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Decrescer para viver

Plantar seus próprios temperos e não ter pressa são algumas das regras do "decrescimento". swissinfo.ch

O crescimento econômico infinito é impossível num planeta finito, onde os problemas ecológicos e sociais são cada vez mais graves. A solução: decrescer.

O “decrescimento”, um novo movimento alternativo nascido na França, já conta com seguidores na Suíça.

Tsunami, furações, enchentes, pragas de gafanhoto e seca estão dominando as manchetes de jornais em 2005. O preço do petróleo não pára de subir. Para muitos ecologistas, as catástrofes contínuas são um sinal do esgotamento do planeta.

Em meio ao cenário negro, um pequeno grupo de utopistas cria um movimento de salvação. O jornal francês “Libération” os define como “opositores do crescimento”. Eles são algumas centenas de pessoas, entre 20 e 60 anos, de várias profissões e que tem em comum a rejeição da sociedade de consumo, da publicidade, do individualismo, da corrida aos lucros e da industrialização mundial.

Fundado em 2003 em Lyon, na França, o “decrescimento” é um movimento que tem acolhido adeptos nos grupos de altermundialistas, sobretudos ecologistas e decepcionados com a esquerda. Na Suíça, um dos seus mais ativos participantes é Jacques Grinevald, professor da Universidade de Genebra.

Ecologia na economia

Especialista em assuntos ecológicos, Grinevald traduziu para o francês as obras de Nicholas Georgescu-Roegen, considerado o papa do decrescimento.

Falecido em 1994, o economista romeno ainda é muito debatido nos meios acadêmicos. Nas suas controvertidas obras, publicadas em grande parte nos anos 70, ele criticou fortemente o modelo econômico contemporâneo. Dentre outros, ele afirmou: – “O crescimento ilimitado num planeta de recursos limitados é impossível. Somente um louco ou economista poderiam acreditar nisso”.

– Ele redefiniu o processo econômico integrando variáveis ecológicas…Sua revolução teórica é bio-econômica. Ele une as ciências econômicas não à física ou à matemática abstrata, mas sim às ciências biológicas – explica Jacques Grinevald na entrevista dada a swissinfo (clique AQUILink externo para ler o artigo).

Os adeptos do decrescimento se colocam num lado oposto dos defensores do desenvolvimento sustentado. Para eles, os limites dos recursos naturais no planeta não possibilitam o crescimento indefinido da economia global, mesmo com o desenvolvimento tecnológico. “Com isso apenas postergarmos os problemas ecológicos para o futuro”, ressalta Grinevald.

Passeata na França

No site do movimento, os adeptos não escondem que estão longe de querer propor um novo sistema revolucionário, como foi no passado o comunismo.

– “O decrescimento não é um sistema, mas sim uma palavra simbólica que transporta o imaginário necessário para compreender o imaterial, para reafirmar a primazia do político frente a técnica, para se opor à religião do crescimento” – afirma um dos seus teóricos.

Entre 7 de junho e 3 de julho, participantes do movimento, como o agricultor e militante ecológico francês José Bové, participaram de uma marcha entre Lyon e Magny-Cours.

Na opinião dos organizadores, o manifesto foi um sucesso. Cerca de 220 pessoas fizeram a caminhada entre as duas cidades no sul da França.

Consumir menos

Com muito humor, os “decrescentistas” pregam a valorização do tempo e o “fim do terror do consumo”.

– Eu, por exemplo, não tenho televisão. Percebi que ela me fazia doente. Sempre que estava deprimido, assistia televisão. E quanto mais eu via, mais eu ficava doente. Depois da primeira guerra do Golfo, decidi jogar fora o aparelho. Afinal, não queria esperar a segunda guerra para assistí-la na telinha – lembra Grinevald.

Num cartaz publicado no site, os adeptos do movimento dão diversas sugestões de como melhorar a qualidade de vida e poupar o meio-ambiente:

– “Passar mais tempo com a família e os amigos, consumir produtos frescos produzidos na região e não pelas grandes empresas, freqüentar bibliotecas públicas ao invés de shopping centers, aprender um instrumento ao invés de consumir música, fazer esportes e consertar os sapatos, quando eles estão gastos.

swissinfo, Alexander Thoele

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