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Cineasta suíço participa de festival no Rio e anuncia filme sobre João Gilberto

Dois homens falando na frente de uma tela de cinema
Georges Gachot (esquerda) e Pedro Sá, guitarrista da banda do Caetano, que fez a música de encerramento do filme. swissinfo.ch

Não existe outro cineasta na Suíça – e talvez em toda a Europa – tão ligado à música popular brasileira quanto Georges Gachot. Autor de filmes sobre Maria Bethânia, Nana Caymmi e Martinho da Vila, ele esteve no Brasil como convidado especial do Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro, que ocorreu em novembro de 2017.

GachotLink externo participou da mostra competitiva internacional com um novo e ousado filme – “Boites à Musique” – um experimento cinematográfico que revela a musicalidade de uma linha de produção de caixas de metal e tem sua música de encerramento composta pela Banda Cê, que acompanha Caetano Veloso.

Em conversa exclusiva com a swissinfo.ch logo após a exibição de “Boites à Musique” em première mundial, Gachot falou sobre sua relação com a música brasileira e sua convivência com os ícones do samba e da MPB. Falou também sobre seu próximo filme, com lançamento previsto para a Berlinale de 2018, um longa que conta a busca de um jornalista alemão para se encontrar com o mito João Gilberto, considerado o pai da Bossa-Nova.

swissinfo.ch: Como aconteceu sua aproximação com o Brasil e, em particular, com a música brasileira?

Georges Gachot: Antes de vir ao Brasil, eu fiz muitos filmes sobre música clássica na Europa, muitos perfis de compositores, como Claude Debussy, e de intérpretes, como, por exemplo, a pianista argentina Martha Argerich. Em 1986 ou 1988, não me lembro do ano com exatidão, eu fui ao Festival de Montreux e assisti ao show de Maria Bethânia. A partir desse momento, minha vida mudou completamente. Ali, eu pensei: vou tentar fazer um filme sobre Maria Bethânia. Consegui um encontro com ela e mostrei meu filme sobre Martha. Ela assistiu e depois me disse: ‘ok, eu quero um filme sobre mim também’.

Em 2005 eu fiz esse filme sobre Bethânia, que se chama “Música é Perfume”, e durante a produção eu encontrei a Nana Caymmi, também uma mulher poderosa musicalmente, integrante da Família Caymmi, mas que, por outro lado, tem uma musicalidade diferente de Bethânia. Esse contato originou o filme “Rio Sonata”, que saiu em 2010.

Mais tarde, conheci Martinho da Vila e surgiu o filme “Samba”, realizado em 2014. Devo confessar que eu não gosto muito de carnaval, não é uma coisa muito interessante para mim. Mas, um dia Martinho me levou ao desfile da escola de samba Unidos de Vila Isabel, e aí mesmo comecei a fazer o filme. É uma trilogia sobre a música brasileira, da qual gosto muito.

swissinfo.ch: Como foi a relação com esses ícones da música brasileira? Foi difícil falar sobre eles?

G.G.: Eu estou acostumado a encontrar pessoas famosas. Além disso, eu não sou jornalista, não tinha perguntas a fazer. Meu objetivo sempre foi descobrir a música. Talvez tenha sido isso que fez com que os artistas gostassem no meu trabalho.

swissinfo.ch: Como foi a acolhida desses filmes na Suíça e no mercado internacional de um modo geral?

Todos os três filmes foram coproduzidos com a tevê suíça alemã ou com o canal Arte, e foram exibidos na televisão e no cinema. Eu considero o filme da Bethânia um sucesso mundial, pois foi exibido nos Estados Unidos, na Espanha, na Alemanha e na França, onde ficou vários meses em cartaz. Com o filme de Nana Caymmi foi um pouco mais difícil porque ela não é tão conhecida na Europa quanto a Bethânia. Já o filme “Samba” foi exibido com destaque na televisão porque era o ano da Copa do Mundo, e o canal Arte chegou a exibi-lo várias vezes.

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swissinfo.ch: Os filmes de arte têm vida difícil no Brasil no que diz respeito à distribuição e espaços para exibição? Como você percebe essa realidade?

G.G.: A mídia mudou muito de cinco anos para cá. Hoje, para lançar um filme, não posso seguir o mesmo caminho que percorri para lançar o filme de Bethânia em 2005. Hoje, o mercado é muito mais difícil, há muito mais filmes e não há espaço na programação de cinema do Brasil, onde um filme raramente fica mais de duas semanas em cartaz. Isso não acontecia há dez anos. Outro exemplo é que eu vendi muitos DVDs do filme da Bethânia, e esse mercado também caiu. O importante é aprender outras formas de divulgar o filme.

swissinfo.ch: Fale um pouco sobre o “Boites à Musique”, filme que concorre no Festival de Curtas do Rio. É uma abordagem nova sobre a música, não?

É um filme diferente, a começar por ser um curta-metragem. Eu só havia feito um curta em 1989, há quase 30 anos. Todos os meus outros filmes são longa-metragem. Esse filme é uma experiência onde eu tentei um caminho especial que nunca havia seguido. Eu quero trabalhar mais sobre isso, andar na rua, ouvir a musicalidade dos barulhos que as pessoas fazem. O que me interessa em termos de cinema é a música. Eu entrei no mundo do cinema por causa da música. Esse filme é uma experiência para escolher uma outra maneira de exprimir a minha musicalidade dentro dos filmes.

swissinfo.ch: Como está o projeto do filme sobre João Gilberto?

O filme está quase finalizado. Esperamos fazer o lançamento na Berlinale do ano que vem. Mas, não é um filme exatamente sobre o João Gilberto. É um filme sobre um homem que tentava encontrar João Gilberto. Ele se chamava Marc Fischer, era um jornalista alemão, e sua história é terrível. Ele escreveu um livro, que inclusive foi publicado no Brasil, chamado “Ho-ba-la-lá – à procura de João GilbertoLink externo”.

Fischer esteve no Brasil e encontrou muitas pessoas próximas a João, como Miúcha, João Donato e Marcos Valle, voltou para Berlim e escreveu um livro muito interessante, em forma de uma história de detetive. Mas, uma semana antes do lançamento do livro, o jornalista se matou. Ele tinha apenas 40 anos e nunca encontrou João Gilberto.

Eu descobri esse livro e ele me tocou muito, pois eu também tentei muitas vezes encontrar João Gilberto. Meu filme fala sobre esse sentimento de tentar encontrar uma pessoa, mas isso nunca acontecer. Há muitas músicas do João no filme, eu estive em Diamantina, no famoso banheiro onde ele inventou a Bossa-Nova.

Foco Suíça

Em sua 28ª edição, o Festival Internacional de Curtas do Rio de JaneiroLink externo (Curta Cinema) tem a Suíça como uma das principais atrações. Batizada de “Foco Suíça”, uma mostra especial traça um panorama da produção cinematográfica suíça ao exibir 18 curtas de autores como Carmen Jaquier, Julia Furer, Maxime Kathari, Peter Volkart e Ursula Meyer, entre outros.

Na mostra competitiva internacional, além de “Boites à Musique”, de Georges Gachot, outro filme suíço concorrente é “Les Intranquilles”, de Magdalena Froger, também presente ao Festival.

A presença suíça no Rio é completada pela cineasta Eileen Hofer, que integra o júri internacional do Curta Cinema. Hofer também concedeu uma masterclass durante o Festival, que exibiu dois de seus filmes: “Salade Russe” foi exibido na cerimônia de abertura e “Nosso Mar” Look” faz parte da programação da mostra “Foco Suíça”.

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