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Eventos sobre arte e otimismo são boas opções para proteger a alma do frio

Mulher olhando para a câmera
Jessica Lockhart: "Quando nos mudamos para outro país, nossos valores e cultura são questionados. Buburuza Productions, LLC

Novembro traz dias mais escuros, mas é tempo também de arte e otimismo. A coluna separou três eventos para os leitores que estejam em busca de beleza, cor e positividade para enfrentar o inverno que bate à porta. 

Anotem na agenda: dois são sobre arte: o Circuit Café Culture (5 a 18/11) e a Exposição Aquarelas de Zurique (17/11 a 23/12). Já no fim de semana dos dias 17 e 18 deste mês, acontece o Global Optimism Summit (n.r.: Conferência Global sobre Otimismo), encontro que traz especialistas de várias partes do mundo para falar sobre o tema.

Artigo do blog “Suíça de portas abertas” da jornalista Liliana Tinoco Baeckert.

Arte e Café pelo mundo

O Circuit Café Culture trata-se de exposições de artistas do mundo simultaneamente em um café cultural de quatro cidades espalhadas pelo mundo: Genebra (Suíça), Rio de Janeiro, Annemasse (França) e São José do Rio Preto, no estado de São Paulo. A organizadora e idealizadora do evento, Leca Araújo, diz que a ideia do Circuito é conectar o Brasil, a Suíça e outros países por meio de arte e cafés culturais, além de mostrar as diferentes faces da cultura brasileira. “Não somos só samba e carnaval, temos muita arte também”, explica Leca, artista plástica carioca que vive em Genebra. 

O tema da vez é Equilíbrio no estilo contemporâneo. Os 14 artistas escolhidos expõem trabalhos em diferentes técnicas: pintura em acrílico, óleo, colagem e texturas. Os participantes vêm de países distintos e expõem em dois, dos quatro cafés selecionados para o evento.  “É uma oportunidade de conectar arte com prazer. Diferentemente das galerias, que giram em torno de muita vaidade, os cafés culturais difundem ideias”, explica Leca. O Caffè Olé e Le Doxaty fazem dupla no circuito café do Rio e de Annemasse, na França; o Les Recyclabes e Maroka Decora Café integram a dobradinha Genebra e São José do Rio Preto, em São Paulo.  

O evento está na segunda edição, a última aconteceu em fevereiro de 2017. Para o futuro, Leca pretende ampliar o número de cidades e países. “A minha vontade é levar o Circuito para o mundo”, diz a artista, que escolhe locais que já tenham tradição em promover arte e cultura. A produção do evento é dividida com a curadora Elisa Maria Muradas.

Aquarelas de Zurique

Não se admire se você vir uma mineira de Uberaba pintando aquarelas em pontos turísticos da cidade de Zurique e arredores. A artista plástica e musicóloga Rejane Paiva tem passado algumas de suas tardes, desde a primavera desse ano, se apropriando de ângulos e vistas e eternizando seus olhares no papel. 

Mulher com pintura na mão
Pintar aquarelas sobre cidades é uma forma de Rejane Paiva dialogar e se apropriar da cultura do local onde vive. swissinfo.ch

A artista pintou inúmeros lugares do cantão de Zurique, como por exemplo, a ópera, a casa onde morou o compositor Wagner, o local onde viveu James Joyce quando escreveu o romance Ulysses, a Gross Münster, a vista do Rio Limmat, e até o centro antigo do vilarejo de Eglisau, local onde está localizado o restaurante Moema, que será palco da exposição de algumas das obras de Rejane. 

Pintar aquarelas sobre cidades é uma forma de Rejane dialogar e se apropriar da cultura do local onde vive. A artista, que também morou durante dez anos em Portugal, pintou as cidades de Lisboa e Cintra. Isso sem contar os outros lugares do mundo onde Rejane já visitou ou fez turismo. 

“Quando eu seleciono o tema da aquarela, é minha maneira de eleger uma parte da cidade que me sensibiliza. Essa escolha é uma forma de me apropriar do local e sua cultura. Eu levei alguns anos para começar a pintar o lugar onde moro e redondezas. Fiquei muito tempo observando, lancei meu olhar sensível. Assim tento desbravar essa nova cultura por meio de perspectivas, ângulos, cores e luzes”, explica a artista. Como Rejane mesmo define: “andar pela Suíça e apreciar cada cantinho que um olhar atento pode avistar é um convite a enxergar o presente, o exato momento em que um ângulo interessante se mostra para você”. 

– A exposição Aquarelas de Zurique começa no dia 17 de novembro, a partir das 17 horas, no Restaurante MoemaLink externo (Untergass, 1, Eglisau) e vai até 23 de dezembro

Circuit Cafe CultureLink externo – de 5 a 18 de novembro, nos Cafés: Café Librairie Les Recyclables (Rue de Carouge 53, 1205 – Genebra), Brasserie Caffè Olé (Rua do Teatro, 3 – Centro – Rio de Janeiro), Le Doxaty Café (4, Rue de la faucille, 74100 – Annemasse) e Maroka Decora & Café (Rua Capitão João Gomide, 139 – São José do Rio Preto)

Lições para aprender a desfrutar a vida fora do país de origem

Otimismo é uma daquelas palavras em que cada um entende de uma maneira. Alguns acham que está relacionado à metade do copo cheio e vazio, por exemplo. Mas é muito mais que isso. É uma fora de encarar o mundo. Jessica J. Lockhart, que promove em Berna, a primeira Conferência Global sobre Otimismo, afirma que toda criança, até uma determinada idade, abre os olhos e só espera o melhor desse mundo. “Nós nascemos com essa capacidade, mas vamos perdendo, infelizmente, com o passar dos anos. É o declínio da esperança, da crença em um mundo melhor. Ao perdermos isso, estamos fadados a ter nossa energia, direção e motivação dissipadas”, explica. 

