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Suíços redescobrem professor dos impressionistas

O pintor suíço Charles Gleyre tinha um estilo distinto. musees.vd.ch/fr/musee-des-beaux-arts

O nome do pintor suíço do século XIX Charles Gleyre parece ter sido esquecido em sua terra natal.

No entanto, seu estilo distinto o tornou famoso mundialmente em sua época, e ele ensinou e influenciou grandes nomes como Claude Monet, Auguste Renoir e James Abbott Whistler.

Nascido no remoto vilarejo de Chevilly, no cantão de Vaud (oeste), em 1806, Gleyre mudou para a França para viver com um tio após a morte de seus pais, quando ainda era criança.

Ele chegou a levar um toque liberal à cena artística de Paris nos anos 1840-60. Mas o vínculo com sua terra natal não foi perdido e ele acabou sendo contratado para pintar dois quadros históricos no seu cantão de origem.

Seu corpo agora está enterrado no vilarejo em que nasceu, para onde foi finalmente retornado após não menos do que quatro mudanças.

O Musée Cantonal des Beaux-Arts, em Lausanne, possui cerca de 500 obras de Gleyre, incluindo desenhos, que não são mais expostos hoje em dia por falta de espaço e de interesse do público.

Valores liberais

Em 1843, Gleyre herda um ateliê de ensino em Paris. “Ele logo se torna conhecido no meio parisiense por ser livre e liberal em sua abordagem”, conta à swissinfo.ch William Hauptman, estudioso e especialista de Gleyre

Professores contemporâneos de Gleyre estimulavam seus alunos a seguir o estilo dele.

“Gleyre tinha interesse em desenvolver cada pessoa em particular, sem impor, tanto quanto sabemos, um estilo ou outro, o que é excepcional”, disse Hauptman.

Além disso, ele se distinguiu pelo fato de dar aulas gratuitas, já que não precisava do produto de suas pinturas para viver e sabia que era difícil para um jovem pintor pagar seus estudos.

Dois dos princípios de Gleyre – o traço é mais importante do que a cor e o preto é a cor fundamental da harmonia tonal – chegaram a influenciar as obras do artista americano Whistler.

Gleyre era conhecido como acadêmico e pintor romântico esporádico. Mas algumas de suas técnicas e pequenos detalhes revelam o talento de um pioneiro. “O Dilúvio”, que está atualmente exposto no Museu de Belas-Artes de Lausanne, retrata o que resta após a grande inundação, com a arca de Noé em segundo plano.

“Tudo nesta intrigante imagem, da maneira como o assunto é tratado à técnica aplicada, está à frente do tempo de Gleyre”, explica Catherine Lepdor, curadora do museu.

Ele foi o primeiro pintor a usar óleo coberto com pastel, uma técnica usada mais tarde por Edgar Degas, criando roupas surreais para os dois anjos que varrem acima da terra árida.

Pinturas da Suíça

Após ter terminado a formação artística, Gleyre parte para Roma, em 1830, onde conhece um industrial americano que o convida a participar de uma viagem para o Oriente Médio como pintor da expedição.

De volta à Europa, ele passa a maior parte de sua vida em Paris. Entre suas obras estão duas pinturas históricas suíças encomendadas pelo cantão de Vaud. A primeira, “O Major Davel” (1850) é um quadro do herói da independência do cantão, Jean Daniel Abraham Davel.

O quadro fez um enorme sucesso quando foi exibido pela primeira vez, em Lausanne. A obra não existe mais, foi destruída por vândalos em 1980.

Gleyre passou quatro anos trabalhando no quadro, que serviu mais tarde de inspiração para uma estátua erguida em frente do Castelo de Lausanne.

A segunda encomenda do cantão de Vaud, “Os romanos passando sob os jugos” (1858), o pintor levou oito anos para terminar.

Na obra, o pintor descreve o episódio narrado por Tito Lívio, que conta a história da derrota dos romanos pelo líder helvético Divico. Os Alpes suíços foram colocados ao fundo simbolicamente pelo autor, a batalha tendo acontecida em outro lugar.

Esta pintura também foi amplamente aclamada na Suíça quando foi exposta.

Moda

Resta saber por que o nome deste pintor notável não é mais conhecido na Suíça: “Não se olha mais a pintura do século XIX, exceto a última parte. Você tem que ser curioso e as pessoas não são, elas preferem manter o habitual e que está na moda”, disse Hauptman.

Na década de 1930 o Museu de Belas Artes manteve uma exposição permanente de Gleyre, que estava muito em voga.

Hauptman diz que as universidades suíças poderiam dar mais atenção ao ensino dos pintores suíços e os museus também poderiam expor mais Gleyre, embora admita que não seja fácil para um museu decidir que a coleção deve receber mais atenção.

Gleyre está sendo apresentado em Lausanne como parte de uma exposição dedicada à história das aquisições do museu.

Enquanto parte do seu trabalho entra e sai de moda, Lepdor diz que a obra oriental de Gleyre continua muito popular. Alguns quadros foram incluídos na exposição “De Delacroix a Kandinsky. O Orientalismo na Europa”, que foi apresentada em toda a Europa.

Gleyre nunca se casou, mas foi sepultado quatro vezes.

Quando Gleyre morreu, abruptamente durante uma exposição em 1874, seu corpo foi sepultado em Paris antes de ser levado para Chevilly por via férrea, a pedido da sua sobrinha Mathilde Gleyre, que achava que ele devia descansar em sua cidade natal.

No entanto, ela percebeu que a memória do artista não receberia a honra que merecia em um lugar tão remoto e decidiu que o corpo deveria ser transferido para Lausanne. A transferência para um cemitério de Lausanne foi feita em 1895.

Na década de 1920, um cemitério maior (Montoie) abriu em Lausanne e quase todos os túmulos foram removidos para lá. Gleyre continuou em Lausanne até depois da Segunda Guerra Mundial, quando foi decidido que ele deveria, finalmente, descansar em sua cidade natal.

Adaptação: Fernando Hirschy

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