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Diretor diz que WEF não ouviu “vozes críticas”

Em tempos de crise, as pessoas precisam dialogar, afirma André Schneider. Keystone

Davos e crise, a crise e Davos. Este ano, os dois termos são inseparáveis, explica o diretor-geral do Fórum Econômico Mundial (WEF), que começa quarta-feira.

Em entrevista à swissinfo, André Schneider afirma que os sinais da crise não foram ouvidos em Davos e convida os participantes a assumirem a culpa.

Chefe de operações, André Schneider entrou no WEF (sigla em inglês) depois de uma carreira na música e nas tecnologias da informação. Ele também é vice-presidente do conselho de fundação do fórum.

swissinfo: O WEF 2009 terá um ano recorde de participação. Por que tanto interesse?

André Schneider: Em tempos de crise, como a que vivemos atualmente, a incerteza é muito grande e as pessoas precisam se falar. Elas entenderam a necessidade de falar com outros setores econômicos, outras regiões do mundo, com membros de governos, com a sociedade civil.

Este fórum é o único lugar onde, informalmente, todas essas pessoas podem se reunir para analisar juntas e discutir soluções possíveis para ver aonde ir e como.

São os responsáveis da crise que se reúnem em Davos, não?

Eles estão aqui porque querem participar da busca de uma solução. São os dirigentes do setor financeiro. Não é possível pensar numa solução de futuro excluindo uma área muito importante para todos nós – vê-se com a crise.

Por outro lado, numerosos participantes de outros setores, atingidos pelas resultantes da crise, mas que não estiveram envolvidos com a origem da crise. Precisamos ser justos: nem todos os atores da economia provocaram a crise, mas também sofrem com ela.

Mas o que pode fazer Davos frente a uma crise sistêmica, que questiona muitas maneiras de pensar?

Primeiro, Davos pode lançar discussões sobre as medidas de curto prazo que estão em fase de aplicação. Temos de lembrar que a origem dessa crise é ligada às taxas de juros muito baixas fixadas pelo banco central americano. Com as medidas decididas hoje, é preciso ter o cuidado de não provocar a próxima crise que, segundo nossa experiência, será ainda pior.

Em segundo lugar, Davos permite uma discussão acerca das formas possíveis das práticas econômicas futuras. Elas deverão integrar uma dimensão de sustentabilidade. Se precisamos de crescimento econômico para enfrentar os grandes desafios mundiais, também é preciso refletir uma economia sustentável, que integre os problemas climáticos e ecológicos.

Ninguém previu a chegada da crise, inclusive em Davos..,

Não é verdade. Nas duas últimas edições houve debates críticos dessa questão. Mas todo mundo deve reconhecer seus erros: não fomos capazes de ouvir as vozes críticas e os sinais que estavam aí.

Também é preciso entender que o WEF não é um governo. Não tomamos decisões. Tentamos suscitar debates críticos que permitam aos que tomadores de decisões identificar os desafios futuros, os riscos e as decisões possíveis.

Vimos claramente no ano passado que, quando todo mundo vai no mesmo rumo, porque é mais fácil politicamente, é muito difícil passar esse tipo de mensagem.

Dada a crise, talvez vamos escutar melhor as críticas em Davos este ano e integrar melhor os desafios reais já discutidos no ano passado, mas que nem todos levaram em consideração.

A crise econômica e financeira não justamente ocultar os outros problemas?

É um desafio para nós. Devemos discutir a crise financeira e a crise econômica, mas não podemos esquecer os outros desafios importantes – a mudança climática, a crise alimentar, a crise energética, a da água e outras. Os problemas não vão desaparecer por si só.

Não encontrar resposta para a crise econômico-financeira, que permitirá melhor integrar esses diferentes desafios, é preparar a próxima crise dentro de cinco anos, depois a seguinte, com uma situação cada vez pior.

Interview swissinfo, Pierre-François Besson

Lema. Esta edição 2009 reunirá mais de 2.500 participantes de 96 países, de 28 de janeiro a 1° de fevereiro. O tema principal é “Redesenhar o mundo depois da crise”.

Ilustres. Entre as personalidades aguardadas, Vladimir Putin, Angela Merkel, os primeiros-ministros chinês Wen Jiabao, japonês Taro Aso e britânico Gordon Brown, os ministros franceses Bernard Kouchener e Christine Lagarde, o secretário-geral da ONU, o presidente da Comissão Européia, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e muitos outros.

Início. O WEF foi fundado pelo suíço Klaus Schwab com o nome de Management Symposium em Davos, em 1971.

Forma. O Fórum Econômico Mundial é uma fundação de direito suíço, sem fins lucrativos, que defende um empresariado no interesse público global. Financiado por cerca de mil empresas filiadas, o WEF é sediado em Colony, estado de Genebra.

Objetivos. A organização emprega 300 pessoas de 52 países. Afirma ser uma plataforma de diálogo entre pessoas que decidem, uma ferramenta de ajuda à decisões estratégicas, um catalisador para diferentes iniciativas visando “melhorar o estado do mundo.”

Mundial. O WEF organiza em vários países uma série de simpósios, promove iniciativas e grupos de trabalho, realiza estudos e mantém um programa de master.

Saúde. Segundo André Schneider, a fundação é poupada pela crise financeira. Em meados do exercício, o orçamento é respeitado. “Estamos em plena forma”, diz o diretor-geral.

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