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Em Pernambuco, suíços vivem no epicentro da epidemia de Zika

Uma mulher grávida no Beco do Sururu, Recife, Brasil em 29 de janeiro de 2016. O Brasil enfrenta uma batalha contra o vírus da Zika. Reuters

De acordo com o Consulado da Suíça em Recife, aproximadamente 300 cidadãos suíços residem atualmente em Pernambuco, estado brasileiro mais afetado pela epidemia de zika, doença que atinge o Brasil e outros 51 países. 

Causada por um vírus, a zika desperta preocupação internacional especialmente por sua provável ligação com a ocorrência de microcefalia e outros casos de malformação neurológica em bebês cujas mães contraíram a doença.

O número de casos de zika e de outras doenças como dengue e chikungunya não para de crescer em Pernambuco, mas a comunidade suíça não parece particularmente afetada. Sem criar um clima exagerado de alarme, os suíços se dividem entre os cuidados contra o mosquito transmissor – o Aedes aegypti – e as tarefas normais do cotidiano no local que escolheram para viver e trabalhar.

A transmissão do zika vírus, segundo o Ministério da Saúde, ocorre atualmente em 22 estados brasileiros. Sua incidência, assim como o aumento dos casos de microcefalia, atinge principalmente a Região Nordeste do país. Particularmente o estado de Pernambuco, que no início de março já contabilizava 1.214 notificações e quase 300 casos confirmados de microcefalia.

“Soubemos que alguns cidadãos suíços apresentaram sintomas de zika, que afeta as articulações de forma bem dolorosa e demora em torno de uma a duas semanas para melhorar”, diz o cônsul Rodolfo Fehr. Nenhum caso, no entanto, foi considerado grave ou chegou a ser notificado no Consulado.

Segundo os boletins divulgados periodicamente pelo Ministério da Saúde, após terminar 2015 com mais de três mil casos notificados de microcefalia e outras alterações do sistema nervoso central, o Brasil chegou ao dia 5 de março com 6.158 notificações e 745 casos confirmados de alteração neurológica causada por algum tipo de infecção congênita. A maioria dos casos notificados (4.231) continua sendo investigada, e outros 1.182 casos foram descartados. Oitenta e oito casos já foram 100% confirmados como zika por exames laboratoriais.

Cuidados

Atuante no setor de hotelaria, a suíça Fernanda Henry, de 38 anos, vive em Recife desde 2001. Ela diz não ter alterado seu ritmo de vida por causa da epidemia, mas procura evitar o contato com o mosquito transmissor: “Tenho cuidados dentro de casa, sempre cuidando para que os meus vasos de planta não acumulem água. Também utilizo repelente constantemente”, diz.

Fora de casa, o cuidado é ainda maior: “Se vou frequentar um local onde sei que poderá ter incidência de mosquitos, procuro utilizar calças e mangas compridas. O calor pernambucano é que não ajuda muito”, conta Fernanda, ressaltando a importância de se transformar o combate ao Aedes aegypti em uma tarefa de todos: “Não dependemos só de nós, a população em geral tem que fazer a sua parte”.

Com uma filha de sete anos, Fernanda procura estar sempre alerta: “Além de aplicar o repelente antes de ela ir para a escola, ainda o coloco na mochila, para que ela própria, se perceber que poderá estar próxima de mosquitos, possa reaplicar. Ela também está sensibilizada para o tema, não só através dos pais, como também através da escola, que faz campanha de sensibilização e ensina às crianças como se proteger e evitar a criação do mosquito”, diz.

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Morador de Recife desde 2005 e assíduo visitante de Recife há mais de 40 anos, o suíço Pablo Stahli, de 72 anos, não esconde seu amor pela cidade: “Cheguei em 1972 pela primeira vez e, nos anos seguintes, viajei mais de 300 vezes entre a Europa e o Brasil. Mudei definitivamente para Recife faz dez anos”. A epidemia de zika, admite, não o fez alterar em nada seu dia-a-dia: “Sinceramente, não tomei nenhum cuidado”, diz.

Stahli, que é cidadão honorário de Recife, mostra com bom humor como o alarme nem sempre é a melhor saída em casos de crise como a epidemia de zika no Brasil: “Lamento muito por não ter comprado ações de uma firma que fornece repelente”, diz o editor de livros de arte e colecionador de objetos de arte popular.

Turismo

Segundo o Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), a epidemia de zika já provoca o cancelamento ou adiamento de pacotes de viagem e reservas de hospedagem comprados por turistas estrangeiros, sobretudo no Nordeste. As maiores operadoras do setor, no entanto, afirmam que este volume representa apenas 1% do total de pacotes vendidos: “Há alguns pedidos de adiamento ou cancelamento, mas em número reduzido”, diz Artur Maroja, presidente da seção pernambucana da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis.

Fernanda Henry concorda que “esta epidemia tem prejudicado de alguma forma as vendas de pacotes de hospedagem para o mercado internacional” e conta que recebe muitos questionamentos de operadores internacionais preocupados com seus clientes. Para evitar que este quadro de medo se cristalize, os suíços que atuam na hotelaria também buscam fazer a sua parte no combate à doença: “Em nossa operação hoteleira, temos contribuído com a sensibilização dos colaboradores através de palestras de especialistas no assunto”, diz.

“Trabalho em um hotel que fica em uma área de 14 hectares sobre a qual temos cuidados como ter o lixo sempre fechado e em local coberto, o material orgânico em câmara refrigerada e garrafas com o cuidado de não estarem acumulando água. Também não utilizamos pratos sob os vasos de planta. Isso tudo além da parte mais importante, que é a sensibilização das pessoas para o tema. Assim todos se tornam fiscais no combate ao mosquito”, conta Fernanda.

Para Pablo Stahli, é importante manter os visitantes informados sobre as medidas de prevenção ao mosquito, mas também esclarecer que apenas uma pequena parcela da população acaba contraindo a doença: “Acabei de receber quatro amigos da Suíça e viajamos, como estava previsto, para vários estados do Nordeste. Eles voltaram para a Suíça sem problemas de zika ou outros”, diz.

Alerta às gestantes

Em reunião de seu Comitê de Emergência realizada no dia 8 de março em Genebra, na Suíça, a Organização Mundial de Saúde (OMS) voltou a recomendar às mulheres grávidas que evitem viagens aos países onde ocorre a epidemia de zika. Segundo a OMS, “estabelecer relação entre o zika e a microcefalia ainda requer mais estudos”, mas sua relação é “cada vez mais provável”.

Durante uma visita de quatro dias que fez ao Brasil no fim de fevereiro, a diretora-geral da OMS, Margaret Chan, pediu empenho aos brasileiros: “O mosquito transmissor está dentro da casa das pessoas, o que exige que cada um se esforce para eliminá-lo”, disse.

Acompanhada pela diretora da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Carissa Etienne, e pelo ministro brasileiro da Saúde, Marcelo Castro, Chan esteve no Instituto Materno-Infantil de Pernambuco para ver de perto o protocolo de atendimento e acompanhamento de gestantes desenvolvido pelo órgão.

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