Mas a boa notícia é que existem pessoas preocupadas com o assunto e que estudam seriamente o tema. A americana, que foi criada na Espanha, se debruça sobre o tema há dez anos e criou, após inúmeros estudos na área de Linguística, Neurolinguística e Coach, a Humanologia e o coach voltado para o otimismo. Com esse conhecimento, Jessica treina inclusive outros profissionais. Ela desenvolveu inúmeras técnicas e materiais que visam motivar pessoas, aumentar a criatividade e até a produtividade. Enfim, uma ajuda para uma vida mais plena, feliz e positiva. 

swissinfo.ch: Você poderia explicar como você pretende ajudar e orientar pessoas com o foco no otimismo?

Jessica J. Lockhart: Por meio de ferramentas para manter essa energia positiva. São dicas e conhecimentos necessários que podem ser aplicados contra essa sensação de que não há mais jeito, de que falta energia. A intenção é levantar o seu espírito, mudar o humor e aumentar a motivação. 

Eu tenho muitos migrantes como clientes. Pessoas que moram fora de seu ambiente cultural que têm que lidar com os desafios de se deparar com uma nova sociedade. E aí, dependendo de como esse indivíduo encara esses desafios, as dificuldades podem se tornar maiores e parecerem intransponíveis. 

swissinfo.ch: Como otimismo e suas técnicas podem ajudar quem mora fora?

J.J.L.: O trabalho que faço pode ajudar em muitas situações em que essas pessoas, por exemplo se sintam rejeitadas e frustradas por não entenderem certas diferenças culturais. Uma das raízes desse problema é que isso acontece devido a certas crenças, que criam ansiedades e preocupações. 

O que as pessoas fazem integra as crenças delas. Se pensarmos assim, fica mais fácil entender o outro e, consequentemente, nos adaptarmos. 

É importante lembrar que quando nos mudamos para outro país, nossos valores e cultura são questionados. Isso consome muito da nossa energia para sobreviver nesse ambiente cheio de novidades. É uma nova língua, regras diferentes… Imagina o quanto não consome da nossa força mental! Esses meus clientes me procuram exaustos. 

swissinfo.ch: E o que você diz a eles? Você poderia explicar alguns pontos básicos do seu discurso para ajudar migrantes?

J.J.L.: Claro. Eu digo sempre que é muito duro julgar somente sob o seu ponto de vista, sob a sua esfera pessoal. Duro para o próprio julgador, que está pressupondo dessa maneira. E o mais importante, você só tem poder dentro da sua esfera pessoal. Isso significa que o que a outra pessoa pensa, presume ou faz é problema dela. Esferas pessoais são territórios onde nossas crenças e pensamentos são inquebrantáveis. Então, por isso é perigoso julgar do alto da sua.

Então, você migrante, quando se irrita com o jeito do outro, está tentando fazer o impossível, que é tentar fazer com indivíduo pense como você. Quando você critica uma cultura estrangeira, você quer dizer: você está errado e eu, certa. Mas imagine! A esfera pessoal desse ser, que tem crenças e valores distintos, irá obviamente colidir com a sua. Então, criticar, ficar com raiva ou manter sentimento de oposição ao lugar e aos moradores do local onde se vive só pode prejudicar a você mesmo. A maioria dos problemas começa quando começamos a querer controlar as esferas pessoais de outras pessoas. 

Quando eu morei na Rússia, por exemplo, costumava sair com um grupo de latinos. Nós ríamos alto e éramos chamados a atenção pelos russos, porque eles não gostam de barulho em locais públicos. As pessoas do meu grupo ficavam muito irritadas. Era uma situação desagradável mesmo. Mas eu descobri que, na Rússia, na época do comunismo, famílias viviam juntas nas mesmas casas e que, por isso, o silêncio e o respeito à privacidade eram e continuou muito importantes. 

Vou trazer a situação para a Suíça: sabemos que os suíços, em relação aos latinos, não gostam muito de interações com estranhos, encontros casuais são menos esfuziantes. Mas não é porque não gostam dos outros, é só uma outra maneira de encarar a ação falar com estranho na rua. Os suíços veem a situação de uma determinada perspectiva porque nem sempre podem ver de outra. Nós, que fomos criados em outra cultura, enxergamos sob outro aspecto. A lição que tiro disso: tudo depende do ângulo. Assim é mais fácil não se estressar.

swissinfo.ch: E seria por essa razão que as pessoas vivem o choque cultural?

J.J.L.: Exatamente. Quando nossas crenças são questionadas, tem-se o perigo de choque cultural. E quando saímos da nossa cultura, na qual as crenças são bem sedimentadas e claras, para viver em outra, acontece o tão temido questionamento em massa. 

swissinfo.ch: E qual seria então o seu conselho para que os migrantes possam superar essas dificuldades da melhor maneira possível?

J.J.L.: Aceite que nem todo mundo consegue olhar para as situações de outros ângulos. Na maioria das vezes, aquela grosseria não é pessoal, não é contra você.  

Eu costumo dizer que a vida é feita das histórias que fazemos dela e quais delas você prefere contar. É sua a escolha. Você pode, por exemplo, com a migração, tornar sua vida em uma aventura ou em tortura. As coisas são como acreditamos. 

Serviço: A conferência será traduzida simultaneamente em inglês, alemão e espanhol.

Data: 17 e 18 de novembro, em Berna

Informação no site Optimism SummitLink externo

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