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Demora no resultado das eleições gera impaciência no Equador

(19 fev) Lenin Moreno comemora junto a partidários, em Quito afp_tickers

A demora nos resultados das eleições presidenciais de domingo está gerando, nesta segunda-feira, impaciência entre os opositores equatorianos, conscientes de que um segundo turno lhes daria mais chances para desbancar o correísmo após 10 anos no poder.

Nas últimas contagens oficiais parciais, com 88,82% dos votos apurados, o candidato governista de esquerda Lenín Moreno continua se aproximando lentamente de uma vitória no primeiro turno, com 39,12%, enquanto o ex-banqueiro de direita Guillermo Lasso registra 28,31%.

Para ganhar o primeiro turno, como ocorreu com o presidente em fim de mandato Rafael Correa em 2009 e 2013, são necessários 40% dos votos válidos e uma diferença de 10 pontos em relação ao segundo colocado.

“Creio que vamos alcançar os 40%. Tenho dados que permitem presumir isto”, assinalou Moreno em declarações à imprensa em Quito. Mas se houver segundo turno, previsto para 2 de abril, “vamos ganhar”, assegurou.

Se tiver sua vitória confirmada, Moreno se tornará o primeiro equatoriano com deficiência física a assumir a Presidência, já que sofre de uma paraplegia como consequência de um tiro sofrido em um assalto em 1998.

“Estamos no segundo turno”, comemorou em Guayaquil o candidato opositor, que falou em “uma grande vitória”.

Mas os resultados definitivos das presidenciais chegarão dentro “de três dias” devido a anomalias nas cédulas de votação, segundo informação do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) nesta segunda-feira.

Seu presidente, Juan Pablo Pozo, pediu que os eleitores “esperem os resultados oficiais em um ambiente de paz, pois existem margens estreitas para definir se haverá segundo turno” quando “efetivamente está sendo disputado voto a voto sua ocorrência ou não”.

Apoio no segundo turno

Desde a noite de domingo, à medida que a lenta contagem oficial ia desenhando um cenário muito acirrado, centenas de apoiadores de Lasso permaneceram em frente à sede do organismo eleitoral em Quito, em uma vigília para exigir transparência na contagem e denunciar uma eventual fraude, o que foi desmentido pela autoridade eleitoral.

“Tem que haver um segundo turno. Quem ganharia seria Lasso, porque estamos cansados do Aliança País, que roubou (dinheiro do) petróleo e uma infinidade de impostos que temos”, expressou à AFP entre gritos Gonzalo Reyes, um funcionário de 56 anos.

Militares e policiais fazem a segurança do edifício do CNE, localizado no norte de Quito, onde foram registrados alguns atritos entre os manifestantes.

Analistas advertem há semanas que, embora conte com uma base sólida de apoio de 30%, o correísmo sofre com um desgaste, sobretudo, pela delicada situação econômica por conta da queda nos preços do petróleo, e por isso necessita vencer no primeiro turno.

Em um segundo turno, a oposição, formada por partidos de direita e pessoas descontentes com o correísmo, poderia se unir, apesar de ter chegado a esta eleição completamente dividida.

No domingo, após saber que não conseguiria chegar ao segundo turno, a deputada de direita Cynthia Viteri, terceiro lugar nas contagens com 16,30%, pediu abertamente o voto para Lasso e que seus partidários defendam “o segundo turno” nas ruas.

“Recebemos o apoio de algumas forças políticas”, declarou Lasso, que disse que suas mãos “estão estendidas” e propôs “uma mesa de governabilidade aberta a todos os setores da sociedade”.

Os resultados parciais destas eleições, nas quais também foram escolhidos 137 deputados e cinco parlamentares andinos, ainda não permitem confirmar se o correísmo manterá a maioria de dois terços no Legislativo.

Assange e a esquerda

O resultado destas eleições pode ser decisivo para o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, asilado na embaixada do Equador em Londres desde 2012 para evitar sua extradição à Suécia por supostos crimes sexuais, que ele nega.

Moreno é partidário de manter o asilo, mas Lasso disse à AFP que, se chegar ao poder, vai retirá-lo.

“A embaixada do Equador não é um hotel”, declarou o candidato nesta segunda-feira, ao afirmar que respeitando o direito internacional “revisaremos o asilo” dado a Assange pelo governo de Correa.

Uma vitória de Lasso também seria um novo revés para a esquerda latino-americana, enfraquecida após a guinada à direita no Brasil, na Argentina e no Peru.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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