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Aumentar taxa de câmbio é estratégia arriscada

Exportadores poderiam se beneficiar com a queda do franco, mas outros podem perder. Keystone

O setor de exportação e os sindicatos estão fazendo pressão sobre o Banco Central da Suíça para elevar o piso da taxa de câmbio de 1,20 para 1,40 franco por euro.

O ministro suíço da Economia, Johann Schneider-Ammann, alertou que o franco forte poderia custar 40 mil postos de trabalho ao país. Mas alguns observadores temem que o aumento do piso da taxa de câmbio poderia ter consequências prejudiciais para o banco central.

O euro tem estado em queda livre em relação ao franco suíço desde a crise financeira, há três anos. A insegurança com relação ao problema da dívida de alguns países europeus tem alimentado um êxodo da moeda europeia em direção à moeda refúgio suíça.

Em setembro, o franco praticamente atingiu a paridade com o euro, forçando o Banco Central da Suíça (BNS, na sigla em francês) a definir uma taxa de câmbio mínima de 1,20 franco por euro. A insistência do banco central em imprimir quanto dinheiro for necessário para defender essa meta tem funcionado até agora.

Mas uma série recente de cortes de emprego de alto nível em empresas de destaque levou a Secretaria de Estado da Economia (Seco) a prever um aumento do índice de desemprego no país de 2,9% para 3,7% até o final do próximo ano.

Teoria versus prática

Exportadores e sindicatos dizem que a taxa de câmbio a 1,20 abranda o calor, mas não apaga o incêndio. O franco ainda está supervalorizado, dizem, forçando as empresas a reduzir custos através de demissões, já que seus produtos estão mais caros no mercado-chave europeu.

Só um piso de pelo menos 1,40 franco por euro pode salvar os empregos, argumentam os críticos à política do BNS.

“O BNS pode definir a taxa de câmbio que bem entender, já que, em teoria, poderia imprimir quantidades ilimitadas de francos”, avalia Manuel Ammann, diretor do Instituto de Bancos e Finanças da Universidade de St Gallen (leste).

Tecnicamente, qualquer banco central poderia enfraquecer sua moeda inundando o mercado com dinheiro novinho em folha através da compra de reservas internacionais, explica Ammann.

Daniel Lampart, economista da União Sindical Suíça, considera que o valor correto da moeda suíça deveria ser de 1,50 franco por euro. “Uma taxa de câmbio de 1,40 ainda deixa o franco sobrevalorizado, mas teria um impacto muito melhor sobre a economia suíça do que a 1,20”, disse à swissinfo.ch.

Questão de mandato

Lampart argumenta que o BNS estaria cumprindo seu mandato com uma intervenção mais forte. O banco central é suposto de garantir preços estáveis e apoiar a estabilidade econômica, que dificilmente poderia ser alcançada sem lutar contra a sobrevalorização do franco.

Já Ammann adverte contra os riscos de fixar o câmbio a 1,40, temendo que tal medida acarrete uma ameaça de inflação e resulte que o banco central tenha que concentrar toda sua força para manter seu objetivo.

“Quanto maior o objetivo definido pelo banco central, maior é o risco de não poder relaxar a posição sem sentir alguma dor”, advertiu Ammann.

Atrelar definitivamente o franco suíço ao euro ligaria a Suíça – para melhor ou para pior – à política do Banco Central Europeu. A Suíça pode acabar com uma dívida pública enorme para financiar essa iniciativa e com um problema de inflação galopante, diz Ammann.

O preço do aumento da intervenção poderia ser o de enormes perdas nos mercados de divisas levando à falência técnica do BNS. “É possível que o banco central tenha então que ser recapitalizado em dezenas de bilhões de francos”, acrescentou Ammann.

No entanto, Lampart não vê esses riscos, desde que o franco permaneça artificialmente alto. “Pelo contrário, um franco sobrevalorizado só poderia pressionar os preços para baixo”, disse.

Ganhadores e perdedores

Ammann insiste que ninguém – nem mesmo o BNS – pode saber qual o valor adequado e justo de uma moeda. O que parece um valor justo hoje pode parecer sobrevalorizado nos próximos anos.

Com isto, Ammann também critica a opinião generalizada de que um franco enfraquecido só poderia trazer ganhos e não perdas.

“O enfraquecimento de uma moeda sempre implica um reequilíbrio”, disse Ammann. Os exportadores sairiam ganhando, já que seus produtos se tornariam mais baratos no exterior, já os investidores e pensionistas perderiam com o enfraquecimento de seu poder aquisitivo.

Mas Lampart diverge, lembrando que os poupadores também haviam perdido com o fortalecimento do franco, já que parte dos investimentos e fundos de pensões realizados em ações e moedas estrangeiras também haviam desvalorizado.

O franco suíço é considerado uma moeda refúgio, o que significa que os investidores e especuladores tendem a comprá-lo quando outras moedas, principalmente o euro e o dólar, estão sob pressão.
 
O Banco Central da Suíça (BNS) tem enfatizado que não persegue uma meta de taxa de câmbio, mas baseia sua política monetária em seu mandato legal.
 
Este mandato estipula que “o BNS deve garantir a estabilidade dos preços, tendo em conta a evolução econômica”.
 
A partir de março de 2009, o BNS interveio nos mercados cambiais. Essas incursões levaram a uma perda de 21 bilhões de francos no ano passado.
 
Enfrentando intensa pressão de políticos e do setor de exportação, o BNS interveio ainda mais nos mercados este ano, antes de anunciar uma taxa de câmbio fixa de 1,20 francos por euro em setembro.
 
Desde então, o franco pairou acima desta margem, graças ao compromisso assumido pelo BNS de comprar quantidades ilimitadas de reservas cambiais.

Adaptação: Fernando Hirschy

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