Escola abre curso de curandeirismo
A partir de janeiro, será possível se formar em mediunidade na Suíça romanda (de expressão francesa). A ambição dessa nova escola é fazer do curandeirismo um ofício sério.
Mesmo se a atividade está muito longe do reconhecimento oficial na Suíça, certos médicos encaminham pacientes a curandeiros.
A escola que abre suas portas em janeiro em Neuchâtel, oeste da Suíça, ambiciona proporcionar a primeira formação em mediunidade. “Porque cada pessoa pode desenvolver a sensitividade que está nela”, afirma o fundador da escola, Hannes Jacob. Partido dessa idéia, o especialista em energia acredita que pode tornar o curandeiro um ofício sério e respeitado.
Na Suíça, essa prática não é nova. “O segredo” todo mundo conhece. Cada um tem um amigo que recorreu a um curandeiro ou um amigo que conhece alguém … que “funcionou”. Uma verruga que desaparece, uma hemorragia que pára de repente, uma queimadura que desaparece … como um passe de mágica.
Trata-se de fato de um pouco de mágica. Ninguém consegue explicar o fenômeno. No entanto, alguns médicos, talvez mais numerosos do que se imagina, recorrem regularmente a esses curandeiros.
Mas é difícil medir a dimensão do fenômeno, pois não existe qualquer dado oficial e o assunto continua tabú.
Dois perfís, mesma convicção
Entre os poucos médicos que aceitam falar de sua colaboração com curandeiros está Nathalie Calame, clínica geral e homeopata em Colombier, perto de Neuchâtel:
“No vilarejo, às vezes recorro a uma senhora que pratica o segredo para queimaduras e verrugas. Para outras patologias ou problemas crônicos, às vezes proponho a meus pacientes de consultar especialistas em energia. Ao meu ver, a maioria dessas doenças podem melhorar com essas práticas”, explica.
“De fato, não é tanto em função da doença que a gente decide encaminhar o paciente a um curandeiro. É em função de sua maneira de ser. Alguns pedem apenas um comprimido para ficar melhor. Outros tentaram tudo e desejam finalmente encontrar uma solução, não importa o meio”, prossegue a Dra. Calame.
Ao contrário da Dra. Calame, que se diz muito aberta às medicinas complementares em geral, Helen Burach, clínica geral em Nidau, no cantão de Berna, define-se como “uma médica próxima da prática acadêmica e tradicional”. Sua “tolerância frente aos outros tipos de medicina não provém de convicção pessoal.”
No entato, às vezes, ela também encaminha pacientes a curandeiros, quando considera que “a medicina convencional chegou aos seus limites.” E as duas médicas chegam à mesma conclusão: “freqüentemente funciona”.
Resultados observados
Helen Burach cita vários exemplos em que observou melhora no estado de saúde de seus pacientes. O caso de uma criança hiperativa “que pulava e gritava durante horas sem interrupção. Depois que um curandeiro o tratou, as crises terminaram. Claro, ele continua com dificuldades na escola mas agora é capaz de acalmar-se.”
Quando ela sente que os pais são reticentes à idéia de utilizar a Ritalina – um remédio objeto de controvérsias contra a hiperatividade, a Dra. Burach não exita mais em propor a intervenção de um curandeiro. “No pior dos casos, não fará mal; no melhor, a criança pode ser curada”.
Outro caso observado pela médica bernense: uma mulher jovem que sofria de uma displasia do útero que podia degenerar em câncer. “Ela foi tratada por um curandeiro e três meses depois não tinha mais nada”, lembra Helen Burach.
“Os mais céticos dirão que é uma simples coincidência. É verdade que às vezes há curas espontâneas. Mas tenho meu consultório há vinte anos e nunca constatei cura espontânea tão rápida. Em geral, é preciso contar entre nove meses e um ano e fazer um controle de dois em dois meses. Nesse caso, a displasia desapareceu em três meses.”
Herança cartesiana
Como os médicos explicam esse fenômeno? “Eu não explico nada, responde Nathalie Calame. Mas explicar não é o que interessa. O que conta é experimentar.”
“Os russos estudam há trinta anos os fenômenos paranormais em nível universitário. Na Grã-Bretanha, existem 400 escolas de mediunidade. Na Suíça romanda (de expressão francesa) ficamos muito próximos do espírito cartesiano francês”, explica a médica de Neuchâtel.
“Aqui, queremos compreender antes de experimentar. Me parece uma aberração, comenta a Dra. Calame. Mas é claro que temos outras formas de inteligência como tocar, perceber etc. Se temos acesso por que não utilizar?”
Helen Burach, por sua vez, afirma “o importante é que o paciente seja ajudado. De que maneira, para mim tanto faz”.
swissinfo, Alexandra Richard
A “Escola suíça de mediunidade” começará a funcionar em janeiro de 2006, em Neuchâtel.
Partindo do princípio de que a mediunidade pode ser aprendida, ela proporá cursos de cura espiritual, leitura da aura, vidência ou arte psíquica.
A formação será feita em dois anos, nos finais de semana, de 15 em 15 dias.
O curso custa 4.180 francos suíços por ano.
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