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Suíços driblam a violência em São Paulo

Rua Helvétia, centro de São Paulo, é parte da cracolândia: repleta de drogados e traficantes. swissinfo.ch

A sensação de insegurança no Brasil é grande, preocupa e muitas vezes dá medo. Ainda assim, vale visitar ou morar do outro lado do Atlântico, mesmo para quem está acostumado a uma realidade tão diferente, como a da Suíça.

A opinião é de quem deixou as terras helvéticas para conhecer ou criar raízes em solo brasileiro, mais especificamente na capital econômica do país, São Paulo.

Na cidade, eles convivem diariamente com altos índices de violência. Até julho deste ano, já foram registrados 679 homicídios dolosos (com intenção de matar), 67 latrocínios, 1.721 estupros e 67.790 roubos, de acordo com dados divulgados Secretaria de Segurança Pública. No entanto, apesar de um cenário tão distinto da sua terra de origem, os suíços que vivem no país do futebol driblam bem o problema.

A explicação parece estar no próprio perfil e nos hábitos mais discretos desse povo. “O alvo de ladrões e assaltantes é sempre quem aparenta distração e deixa à mostra objetos de valor, como relógios caros, joias, laptops, câmeras fotográficas e celulares”, alerta o delegado titular da 1ª Delegacia de Atendimento ao Turista de São Paulo, Dr. Aloizio Pires de Araújo. Segundo ele, não é possível dizer qual a nacionalidade mais visada pelos criminosos, mas as principais vítimas estrangeiras têm sido os orientais.

Discretos e economicamente favorecidos

Outro fator que parece imunizar os suíços da violência no Brasil é a boa condição socioeconômica em que vão trabalhar ou morar no país. Ao contrário de latinos e africanos que imigram em situações menos favorecidas, os suíços não circulam por lugares como a rua Helvétia, no Centro de São Paulo. Apesar de ser uma referência à Suíça, ela está ironicamente inserida no que ficou conhecido como cracolândia, devido à degradação da área provocada pela venda e consumo de crack, oxi e outras drogas, gerando  concentração de prostituição, agressões e roubos.

O máximo que os suíços e mesmo os paulistanos abastados passam perto de pontos como esse é quando vão à Sala São Paulo, à Pinacoteca e ao Museu da Língua Portuguesa. Tais locais, reconhecidos como importantes referências culturais da cidade, são separados da cracolândia por uma grade imaginária que delimita a ocupação de cada público, sob a vigilância constante de várias bases da Polícia Militar instaladas nos quarteirões.

Se em tempos mais difíceis os suíços vieram buscar refúgio no Brasil por outras razões, hoje eles são enviados por multinacionais atentas ao potencial econômico do país, por um espírito empreendedor ou por turismo. Seja como for, dessa forma acabam morando, trabalhando ou visitando regiões com melhor infraestrutura de segurança e policiamento, sem terem de lidar mais intensamente com as mazelas sociais da cidade. Ainda assim, são obrigados a conviver com a triste realidade de pessoas morando em condições degradantes nas calçadas, com “meninos de rua” pedindo esmola nos semáforos e sob o risco constante de serem roubados ou abordados em “assaltos relâmpagos”.

Rápida adequação

Para o diretor executivo da Swisscam, Stephan Buser, esse é o preço para se morar em qualquer grande metrópole do mundo, ainda mais em um lugar com mais de 11 milhões de pessoas, como a capital paulista. Buser não vê a violência urbana como um impedimento para quem quer conhecer, viver e fazer negócios no país. “A situação realmente preocupa e temos de tomar alguns cuidados, mas a minha percepção é que o sistema policial funciona, vai atrás dos acontecimentos e prende os culpados”, afirma.

Buser diz que nunca passou por nenhuma violência nem em São Paulo nem em outras capitais que conhece, como Salvador, Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre e Curitiba, por procurar entender e se adequar à cultura e as particularidades locais. “Na verdade, é uma postura que se deve ter em qualquer grande metrópole.”

Troca de experiências

Há cerca de 30 aos no Brasil, o presidente do grupo Ecogeo, Dr. Ernesto Moeri, além de não enxergar a violência como algo impeditivo, estimula quem quer visitar ou morar no país. A vida dele é um exemplo. Depois de alguns anos na Bahia, levado por uma multinacional alemã na década de 70, ele percebeu a oportunidade de criar o seu próprio negócio. Para isso, escolheu São Paulo e montou a sua empresa.

