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Personalidades esqueceram suas contas bancárias na Suíça

Royal Robbins em 1960. Keystone/Tom Frost

Um dos alpinistas mais conhecidos do mundo em sua época, Royal Robbins gostava de apagar os traços de suas ascensões. Depois de um período de ensino na Suíça, ele deixou para trás uma conta bancária. É uma das 4.000 contas esquecidas repertoriadas até agora.

Cada uma dessas contas existem pelo menos há 60 anos e contém um mínimo de 500 francos suíços. Juntas, elas totalizam mais de 50 milhões de francos suíços. Os titulares das contas, ou seus descendentes, têm no máximo cinco anos para reclamar esses ativos. Senão, as somas vão para o Estado suíço.

Royal Robbins, o primeiro alpinista a subir a face noroeste do Half Dome, no parque nacional de Yosemite e fundador da marca de roupas esportivas do mesmo nome, vive atualmente nos Estados Unidos, seu país de origem. Atualmente ele está doente e é sua esposa Liz que respondeu para swissinfo.ch.

Ela diz que o casal tinha esquecido dessa conta, aberta nos anos 1960, quando Royal Robbins era instrutor na Escola Internacional de Alpinismo em Leysan, no cantão de Vaud. Ela não se lembra se o banco tentou entrar em contato para adverti-los. “Eu vou tentar contatar o banco e fechar essa conta, graças a você”.

A facilidade como que os Robbins foram identificados mostra que certos bancos suíços não cumpriram seu dever, afirma André Naef, co-fundador da empresa FAST Search, que segue os clientes para os bancos.

Bomba-relógio

O antigo executivo de um banco privado ajuda atualmente as instituições financeiras a gerir as contas esquecidas e os clientes privados a encontrar seus ativos suíços. André Naef estima em pelo menos 2 bilhões de francos suíços no total das contas esquecidas. Isso pode tornar-se um problema a partir de 2018, quando a Suíça passará a transmitir automaticamente informações a outros países para lutar contra a evasão fiscal.

“Pode haver riscos para a reputação dos bancos com essas contas que poderão suscitar questões incômodas de outros países. Me surpreende que numerosos bancos não fazem um grande esforço para resolver essa questão”, declara para swissinfo.ch.

A Associação Suíça de Banqueiros (ASBLink externo) declara que as questões de evasão fiscal não têm nada a ver com a criação do site webLink externo das contas inativas.

Um site web para as contas esquecidas

Desde a mudança da lei dos bancos, a Suíça criou em dezembro de 2015 um site webLink externo com uma lista das mais antigas contas inativas. Dessa lista pública só constam as contas cujo contato foi perdido há pelo menos 60 anos.

O site web é constantemente atualizado com novos nomes. A lista inicial de 2.600 nomes, publicadas em 2015, já tem quase 400. Os montantes exatos dos fundos não foram revelados. A ASB dá um número aproximativo de 52 milhões de francos suíça para cerca de três-quartos das contas.

Os proprietários das contas ou os beneficiários têm entre um a cinco anos para reclamar os ativos. Depois disso, as contas serão fechadas e os ativos entregues ao Estado suíço.

“Os bancos do mundo inteiro podem ser confrontados a uma situação em que o contato com um cliente foi perdido”, afirma a ASB em uma resposta escrita. “A legislação atual resulta da vontade dos bancos de encontrar uma solução legalmente apropriada para as contas inativas há muito tempo. Quando um proprietário (ou um herdeiro legítimo) de uma conta, é da responsabilidade dessa pessoa de cumprir as obrigações fiscais que podem decorrer dessa conta”, acrescenta a ASB.

Os herdeiros de Firestone

Existem outros nomes de detentores de contas que são simples a encontrar, apenas com uma pesquisa no Google. Por exemplo,

Harvey S. Firestone de Akron, nos Estados Unidos, que só pode ser o fundador de Firestone Tires, ou seu filho.

Em sua época, Firestone sênior era uma das pessoas mais ricas dos Estados Unidos, juntamente com Henry Ford e Thomas Edison no “Clube Milionário” no início do século 20. Mesmo sem nenhuma prova para sugerir que essa conta não foi declarada, o fato que o banco não tenha encontrado um novo facilmente reconhecível inquieta André Naef: “Isso demonstra que certos bancos não procuram suficientemente seus clientes”.

Os dados contidos na lista de contas inativas tornam quase impossível encontrar certas contas. Em alguns casos, o banco nem conhece o nome do cliente e ainda menos sua data de nascimento, nacionalidade, local de residência ou número de conta.

André Naef estima que há informações suficientes para encontrar com certeza quase 10% dos detentores de contas ou seus descendentes, e uma chance razoável de identificar 44% a mais. No primeiro ano de existência do site web, apenas 5% das contas foram reclamadas.

Até 16 de dezembro, 149 contas inativas foram entregues ao Estado porque não foram reclamadas. A ASB diz não saber quantas contas foram fechadas nem o montante entregue ao Estado.


Adaptação: Claudinê Gonçalves

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