Perspectivas suíças em 10 idiomas

Madredeus na Suíça para celebrar 25 anos de carreira

O grupo Madredeus com a nova cantora Beatriz Nunes (centro). swissinfo.ch

Madredeus comemora 25 anos de carreira com "Essência". Para assinalar a ocasião, o mais internacional dos grupos musicais portugueses, além de lançar o novo trabalho discográfico "Essência", voltou à estrada para uma digressão internacional.

Na Suíça, os Madredeus de Pedro Ayres Magalhães vão marcar presença no Festival AVO Session.

Será a 30 de outubro que os Madredeus sobem ao palco do Teatro Musical da Basileia para revisitar o legado do projeto que se apresenta com uma nova formação. A Pedro Ayres Magalhães e Carlos Maria Trindade juntam-se Jorge Varrecoso, António Figueiredo e Luís Clote (dois violinos e um violoncelo, respetivamente) e a voz impressionante de Beatriz Nunes.

Quando se está à frente de um projeto como os Madredeus a agenda de concertos não costuma deixar muito espaço de manobra. Por isso, swissinfo.ch aproveitou uma pausa na digressão internacional para falar com Pedro Ayres Magalhães. No miradouro da Graça, onde se tem uma das mais belas vistas da cidade de Lisboa, olhando o castelo de São Jorge, a Baixa Pombalina e o Bairro Alto, o líder dos Madredeus falou-nos dos 25 anos de carreira, do novo disco, da nova formação e da Suíça.

A extraordinária novidade humana 

A coincidência de comemorar um quarto de século com a apresentação de um novo disco e com um novo Ensemble é algo que Pedro Ayres Magalhães identifica como “um bom momento”. E acrescenta: “É uma boa notícia nós termos conseguido reunir um grupo de músicos excepcionais para continuar a apresentar e fazer viver a música que temos vindo a fazer, que os Madredeus apresentaram. Acho que é porreiro existir este grupo!”

Em nível musical, apesar de os temas não serem inéditos, Essência é um trabalho muito diferente. Das 180 canções editadas pelos Madredeus, ao longo da sua existência, “foi selecionado um grupo que, por um lado, revisita o reportório todo e, por outro lado, pode viver bem com a nova instrumentação.”

Ao longo da sua existência os Madredeus passaram por várias fases e assumiram várias formações, com diferentes instrumentos. A guitarra, os sintetizadores, e a voz feminina, são o trio intocável que sempre esteve presente na base da formação. “Desta vez acompanhamos esse trio – guitarra, voz e sintetizadores – com dois violinos e um violoncelo. Com músicos excecionais que se juntaram a nós, são da Ópera do São Carlos, portanto da (Orquestra) Sinfónica Portuguesa, e são solistas extraordinários.”

Para Pedro Ayres Magalhães, o critério que esteve presente para reunir a nova formação foi o juntar músicos que gostam da música dos Madredeus e a querem interpretar. “Portanto, a novidade é humana, são as pessoas, o reportório é o mesmo. A escrita da música para os violinos foi feita pelo Jorge Varrecoso. Os arranjos de voz, guitarra e sintetizadores permanecem os mesmos. Para nós, os antigos membros do grupo, foi uma maneira muito surpreendente de o grupo se continuar.”

O aguardado reencontro com o público suíço 

Apesar dos Madredeus contarem no seu historial mais de 1000 espetáculos, em 40 países, com salas esgotadas, na memória de Pedro Ayres Magalhães os concertos em território suíço são lembrados com um carinho particular: “Lembro-me de ter tocado em Neuchâtel, em Genebra, … fomos lá mais do que uma vez. De Neuchâtel lembro-me de ter tocado na Catedral, e gostei muito. Mas isso já foi há muitos anos. Tocámos também no Festival de Nyon, lembrei-me agora que foi fantástico.”

