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Comunidades anabatistas retornam à pátria

Castelo de Trachselwald, onde muitos anabatistas permaneceram presos. swissinfo.ch

O governo suíço e as autoridades da igreja organizam diversos eventos comemorativos para reconciliar a Suíça com um capítulo obscuro do seu passado.

Mais de 200 eventos irão recordar a perseguição dos anabatistas durante a Reforma até o início do século XIX. Hoje eles estão divididos em grupos religiosos como os menonitas ou amish.

“Nós, como sucessores indiretos das autoridades políticas daquele tempo, lamentamos as injustiças cometidas contra tantas pessoas e o sofrimento causado”, declarou Werner Luginbühl, presidente do governo do cantão de Berna, durante a cerimônia inaugural em 24 de março.

As comemorações do ano anabatista começaram através de um concorrido culto na igreja protestante da cidade de Langnau, na região rural do Emmental.

Trata-se de uma zona histórica, onde as autoridades reprimiram brutalmente os anabatistas, os grupos de protestantes que desafiavam os preceitos dos grandes reformadores século XVI como Martinho Lutero e um dos líderes suíços da Reforma, Ulrich Zwingli, declarando que eles não eram suficientemente radicais.

Por sua recusa de aceitar as regras da nova Igreja e a insistência no batismo de adultos, ao invés do infantil, os anabatistas terminaram sendo encarcerados, torturados, expulsos do país e, em alguns casos, até mesmo executados.

A perseguição continuou até 1810 na Suíça, enquanto que na Holanda, onde também vivia uma considerável comunidade anabatista, esta durou apenas algumas décadas.

“Hoje em dia é incompreensível para a maioria das pessoas entender como o governo pode se comportar dessa forma. Por isso a idéia central das comemorações que estamos organizando é construir pontes entre as comunidades”, reforçou Luginbühl.

Tabu

Nos anos 70, houve uma reconciliação oficial entre os protestantes suíços e as igrejas menonitas. Porém a história da perseguição dos anabatistas permaneceu durante muito tempo um “tabu”, como explicou o coordenador principal do evento, Fritz von Gunten.

“Nós preferimos falar sobre o êxito e os aspectos positivos do passado e menos dos capítulos obscuros”. O funcionário ainda conta que existem anabatistas até hoje vivendo na região do Emmental. Todos estariam bem integrados nas suas comunidades, apesar da população em geral conhecer muito pouco da sua história.

Por essa razão, os organizadores decidiram organizar um programa para despertar a memória do passado. Para espanto de von Gunten, um grande número de projetos foi submetido a exame, dentre eles jogos, exposições e excursões por Berna e outros cantões vizinhos.

Paul Gerber, presidente da Conferência Menonita Suíça, declarou por sua parte que para a comunidade anabatista do país seria difícil sob proteção das autoridades.

Verdadeira fé

Em seu discurso, Gerber afirmou que o desafio atual para os menonitas seria manter-se fiel à sua fé, apesar da nova atenção que recebem.

Ele também recordou à audiência presente no evento que, apesar do sofrimento vivido pelos anabatistas por acreditar na sua crença, hoje existiriam pessoas na Suíça que continuam sendo perseguidas. Estes seriam os asilados políticos.

“Eles não são queimados ou afogados, porém a resposta (das autoridades) é com freqüência o rechaço”, afirmou.

Nos últimos anos, a Suíça endureceu suas leis de asilo, colocando-as entre as mais restritivas da Europa. Ao mesmo tempo, os partidos de direita também intensificaram as campanhas anti-estrangeiros, onde muitas vezes os muçulmanos são apresentados de uma forma obscura.

Segundo Samuel Lutz, a participação no ano comemorativo será uma boa oportunidade de promover a paz, o entendimento e o diálogo entre as religiões.

“Nossa forte convicção, no qual o que acreditamos é a verdade, não deve nunca conduzir a perseguição de outros”, afirmou.

swissinfo, Dale Bechtel

Uma série de eventos será realizada no cantão de Berna e na região noroeste da Suíça para recordar a perseguição dos anabatistas na Suíça.
O ponto alto das comemorações será um encontro internacional no Emmental, entre 26 e 29 de julho.
Estima-se em 600 mil o número dos descendentes dos anabatistas suíços que vivem na América do Norte.

Anabatistas (“re-baptizadores”, do grego “ana” e “baptizo”; em alemão: Wiedertäufer) são cristãos da chamada “ala radical” da Reforma Protestante. São assim chamados porque os convertidos eram batizados em idade adulta, até mesmo aqueles que já tivessem sido batizados em criança, crendo que o verdadeiro batismo só tem valor quando as pessoas se convertem conscientemente a Cristo.

Origem
A Reforma Protestante do século XVI reacendeu os princípios bíblicos da justificação pela fé e do sacerdócio universal foram novamente colocados em foco. Contudo, enquanto Lutero, Calvino e Zuínglio mantiveram o batismo infantil e a vinculação da igreja ao Estado, os anabatistas liderados por Georg Blaurock, Conrad Grebel e Félix Manz ansiavam por uma reforma mais profunda.

Os anabatistas fundaram então sua primeira igreja no dia 21 de janeiro de 1525, próxima a Zurique, na Suíça, de acordo com a doutrina e conduta cristãs pregadas no Novo Testamento e testemunharam alegremente de sua nova vida em Cristo.

É difícil sistematizar as crenças anabatistas daquela época, porque qualquer grupo que não era católico ou protestante e que batizava adultos, como os unitários socinianos ou semi-gnósticos como Thomas Muentzer eram rotulados como anabatistas. Esses grupos, junto com os Anabatistas constituem a Reforma Radical.

Em “In nomine Dei”, José Saramago retrata um conhecido episódio na história do movimento anabaptista que teve lugar na cidade de Münster (no norte da Alemanha), onde entre 1532 e 1535 foi estabelecida uma teocracia nas linhas das orientações desta denominação. Fonte: Wikipédia em português

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