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“Les Cinq Suisses” ouviram-se na Casa da Música do Porto

O maestro Stefan Blunier durante a sua apresentação no Porto. Alexandre Delmar

A ideia foi da direcção da instituição cultural portuguesa e agradou logo a um dos cinco suíços. O maestro Stefan Blunier aceitou o convite para dirigir a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, no início de fevereiro em um concerto com obras de compositores suíços.

Na programação: Arthur HonnegerLink externo (Sinfonia n.º 1), Heinz HolligerLink externo (Duas Transcrições de Liszt), David Philip Hefti (Changements) e Michael JarrelLink externo (Três estudos de Debussy).

Stefan BlunierLink externo, que nunca tinha dirigido um concerto apenas com compositores suíços, realça a invulgaridade da proposta feita ao público da Casa da MúsicaLink externo: “Acho que temos um programa fantástico. Uma primeira peça poderosa. A segunda peça, de Holliger, é a mais negra que conheço. É uma música muito negativa. Depois, temos Hefti com as suas cores fantásticas e depois, no fim, um compositor com um estilo muito francês”. 

“Tenho a certeza que Arthur Honegger é o mais famoso dos quatro. Por que não fazer Honegger? Mas é bastante inusual tocar a Sinfonia n.º1. Normalmente, em concerto ouve-se a n.º 3. É uma peça maravilhosa, desconhecida, mas cheia de espírito, poder, paixão e um segundo movimento muito religioso”.

O sonho

“Fiz imensas coisas boas, mas tenho um sonho: a Ópera Estatal de Viena. Eles fizeram-me um convite para um projecto há alguns meses, mas eu não estava disponível. É o sonho de qualquer maestro, tenho a certeza. É a casa sagrada da ópera. Provavelmente, não é fácil ficar lá, mas é o meu sonho”, conclui Stefan Blunier.

A Honegger, juntou-se Hefti, por sugestão do maestro suíço, que o conhece ou não vivesse na mesma cidade do que ele, Manheim, na Alemanha: “Trata-se de um dos compositores jovens mais famosos. Ganhou imensos prémios. Utiliza cores muitos especiais no seu trabalho. Adoro trabalhar com as suas obras”.

O grupo de cinco suíços completa-se com Jarrel – “não sabia que ele era suíço” (risos) – e Heinz Holliger, “um oboísta muito famoso, que escreveu peças muito importantes. Acho que uma das melhores é ‘Duas Transcrições de Liszt’”.

O concerto “Les Cinq Suisses” contou com o apoio da Pro HelvetiaLink externo, Fundação Suíça para a Cultura.

“É realmente um sonho estar aqui”

Esta não foi a primeira vez que a Casa da Música recebeu Stefan Blunier. Ainda em Dezembro, o maestro suíço tinha dirigido um concerto, também ele “inusual”: “Tivemos três peças de Liadov, não muito conhecidas; o concerto para piano e orquestra nº 4 de Rachmaninoff, desconhecido; e a Sinfonia nº 3 de Sergei Prokofieff, que nunca tinha ouvido ao vivo num concerto. E pensei que era muito perigoso… mas que se o público viesse, iria ficar contente. E esgotou, o que foi uma surpresa para mim”.

“Gosto muito de vir cá frequentemente, porque têm sempre uma programação muito inusual. Isso é bom para mim, porque eu detesto dirigir sempre peças básicas e mainstream. Aqui pedem-me sempre para fazer algo especial, o que é óptimo, porque gosto de encontrar novos repertórios. Na Alemanha sou bastante conhecido por fazer peças inusuais. Aprendo com bastante rapidez. Por isso, é muito bom alargar, cada vez mais, o repertório.”

Blunier gosta imenso do Porto e de trabalhar com os músicos da instituição portuense: “É uma orquestra com imensa paixão e têm uma boa energia no concerto”.

“É muito difícil para os maestros suíços dirigirem na Suíça”

Nos últimos oito anos, Stefan Blunier foi o Director Geral de Música da cidade alemã de Bona, onde foi responsável pela Orquestra Beethoven e pela Ópera de Bona, mas há alguns meses que se tornou freelancer: “Estou bastante feliz por poder trabalhar com novas orquestras e por poder viajar bastante. É outra vida. Não tenho um salário certo todos os meses, mas é uma aventura. Tenho novos projectos e orquestras”.

Em Março vai dirigir Wozzeck, a primeira e mais famosa ópera do compositor austríaco Alban Berg, na Ópera das Nações, em Genebra. Um concerto no país natal que é uma excepção: “É muito difícil, enquanto maestro suíço, dirigir na Suíça. É triste, mas conheço imensos maestros suíços que dirigem orquestras em todo o mundo, mas nunca no seu país natal. Não sei porquê. Tenho um bom nome na Alemanha e nunca dirigi na Suíça. Genebra é, provavelmente, apenas França (risos) e não, realmente, Suíça. Talvez seja demasiado jovem. Quem sabe em 20 anos, talvez possa começar a fazer mais na Suíça. Eu gostaria de fazê-lo, mas acho que as pessoas suíças não gostam dos maestros suíços”.

Biografia

Stefan Blunier nasceu em Agosto de 1964, em Berna. Estudou piano, trompa, composição e direcção na cidade natal e na Escola Superior Folkwang, em Essen.

Trabalhou em casas de ópera em Mainz, Augsburg e Mannheim, antes de se tornar director musical e maestro titular do Staatstheater Darmstadt, entre 2001 e 2008. Depois, foi até 2016, maestro titular da Orquestra Beethoven e da Ópera de Bona.

Como convidado, dirigiu quase todas as orquestras sinfónicas das rádios alemãs, a Orquestra da Gewandhaus de Leipzig, a Sinfónica de Estugarda e as principais orquestras da Dinamarca, Bélgica, Itália, Suíça e França. Colaborou com as mais importantes casas de ópera de Munique, Hamburgo, Leipzig, Estugarda, Berlim, Montpellier e Berna, e ainda com a English National Opera e o Festival Schwetzinger.

Filipa Soares

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