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Cada vez mais suíços compram online na China

As lojas eletrônicas na China oferecem produtos a baixos preços, mas muitos podem ser apenas cópias baratas. swissinfo.ch

"Preços incríveis de milhões de produtos - compre diretamente de fornecedores chineses". As empresas chinesas de comércio eletrônico invadem até a Suíça do custo de vida elevado. Pagar preços chineses com um salário suíço? Uma oportunidade tentadora para cada vez mais compradores. 

Graças a preços imbatíveis, “a fábrica do mundo” se transforma lentamente na “loja mundial”. Estima-se que entre 20 mil pequenos pacotes cheguem à Suíça diariamente. Enquanto o consumidor se alegra, as lojas eletrônicas suíças temem perdas.

A situação pode mudar, pois o sistema de tarifas postais, que permite aos comerciantes chineses enviar suas mercadorias a preços preferenciais, será discutido no 26° congressoLink externo da União Postal Universal, a partir de 21 de setembro em Istanbul, Turquia.

Os recém-chegados, nova ameaça

Acessórios eletrônicos, produtos têxteis, capas de celular e tablets, bolsas e falsificações de todos os tipos: esses são os produtos baratos que os suíços compram mais frequentemente nas lojas eletrônicas chinesas. “Dessa maneira, ao buscar no escuro, você sempre assume um certo risco em relação à qualidade dos produtos”, afirma Patrick Kessler, presidente da Associação Suíça de Venda à Distância (VSVLink externo, na sigla em alemão).

Um risco que alguns aceitam de bom grado. Portanto, esse pequeno empresário explica à swissinfo.ch ter recebido há dois meses seu telefone celular Ulefon “made in China”, comprado no site Tinydeal. O visor do telefone já começa a descolar, mas o proprietário não se aborrece: “Não importa, pois eu já calculava utilizar o aparelho por um ano. Um modelo semelhante na Suíça é muito mais caro. Com a mesma quantia, eu posso comprar a cada ano um novo celular na China.”

Quem pode resistir? “Os consumidores suíços compreendem perfeitamente que os produtos no país são mais caros do que em outros lugares”, ressalta Ralf Wölfle, diretor do centro de competência de e-business da Faculdade Especializada do Noroeste da Suíça. “E como muitas vezes se sentem explorados, os consumidores reagem procurando ofertas no exterior, mesmo tendo poder aquisitivo para pagar preços suíços.”

Alguns números

Segundo os dadosLink externo de 2015 da Associação Suíça de Venda à Distância:

– A venda através de lojas eletrônicas cresceu 7,5% em um ano, passando a corresponder a 6,45 bilhões de francos suíços (sem as compras no exterior

– Essas vendas se dividem entre 1,65 bilhões em eletrônicos e multimídia, 1,38 bilhões em vestidos e calçados, 0,84 bilhões em alimentos, 0,42 bilhões para artigos caseiros, 0,24 bilhões em CDs, DVDs e livros e 0,77 bilhões para o resto.


“No momento a ameaça ainda é fraca e só atinge alguns setores do mercado. Mas em longo prazo, em 10 anos por exemplo, com a profissionalização dos mercados, o volume dessas plataformas poderá aumentar consideravelmente e ameaçar até a existências dos comerciantes suíços nos setores dos mercados envolvidos.”

Concorrência desleal

As lojas eletrônicas suíças só podem suspirar frente à relação de preço-qualidade da China. O serviço de “entrega gratuita” oferecida pelos concorrentes chineses é um problema para elas. Graças ao sistema atual de tarifas da União Postal Universal (UPU), a China está classificada na categoria de países emergentes. Isso significa que pode enviar pacotes de menos de dois quilos à uma tarifa ridiculamente baixa.

“Por que um comerciante eletrônico chinês pode enviar à Suíça um pacote de três centímetros de espessura, pesando 700 gramas, por 1 franco e 70 centavos, enquanto que um comerciante suíço pagaria sete francos pelo mesmo pacote?”, questiona Patrick Kessler. “É uma distorção grosseira de concorrência e incompreensível. Essas regras da UPU datam de um tempo anterior à globalização do comércio e devem, por isso, ser reformuladas.”

