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UBS volta ao Brasil, mas enfrenta velhos problemas

UBS no Brasil está instalado em São Paulo © Florian Kopp

O UBS está de volta ao Brasil. Concluída em 25 de fevereiro, a operação de compra da corretora brasileira Link Investimentos por R$ 195 milhões marcou oficialmente o retorno do banco suíço a um mercado de onde esteve oficialmente afastado desde 2009.

Naquele ano, no auge da crise econômica global e em meio a uma série de denúncias de evasão de divisas e outras irregularidades, o UBS revendeu o Banco Pactual, que havia adquirido em 2006 para expandir suas operações de private banking no Brasil, a seus antigos donos.

Com a aquisição da Link, que agora passa a se chamar UBS Corretora, o banco suíço volta ao Brasil em posição de força, podendo atuar como corretora, gestor de fortunas e banco de investimentos. Em entrevista à agência Reuters, o investidor Lywal Salles, um dos articuladores do retorno do UBS ao mercado brasileiro, afirmou que a ideia é “utilizar a força das operações de corretagem da Link para atrair investidores com foco em ações e assessoria”.

O executivo afirma também que a nova empresa não atuará como banco de crédito no país: “Acreditamos que ainda podemos ter boa performance no Brasil sem precisarmos recorrer ao mercado de crédito para impulsionar nossas atividades”, disse.

Após passar meia década de dificuldades e amargar em 2012 um prejuízo global que ultrapassou os dois bilhões de euros, o UBS parece confirmar, com sua volta ao Brasil, que o pior já ficou para trás. Embora ainda planeje em diversos países cortes que podem chegar a dez mil postos de trabalho, o banco reassumiu no ano passado o primeiro lugar mundial no setor de private banking e, com a recente decisão de entrar também no mercado chinês, se mostra disposto a recuperar rapidamente a vitalidade de outrora.

Em anúncio de página inteira publicado em fevereiro nos jornais e revistas brasileiros de maior circulação, o UBS afirma “ter um compromisso com o Brasil”, agradece ao governo federal e cita o ranking da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) para afirmar que a Link é “a maior corretora do país”. O texto faz ainda um chamado aos potenciais novos parceiros brasileiros: “Reforçamos nosso compromisso de continuar investindo no desenvolvimento de nossas operações locais e no melhor atendimento a nossos clientes”, diz.

Em nota, o CEO do UBS Américas, Roberto McCann, saudou a volta do banco suíço ao dinâmico mercado brasileiro: “A expansão no Brasil, um dos maiores e mais importantes mercados emergentes, é uma prioridade estratégica e nos oferece excelentes oportunidades de crescimento”, disse.

Impostos

Mas, nem tudo são flores nessa volta ao paraíso. Os problemas com a Justiça que marcaram a primeira passagem do UBS pelo Brasil também parecem estar de volta. O banco suíço é acusado pelas autoridades brasileiras de ter sonegado impostos no valor de R$ 2,4 bilhões durante o período em que controlava o Pactual.

Liderado pelo jovem banqueiro brasileiro André Esteves, o Banco Pactual foi comprado pelo UBS em dezembro de 2006 por US$ 3,1 bilhões, passando a se chamar UBS Pactual. Dois anos e meio depois, acossado pela crise global, o banco suíço revendeu o Pactual a Esteves – que nesse ínterim havia criado o Banco BTG – por US$ 2,5 bilhões.

Mesmo com o evidente bom negócio, Esteves acionou a Justiça para cobrar do UBS mais R$ 2,4 bilhões a título de indenização. O banqueiro brasileiro afirma ser esse o valor que teve de pagar à Receita Federal para corrigir as irregularidades no pagamento de impostos cometidas pelo Pactual enquanto esteve controlado pelo UBS.

Curiosamente, esses dados constam do mais recente relatório financeiro do UBS, divulgado em 5 de fevereiro, somente cinco dias após a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, ter publicado no Diário Oficial da União um decreto autorizando a conclusão do negócio de compra da Link Investimentos e ter recomendado ao Banco Central que adotasse “todas as medidas necessárias para sua execução”.

De acordo com um levantamento publicado pela revista brasileira Exame, a corretora de valores que obteve o melhores desempenho no Brasil em 2012 foi a Geral Investimentos, com 55,48% de rentabilidade.

Em seguida, vieram as corretoras Alpes/Wintrade (52,81%), Souza Barros (52,04%), Coinvalores (44,6%), Fator (42,6%), Rico/Octo Investimentos (36,11%), Banco Indusval & Partners Corretora (35,26%), XP Investimentos (34,5%), BTG Pactual (34,4%) e Pax Corretora (34,08%).

Remessa ilegal

Em 2007, pouco tempo depois de ter comprado o Pactual, o UBS se viu envolvido em uma investigação da Polícia Federal que resultou na expedição de mandados de prisão para dois funcionários do banco, acusados de operarem para clientes brasileiros um esquema de remessas ilegais de divisas à Suíça que chegou a movimentar R$ 1 bilhão.

Na ocasião, o gerente Marc Henry Dizerens saiu do Brasil e foi considerado foragido pela Justiça brasileira. Já Luc Marc Depensaz, também gerente do UBS, chegou a ficar algumas semanas preso antes de poder retornar à Suíça. Na ocasião, as investigações atingiram também dois outros bancos suíços: o Clariden Leu e o gigante Crédit Suisse.

No final daquele mesmo ano, a decisão da matriz suíça de não pagar bônus aos executivos do então UBS Pactual no Brasil deflagrou a primeira crise com o grupo de Esteves. Desde então, este começou a articular a recompra do banco, tarefa que foi facilitada depois que o UBS foi envolvido em denúncias de incitação à evasão fiscal nos Estados Unidos e, paralelamente, começou a sentir os efeitos da crise global – que terminaria com a instituição sendo socorrida pelo governo suíço. Agora, com a compra da Link, o Pactual fica definitivamente no passado e o UBS tenta iniciar uma nova trajetória de sucesso no Brasil.

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