O próximo concerto dos Madredeus em território helvético será gravado em áudio e vídeo, e, nas palavras do líder da banda, integra-se num “super-festival” que é “uma coisa exemplar”. Em Basileia, a atmosfera intimista do AVO Session é acentuada pela proximidade com os artistas, o que, se adicionarmos o cenário elegante de velas sobre mesas redondas, contribui para criar um ambiente onde músicas como “A Estrada da Montanha “, “Sonho” ou “Ao Longe o Mar” (tema de abertura em Essência) se podem transformar na banda sonora de uma noite inesquecível.

Na vanguarda da Música, a criação plástica dos Madredeus 

Para aqueles que gostam de catalogar a música e de a organizar por prateleiras, Pedro Ayres Magalhães esclarece que Madredeus “não é música tradicional portuguesa, não é fado, não é rock, nem pop, nem canção ligeira.” … “É uma música de vanguarda. É uma música, mesmo em Portugal, bastante original. É uma criação plástica.” E acrescenta: “É a tradição de um grupo particular de compositores, músicos, que criaram uma música para viajar. E depois, como viajaram mesmo, inspiraram-se nessa viagem para escrever mais música. Uma música que pensamos que todo o mundo gosta. E é uma maneira dessas pessoas visitarem o som da nossa língua, da língua portuguesa. Pronto é isso.”

Apesar de terem vendido cerca de um milhão de discos, “mesmo em Portugal, a música dos Madredeus é pouco conhecida.” Aquilo que o líder do grupo identifica como “fantasia musical de raiz portuguesa” não se enquadra nas correntes dominantes e, então, o espaço de difusão nas rádios e televisões é reduzido. Por isso, assume como “obrigação” o “dar a conhecer essas músicas que, não sendo inéditas, ainda não são conhecidas.” Músicas que fazem parte de um largo reportório que é praticamente desconhecido. “Nós, ainda hoje, andamos a tentar que a nossa música seja conhecida.”

Os Madredeus são um dos grupos musicais portugueses de maior projeção mundial. A sua música combina influências da música tradicional portuguesa com a música erudita e com a música popular contemporânea.

A musicalidade do grupo sempre foi erroneamente referida como fado, género musical português mais conhecido internacionalmente, sobretudo pela imprensa fora de Portugal. O grupo nunca se descreveu desta forma, ainda que declarasse existir uma aproximação ao “espírito musical” do fado.

Nos seus vinte anos de carreira, os Madredeus lançaram 14 álbuns e estiveram em turnê em 41 países – incluindo a Coreia do Norte e um festival de música na Noruega, dentro do Círculo Polar Árctic.

Surgimento: os elementos fundadores do grupo foram: Pedro Ayres Magalhães (guitarra clássica), Rodrigo Leão (teclados), Francisco Ribeiro (violoncelo) falecido em Setembro de 2010, Gabriel Gomes (acordeão) e Teresa Salgueiro (voz). Magalhães e Leão formaram o grupo em 1985, Ribeiro e Gomes juntaram-se a eles em 1986.

Na sua busca por uma vocalista, descobriram Teresa Salgueiro numa casa noturna de Lisboa, quando esta cantava alguns fados numa reunião informal de amigos. Teresa foi convidada para uma audição e aí surgia o grupo, o qual ainda não tinha um nome.

A proposta inicial era a de uma oficina criativa, à qual todos os músicos levavam suas ideias e compunham em conjunto os temas e arranjos. Em 1987, o local de trabalho do grupo, o Teatro Ibérico (antiga igreja do Convento das Xabregas, num bairro de Lisboa chamado Madredeus) serviu de estúdio de gravação para mais de quinze temas reunidos à época em um LP duplo, depois convertido para o formato de CD. Chamaram-no de Os dias da Madredeus e daí viria o nome do grupo.

O carácter inovador do álbum fez com que os Madredeus se tornasse um fenómeno instantâneo de popularidade em Portugal à época. (Texto: Wikipédia em português)

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR