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Pesquisadores exploram patrimônio musical de Montreux

"Black Maria", o estande de visualização da EPFL-ECAL, levou cerca de 18 meses para ser concluído. epfl.ch

Com o Festival de Jazz de Montreux acontecendo, os organizadores estão procurando melhorar e aproveitar do seu vasto arquivo audiovisual dos últimos 45 anos, proporcionando ao público o acesso a um patrimônio de ritmos variados.

Os primeiros resultados do Projeto Montreux Jazz Digital, que utiliza o arquivo exclusivo do evento para pesquisa, começaram a surgir através dos chamados “Sonic umbrellas” e cabines de alta tecnologia em forma de casulo com paredes de alto-falantes para a visualização das gravações.

Sentado na frente de uma tela curva, especialmente concebida pela escola de design de Lausanne ECAL, o diretor e fundador do festival, Claude Nobs, testa seu novo brinquedo. “A cabine recria totalmente a atmosfera do festival. É uma coisa fantástica, o som é incrível, as imagens de qualidade e a busca no arquivo é muito fácil”, diz Nobs.

Cerca de 200 designers e pesquisadores em audiovisual trabalharam no casulo, que levou 18 meses para ser concluído.

O protótipo de seis toneladas, também chamado de “Black Maria”, é o primeiro resultado da colaboração do festival com o Instituto Federal de Tecnologia de Lausanne EPFL. O projeto, lançado em 2007, conta com a ajuda de diversos patrocinadores para financiar o custo de 22,5 milhões de dólares.

Alexandre Delidais, do Centro MetaMedia da EPFL, que coordena a parceria desde 2011, disse que os arquivos do festival geram um enorme interesse entre os estudantes.

“Quando começamos o projeto, havíamos 15 pessoas extremamente motivadas e interessadas em volta da mesa. Este magnífico presente é uma verdadeira fonte de inspiração”, disse à swissinfo.ch.

“Sonic umbrella”

Além da cabine de exibição, cerca de dez grupos de pesquisa, ou 40 estudantes da EPFL, estão usando as imagens recém-digitalizadas em projetos e experiências inovadoras.

Entre elas o chamado “guarda-chuva sonoro” (sonic umbrella), uma pequena estrutura em que até quatro pessoas podem se sentar para ouvir música ou escapar do barulho em torno de um café, por exemplo.

O guarda-chuva utiliza técnicas acústicas para concentrar e manter o som em uma área pequena. Nos testes, a música tocada a 70dB diminuía para 40dB em apenas dois metros de distância.

“Além de uso em bares e restaurantes, você poderia imaginar um sistema de microfones instalado no teto de sua casa, com música personalizada que lhe acompanha em cada cômodo da casa, ou comentários nas salas de um museu”, sugere o especialista em acústica Xavier Falourd.

Digitalização

Desde a primeira edição do festival em 1967, Nobs manteve um registro da música tocada lá e construiu um arquivo único.

Ao todo, 5.000 horas de gravações de TV e áudio de 4.000 concertos foram coletados em 10.000 fitas originais em uma dezena de formatos diferentes.

A Unesco, a agência cultural das Nações Unidas, está considerando a classificação do arquivo como patrimônio cultural mundial.

Como parte do projeto digital, a EPFL supervisiona a digitalização em tempo real dos arquivos desde 2011. Até agora, cerca de 40% do total – 15.000 horas de trabalho – foi armazenado no formato “Linera Tape-Open” (LTO).

Todo o processo deve ser concluído até o final de 2013, com cópias armazenadas no chalé de Nobs e na EPFL. O arquivo terá de voltar a ser transferido a cada sete a dez anos em um formato da “próxima geração” para manter o ritmo com a tecnologia.

Jazz Cafes

No entanto, os sócios do projeto têm planos muito maiores para os arquivos.

Este mês, um júri irá decidir o vencedor de um concurso de arquitetura para a concepção de um “Laboratório de Jazz de Montreux”, uma mistura do “Jazz Café” de Montreux, das salas de concertos e de centro de pesquisa, que será aberto no campus da EPFL ao lado da biblioteca futurista Learning Centre no final de 2013.

“Isso vai nos permitir testar toda essa tecnologia e os arquivos em um ambiente real”, disse Delidais.

Existe um problema para os fãs de música, no entanto. Até agora, o acesso a imagens dos concertos só era possível através da rede de Montreux Jazz Cafes em Genebra e Zurique, e logo em Londres, Nova York, Paris, Frankfurt e Copenhague, além de um número limitado de DVDs e CDs “Live at Montreux”.

Público mais amplo

“Você não pode simplesmente colocá-los no YouTube, mas as coisas podem evoluir”, disse Delidais.
 
Montreux Sounds, a empresa criada por Nobs em 1995 para gerir a coleção, possui as fitas, mas a maioria dos direitos permanece com os músicos. Mas os contratos existentes preveem que os arquivos possam ser usados para fins educacionais e de pesquisa.

“Há muito interesse de outras universidades, por isso estamos tentando encontrar uma maneira de compartilhar o acesso através do banco de dados do arquivo principal da EPFL”, disse Nobs.

O fundador do festival está convencido de que os arquivos podem acabar na internet, alcançando um público muito mais amplo. “Acho que a internet será um grande veículo no futuro. Quem quisesse assistir a um show completo poderia pagar uma taxa que iria ao músico”

“Sempre foi meu sonho compartilhar, tanto música, vinho ou uma caminhada. Compartilhar os arquivos é minha prioridade”, disse Nobs.

O 46° Festival de Jazz de Montreux acontece entre os dias 29 de junho a 14 de julho.

Os destaques incluem os brasileiros Sergio Mendes, Gilberto Gil, Adriana Calcanhotto, Luiz Melodia e a banda Cidade Negra, entre os internacionais Bob Dylan, Van Morrison, Herbie Hancock, Nile Rodgers and Chic, Quincy Jones, Pat Metheny, Bobby McFerrin e Chick Corea, Noel Gallagher, Lana Del Rey, Juliette Greco, Dr John, Tony Bennett e Janelle Monae, entre outros.

Claude Nobs lançou o festival em 1967 com um orçamento de 10 mil francos suíços (o orçamento atual é de mais de 20 milhões de francos).

A banda Deep Purple escreveu a famosa música Smoke on the Water sobre o festival após um incêndio que aconteceu no casino da cidade logo após uma apresentação de Frank Zappa. Nobs salvou vários jovens do fogo.

Adaptação: Fernando Hirschy

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