“Naquela época, a questão da segurança não era um problema tão sério como é hoje nem em São Paulo nem na Bahia, onde ninguém pensava nisso”, afirma. Ao longo dessas décadas, ele incorporou os costumes da população e se adaptou aos hábitos brasileiros. Precauções como dar mais uma volta no quarteirão antes de entrar em casa ao desconfiar de estranhos fazem parte da rotina do empresário. Mas Moeri garante que apesar de já ter passado por experiências de violência, como ter o carro roubado, nunca duvidou de ter escolhido o Brasil como lugar certo para viver e formar sua família.

Cuidados que o diretor-geral da subsidiária da Victorinox no Brasil, Karl Kieliger, já toma desde que foi trabalhar em São Paulo, em 2009. “Moro e trabalho em uma região boa e segura”, diz ele, afirmando nunca ter sofrido nenhuma violência urbana. Atento e precavido, ele afirma não sair sozinho para caminhar, não ir em locais que não conhece, não usar objetos de muito valor, enfim ser mais discreto e modesto, como ele acredita já ser naturalmente um suíço. “Essas regras não são só para quem vive em São Paulo, mas em qualquer grande capital do mundo.”

Um lugar para chamar de casa

Quem bem sabe disso é o empresário Dr. Michael Kronenberg, da Meta Trade Group, que não consegue mais contabilizar quantos países já conheceu, muitos dos quais onde a violência urbana é ou já foi extrema, como Nigéria, Colômbia e Líbano. Cerca de uma vez por mês, Kronenberg viaja para algum lugar no mundo, normalmente metrópoles como Nova York, Los Angeles, Londres, Zurique e Berlim, mas é sempre para a capital paulista que ele retorna há quase dez anos.

Kronenberg acredita que os suíços normalmente têm um pensamento mais positivo e objetivo. “Se um brasileiro vê um menino na rua pedindo dinheiro, imagina logo que ele vai roubá-lo, enquanto um suíço pensaria que ele necessita de uma oportunidade para melhorar de vida”, exemplifica.

Ele ressalta que, seja visitante seja novo morador, o suíço aprenderá a lidar com problemas como a violência e poderá desfrutar do verdadeiro calor humano do povo brasileiro, da alegria de viver das pessoas e entender por que, mesmo havendo inúmeros lugares maravilhosos no mundo, São Paulo ou qualquer outra cidade do Brasil pode ser chamada de casa.

Preocupado com a onda de “arrastões” que têm ocorrido em bares e restaurantes na cidade de São Paulo, Ricky Marcellini não hesitou em dobrar a segurança do Era uma vez um Chalézinho. O local é conhecido por ter inspiração suíça e ser referência na capital quando se fala em fondue.

“Estamos vivendo um problema seríssimo e a conta recai mais uma vez sobre os empresários”, lamenta Marcellini. “Isso nunca foi comum em São Paulo”, garante ele, que critica a pouca quantidade de policiais nas ruas. Além de aumentar o número de seguranças, ele mantém um sistema de vídeo monitorando todos os espaços do restaurante. “Não só os meus clientes, mas eu mesmo quero me sentir seguro trabalhando ou quando a minha família está presente”, completa.

 

A impunidade também é apontada pelo proprietário e chef do Restaurante Helvétia, Claude Michel, como um dos principais fatores de violência desse tipo. “Os bandidos são presos e no dia seguinte estão soltos, e os menores infratores de 18 anos fazem o que querem”, diz ele.

Visitar ou morar em grandes cidades brasileiras, como São Paulo, requer atenção constante com pertences pessoais e com procedimentos de segurança em áreas públicas. “Na verdade, essas são regras para qualquer metrópole mundial”, afirma o delegado titular da 1ª Delegacia de Atendimento ao Turismo de São Paulo, Dr. Aloizio Pires de Araújo.

Além de se manter atento, Araújo recomenda não se descuidar em nenhum momento de equipamentos, como laptops e objetos de valor, principalmente em viagens de negócios. “Há quadrilhas especializadas que entram em hotéis e eventos e roubam durante o café da manhã ou em intervalos de seminários e convenções”, alerta.

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