e há mais canículas, como os verões superquentes de 2015 e 2003. Em termos de secas – a Suíça anunciou que planeja adiciona-las à sua lista de ameaças naturais – o verão é ainda muito mais marcado por períodos secos do que o inverno.

Quanto ao futuro, os cenários climáticos atuais indicam que a temperatura poderá subir na Suíça entre 1,5 e 5 graus célsius até o fim do século 21 dependendo das emissões futuras de gases globais, segundo a MeteoSwiss. Pode-se esperar uma redução substancial da precipitação no verão a partir da metade deste século.

Com todas essas transformações, nossa necessidade de prever o tempo continuará tão séria como nunca, seja baseada nos dados mais recentes ou no que as formigas nos dizem.

A exposição

“O Tempo. Luz dos Sol, Relâmpagos e Tempestades” abriu em 12 de janeiro de 2017 e continua até 21 de maio de 2017, no Museu Nacional de Zurique (Landesmuseum).

Criada em parceria com o Departamento Federal de Meteorologia e Climatologia MeteoSwiss.

A exposição é interativa: os visitantes podem experimentar todos os tipos de tempo por meio de um monitor, visitar um laboratório meteorológico em miniatura, criar suas próprias previsões de curto prazo, e fabricar sua própria tempestade num box de nuvens. Os especialistas da MeteoSwiss estão lá presentes todo domingo para informações mais aprofundadas.  

Adaptação: Eduardo Simantob

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