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Saudade de ter saudade

Platéia assiste com atenção os debates na mesa-redonda no auditório em Zurique. Sara Eichenberger

O impacto das redes sociais na vida dos imigrantes foi o tema do 5.o Encontro promovido pelo Conselho Brasileiro na Suíça, ocorrido no último sábado (25/5) em Zurique.

Mesmo contando com um número relativamente inferior de participantes em relação às edições anteriores, o evento acertou na escolha do tema.

A partir da discussão das redes, ou plataformas sociais eletrônicas, o público participou ativamente, expondo diversas facetas da condição de expatriado nos dias de hoje, que diferem significativamente da realidade dos imigrantes da era pré-internet – um salto enorme em cerca de parcos 15 anos.

É fato que o acesso às mídias eletrônicas (Facebook, Skype, Orkut, Whatsapp, entre outras) facilitou enormemente a vida à distância. As contas telefônicas com valores estratosféricos, ou as chamadas contadas por conta das tarifas, são coisa do passado. Webcams aproximam pais e filhos, netos e avós, namorados, cônjuges e amantes, independentemente da distância; pelo Facebook as pessoas ficam a par de eventos e acontecimentos na vida dos amigos e familiares deixados para trás.

É tamanha a presença da internet na vida das pessoas que, em sua apresentação abrindo o evento, o jornalista do serviço em português da swissinfo.ch, Alexander Thoele, indaga se ainda seria possível ficarmos fora.

Por meio de vários exemplos ilustrados, Thoele demonstrou que isso nem mais é uma opção. “A internet não esquece”: qualquer informação ou imagem, uma vez postada na rede, é impossível de ser apagada de vez. As consequências disso podem ser extremamente nefastas, e por isso empresas – especialmente de comunicação – já tomaram o cuidado de estabelecer regras estritas para seus funcionários, e jornalistas, nas redes sociais.

Equilíbrio

Este é apenas um dos desafios deste novo paradigma que vivemos, tema discutido numa mesa redonda com a naturopata Meire Yamaguchi, a editora do site Varal do Brasil, Jacqueline Aisenman, e o psicanalista Vicente Luís de Moura. A questão de como equilibrar a necessidade de se estar conectado boa parte do tempo – afinal o espaço público hoje em dia inevitavelmente passa pela internet – com a manutenção dos laços e contatos sociais concretos permeou toda a discussão.

As implicações disso no terreno da educação fazem parte do dia-a-dia de todo pai, mas estamos só começando, segundo Moura, a desenvolver “filtros” que possibilitem às pessoas, especialmente crianças e jovens, saber distinguir conteúdos maliciosos dos positivos. Assim como no caso de videogames, cuja natureza, de tentativa e erro, é fundamentalmente distinta dos jogos quer estimulam o raciocínio e onde as crianças são obrigadas a buscar soluções lógicas. Em suma, esse novo paradigma exige também um novo código de etiqueta que estabeleça como são os novos “bons modos à mesa à guisa de smart-phone”.

Essas diversas implicações da internet no cotidiano forneceram o pano de fundo para a discussão central do encontro, que gira em torno da vida dos imigrantes. Meire Yamaguchi demonstrou como as redes sociais e aplicativos virtuais facilitaram a decisão das pessoas em emigrar. A distância física é compensada pela virtualidade, e o imigrante não precisa mais cortar muitos laços quando decide viver em outro país.

Dilemas da integração

Tal realidade leva a uma nova questão: será que essa facilidade de manutenção dos laços de origem não acaba dificultando a integração do imigrante no novo país?

Segundo alguns participantes, tal situação é uma realidade claríssima. O caso típico é a pessoa que passa seu tempo todo conectada nas relações com o Brasil via redes sociais e não sente a mínima necessidade em se engajar com o seu novo bairro, a nova língua e em estabelecer contato com seus novos vizinhos. Afinal, o caminho da integração do imigrante de qualquer nacionalidade é um processo acima de tudo concreto, no sentido de não virtual.

Uma das participantes, lamentando esse comportamento de seus conterrâneos e lembrando como era a vida de expatriada antes da internet, provocou palmas da plateia ao afirmar que sentia saudades de ter saudades.

Vantagens da internet

Por outro lado, a artista gráfica e documentarista Thaís Aguiar, na apresentação final do encontro, veio mostrar como as redes sociais podem também ser uma ferramenta essencial para a integração. É importante notar que Thaís era a única expositora “nativa” em termos digitais (em oposição aos chamados “imigrantes digitais”, nascidos ainda na era não virtual), ou seja, jovem o bastante para haver crescido num ambiente onde a internet já era presente.

Os recursos no mundo digital possibilitam o acesso a uma enorme gama de informações, assim como à prática do próprio idioma do novo país, que antigamente seria simplesmente impensável. Como lembrou ela, somos todos hoje em dia “geradores, consumidores e multiplicadores de informação”, ou seja, as ferramentas digitais nos possibilitam uma participação ativa. Obviamente que, tanto quanto é mais fácil achar e se integrar à comunidades que partilham interesses comuns de maneira proativa, fortalecendo a diversidade, o outro lado dessa moeda é que também ficou mais fácil para grupos com interesses opostos (racistas, antissemitas, anti-imigrantes etc.) se organizarem. Mas isso também faz parte de um mundo plural.

O V Encontro Brasileiro na Suíça reuniu representantes da comunidade brasileira radicada no país em 25 de maio de 2013. O tema era “Redes Sociais e Integração”.

O jornalista Alexander Thoele, da swissinfo.ch, fez uma palestra intitulada “Redes Sociais: Chances e desafios do mundo ligado em rede”.

A mesa redonda contou com a participação de Meire Yamaguchi (naturopata holística, autora e terapeuta), Jacqueline Aisenmann (escritora, editora do site e da revista eletrônica “Varal do Brasil”) e Vicente Luis de Moura (psicólogo).

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