O conselheiro econômico da embaixada da China na Suíça, Cai Fangcai, não concorda. Segundo ele, “apesar de a China ser a segunda economia mundial, seu PIB por habitante continua muito baixo. Ela continua sendo o maior país em desenvolvimento no planeta”. Cai ressalta que essa diferenciação não é uma medida para favorecer a China, pois as tarifas são fixadas em conjunto pelos países membros da UPU.

Elas não impedem, do lado suíço, que não só os comerciantes online sofram, mas também até os Correios Suíços. Seu porta-voz declarou ao jornal suíço Tages-Anzeiger que o transporte de pequenos pacotes chineses está longe de ser lucrativo para a empresa.

Que tarifa permitiria os Correios Suíços de trabalhar no azul? Existe uma chance de encontrar uma solução durante o congresso da UPU? Os Correios Suíços não responderam a essas questões, recusando de assumir antecipadamente a posição sobre um tema que será um dos mais discutidos durante o congresso em Istambul.

Área cinzenta

Segundos as regras dos Correios Suíços, está isento de imposto o envio de mercadorias com taxas alfandegárias e de imposto sobre circulação de mercadoria, abaixo dos cinco francos por declaração. “95% dos pacotes originários da China têm uma declaração falsa ou insuficiente”, afirma Patrick Kessler, citando o jornal “Tages-Anzeiger”. Apesar de que o centro de triagem dos Correios Suíços em Zurique seja obrigado a controlar os pacotes, muitos passam sem serem abertos. Alguns fornecedores estrangeiros são suficientemente engenhosos ao dividir o pedido de um cliente em vários pacotes, por exemplo, para que possam ser enviados sem pagar os impostos devidos.

Muitos compradores encontram-se em uma área cinzenta.

AliExpress, um gigante chinês

O site de comércio eletrônico AliExpress, criado em abril de 2010, vende seus produtos atualmente em 243 países do mundo. Os principais clientes encontram-se na Rússia, Estados Unidos, Espanha, França e Inglaterra. O principal volume de vendas ocorre nos Estados Unidos.

Em 11 de novembro de 2014 – o grande dia de promoção anual – a AliExpress bateu o recorde de vendas diárias com 21.240.000 pedidos. No mesmo dia, a Alibaba, a famosa empresa criada por Jack Ma, teve um volume de negócios de 13,31 bilhões de euros.

(Fonte: CreditEase Shangtongdai)

Um estudante conta à swissinfo.ch que ela se interessava por uma mochila de 89 francos encontrada no site Siroop. Já no site da AliExpress o mesmo produto custaria apenas 19 dólares. Fora alguns detalhes do logotipo, os dois exemplares são quase idênticos. Ela está consciente que o produto chinês é uma falsificação, mas 70 francos é uma diferença considerável para ela.

O relatórioLink externo suíço sobre o e-commerce em 2016 revela casos ainda mais “estranhos”. Alguns compradores na Suíça chegam a comprar um produto de marca de fornecedores suíços e, ao mesmo tempo, uma falsificação na China. Depois guardam o produto original e enviam a falsificação ao fornecedor suíço para serem depois reembolsados.

Qual o caminho?

Os fornecedores chineses têm uma oferta que agrada os clientes suíços. “No setor do mercado de produtos de base, os fornecedores suíços não podem fazer nada contra os concorrentes chineses se a clientela se baseia sobre os preços, se não necessita rapidez de entrega e se não se preocupa com a qualidade”, considera Ralf Wölfle. Os fornecedores suíços só são competitivos se o valor agregado dos produtos justificarem a diferença de preços aos olhos do cliente.”

Patrick Kessler confirma: “Os suíços não devem se lançar na guerra dos preços. Eles devem ressaltar, sobretudo, a qualidade, o serviço e a rapidez de entrega. Além disso, devem também se posicionar internacionalmente. Existem compradores para os produtos suíços no mundo inteiro, mesmo na China.”

Você compra produtos chineses em lojas online? Suas experiências nos interessam. 


Adaptação: Alexander Thoele

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