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Garotos brasileiros participam do maior carnaval suíço

Alex Hielbe e o filho Cassiel ensaiam em casa. swissinfo.ch

O carnaval de Basileia, o Fasnacht, deste ano começa pontualmente às 4 horas do dia 2 de março – a chamada Morgestraich. A festa dura 72 horas – termina às 4 horas de quinta-feira.

Este carnaval organizado tem atraído brasileiros que convivem com a cultura suíça. Cassiel Hielbe, de 9 anos, e Werles Machado, de 11, participam de cliques e adoram tocar tambor.

É um momento mágico. Todas as luzes se apagam. Todos os grupos tocam juntos a mesma melodia. Veem de diferentes cantos da cidade e caminham no mesmo passo, com suas lanternas coloridas acompanham a música – um tipo de marcha. Nesse dia só participam da festa os grupos de flauta e tambor – na segunda à tarde, outras bandas percorrem Basileia com outros tipos de música.
Até mesmo a formalidade do idioma é quebrada: as pessoas não se tratam por senhor ou senhora, mas por você. No alemão, é o informal du em vez do Sie. Durante a madrugada, todos os bares e restaurantes transformam-se em ambientes decorados para o Fasnacht, onde pode-se provar a Mehlsuppe – tradicional sopa de farinha que aquece os notívagos.

Tocar um instrumento

Mas não é nada fácil entrar para esta turma. Antes de se apresentar para valer no Fasnacht é preciso aprender a tocar bem um instrumento – com muito ensaio e aulas. Há dois anos Cassiel dedica-se ao aprendizado do tambor em sua clique – os Naarabachi.

Em geral, os garotos da idade dele ensaiam três anos para tocar na mais tradicional e cobiçada madrugada de Basileia. Cassiel foi mais rápido. E tem escola – de outro tambor, que fica do lado debaixo do Equador.

Aos três anos o garoto acompanhou os pais no carnaval da Bahia: tocou no Pelourinho. A percussão e o futebol são seus hobbies. Mas ele tem uma explicação simples para esta ligação com o tambor. “Nasci assim. Gosto de tocar”, diz.

No dia 2 ele completa 9 anos – em grande estilo, na Morgestreich, a apoteose de Basileia. Ele tem talento, mas a música está na sua rotina.

Apoio musical

A mãe, Ana Baldini, é professora de Pilates, mas foi produtora musical de grupos de carnaval de sua terra: só a Bahia. Hoje ela acompanha o filho aos ensaios, ajuda na preparação da fantasia e adaptou-se ao cortejo da clique – nada de dançar ou se movimentar muito. O carnaval de Basileia não é do povo. Nessa noite de tambor e flauta ou quando se acompanha um grupo – o chamado cortejo – o público não pode dançar – só ver a banda passar.
“Na Bahia, Cassiel curte o nosso carnaval, que é alegria, dança e tudo para fora. Quando ele está aqui, se diverte com esta festa: mais introvertida, organizada e técnica”, diz Ana. “Ele transita nesses dois mundos e é feliz nos dois, com o nosso apoio, é claro”.
O pai, Alex, é músico. Toca saxofone e vez ou outra ensaia em casa com o filho. “Como músico, gostaria que ele aprendesse outro instrumento. Mas nós aceitamos a escolha dele e acho que está ganhando conhecimento musical com o tambor”, diz.

Passo a passo

Nos grupos de Fasnacht nada é improvisado. Aprendem com partituras e a segurar de um modo especial as baquetas. É preciso tempo para poder desfilar sem atravessar a bateria e comandar a massa – o tambor dá o ritmo da marcha.
“Tem de andar de um jeito certo para acompanhar o grupo”, explica Werles Machado. Ele também tem raízes no samba: filho de cariocas, mora em Basileia há apenas 3 anos, com a mãe e o padrasto. Entrou para o grupo Basler Dibly e somente em 2010 irá tocar na Morgestreich. Este ano ele sai numa espécie de comissão de frente, distribuindo folhetos sobre o tema de sua clique – mas nada de andar com o gingado de sambista.
Werles também tem todo o apoio da família. Acabou de ganhar baquetas lindas e novas do padastro, que toca violão no Schnitzelbang – apresentações em restaurantes com humor crítico sobre diferentes temas.

Participação

Para estar no Fasnacht, não basta pertencer a um grupo, tem de participar. Não há a mordomia de comprar fantasias ou abadás: cada integrante tem de fazer sua máscara e sua roupa. “Sempre ajudo a costurar a fantasia e gosto que ele participe do carnaval”, explica Emeli, mãe de Werles. Ela não toca nenhum instrumento, mas dá o suporte à família carnavalesca.

Assim como o carnaval brasileiro, o de Basiléia é preparado com muita antecedência. Cassiel e Werles têm em casa um tambor silencioso – o Böckli. Ensaiam o ano inteiro – mas em silêncio. É a batucada basilense.

swissinfo, Lourdes Sola, Basileia

Origem

Desde 1529, quando os príncipes que apoiavam Martim Lutero protestaram contra o imperador e a nobreza católica, o Fascnacht começa na segunda feira, depois da quarta-feira de cinzas.

Pausa nas guerras

A festa só não ocorreu durante a Primeira e a Segunda Guerras – de 1914 a 1918 e de 1939 a 1945. Em 1920, durante a epidemia de gripe espanhola – quando morreram cerca de 40 milhões de pessoas em três anos – a festa foi apenas adiada por quatro semanas.

Cortejo

Segundas e quartas-feiras, a partir das 13h30, os grupos saem em cortejo, em uma rota definida que percorre a cidade toda. São cliques e até mesmo grupos de Guggenmusik.

Schnitzelbänke

São os chamados cantores de protesto e surgiram em 1832. Escolhem temas atuais e escrevem versos irônicos e sarcásticos. Apresentam-se em restaurantes. Quem não entende o Baseldeutsch pode até se divertir com a atmosfera, mas corre o risco de não rir no final – nem sempre é fácil entender a piada.

Morgestreich

Ocorre desde 1835. Com a proibição de portar tochas abertas pela cidade, as primeiras lanternas surgiram em 1845. Os grupos pegam suas lanternas no domingo e iluminam a cidade com beleza e humor. Há trens extras para facilitar o acesso à cidade. Na terça- feira, começam a levá-las à Münsterplatz, onde ficam expostas.

Plakette

É uma espécie de broche temático que surgiu em 1911. Este ano estampam várias máscaras – Larven. O lema é “jetz simmer laggiert” – no dialeto de Basileia, trata-se de uma crítica à crise econômica. A venda arrecada verba para os grupos, que não têm subsídios ou patrocínios. Os preços variam de 8 a 100 francos – em cobre, prata, ouro ou bijuteria. Quem circula sem Plakette corre o risco de ser atacado por Waggis, personagens do carnaval, com confetes.

Música na praça

Terça feira à noite, a Marktplatz apresenta vários grupos de Guggenmusik, música mais alegre com percussão e metais. Esses grupos percorrem a cidade durante o carnaval – e levam os mais animados a dançar.

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