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Ex-guardas suíços marcham para Roma

Guardas da ativa e ex-guardas desfilam em Milão. swissinfo.ch

Os ex-guardas suíços foram recebidos com banda de música no castelo Sforzesco, no centro de Milao.

O grupo completou 84 quilometros dos 720 previstos até o Vaticano, em Roma. A caminhada é parte das comemorações do V Centenário da Guarda Suíça Pontifícia.

A emoção escondia os sinais de cansaço dos primeiros dias de marcha sob o vento e a chuva. Estes jovens senhores de meia idade, e alguns já idosos, participaram da cerimonia de boas vindas como manda o figurino, em pé, na posição de ‘descanso”, diante de autoridades suíças e italianas e centenas de curiosos.

Eles não estavam vestidos com o tradicional uniforme com listras amarelas e azuis, mas sim com roupas confortáveis de “trekking”. A honra de endossar a tradicional farda, agora cabe àqueles que estão na ativa. A turma da reserva trocou os sapatos pelos tênis e sandálias, a espada, o alabado e a lança pelo canivete suíço e o capacete pelo boné. Mas quem foi rei não perde a majestade e, ainda hoje, o ex-guardas suíços se sentem fiéis ao mandamento de proteger a vida do Papa.

Lealdade a uma missão

“A Guarda Suíca personaliza uma da melhores partes da nossa história. Para nós, ela nao é um grupo folclórico histórico ou uma representante de valores militares do país ou simplesmente algo que tem a ver com a Suíça católica. É algo do qual nos orgulhamos muito, algo que demonstra a lealdade a uma missão, este sim, um valor importante nas sociedades modernas”, disse o cônsul suíço em Milão, David Vogelsanger.

Ele mesmo está participando de alguns trechos da caminhada para homenagear os laços históricos dos dois países. “A batalha dos Gigantes, na qual os suíços perderam 12 mil homens na defesa de Milão do ataque francês, em setembro de 1515, lançou a semente da neutralidade de nosso país, que até hoje está em vigor. Um dia antes do combate, nossos homens jantaram aqui neste pátio, no interior do castelo”, completou ele sobre a relação entre a cidade italiana e a Suíça.

A marcha dos ex-guardas-suícos partiu de Bellinzona dia 7 de abril. E deverá chegar a Roma no dia 4 de maio, ante-véspera do juramento dos novos guardas. Uma data especial pois marca o sacrifício dos soldados do Papa que o protegeram até a morte de um ataque, em 1527.

As pessoas aplaudem

Ela refaz em boa parte o trajeto original dos primeiros mercenários suíços que aceitaram o dever de cuidar da seguranca do Papa Julio II, em 1506. “Aqui em Milão eles receberam uma antecipação do pagamento. Não vieram por idealismo mas sim por dinheiro e vontade de combater”, lembra o cônsul.

Hoje o contexto é outro, assim como os perigos. As hordas de inimigos ao longo do trajeto não existem mais, mas todo o cuidado é pouco para não ser atropelado pelos carros em alta velocidade que cruzam as estradas por onde passa o grupo de ex-guardas suíços.

A organização prevê um total de 27 etapas e em cada uma delas a seguranca é garantida pelas forças de ordem locais. Em Milão, a saída do grupo do Castelo Sforzesco foi acompanhada por batedores da cavalaria. O trânsito foi interrompido para a passagem do grupo. Ao contrário do que se esperava, nenhum motorista protestou.

Os pesdestres nas ruas, milaneses e turistas, paravam para aplaudir. Durante alguns minutos a rua Dante, tradicional via do centro histórico, voltou no tempo. Muitas pessoas acenavam das fachadas dos prédios numa demostração de carinho e de reconhecimento à instituição da guarda suíça.

Do castelo Sforzesco a catedral do Duomo, onde seria celebrada uma missa, foram apenas algumas centenas de passos. Da fortificação militar até a igreja, o caminho resume a viagem histórica, cultural e espiritual realizada pela guarda suíça nos últimos 500 anos.

O padre que marcha

Este curto trajeto ganha ares de peregrinação para os 78 ex-guardas, hoje com menos cabelos, alguns acima do peso, mas com muita disposição para enfrentar as centenas de quilômetros que têm pela frente.

Eles já não demonstram a mesma disciplina militar. Não marcham, caminham fora do ritmo ditado pela batida do tambor da banda. Talvez estejam dispersos nas lembranças do tempo da caserna papal. Espremidos num corredor de admiradores, eles distribuiam um panfleto contando a história da marcha.

“Eu servi no Vaticano entre 1978 e 1980, e foi uma experiência incrível da qual não me esquecerei jamais. Participar desta marcha também está sendo uma experiência fantástica, mas ainda estamos no começo, vamos ver se chego ao final” disse sorrindo Hans Osterwalder.

Entre os membros desta “coluna suíça” está um padre. Ele marcha de batina no corpo e tênis nos pés. “Eu servi no Vaticano entre 1981 e 1993. Foi uma oportunidade de conhecer a Igreja por dentro, mas também conhecer a mim mesmo. Quando tinha 8 ou 9 anos, cheguei a pensar em ser sacerdote. Mas esta vocação surgiu mesmo durante o meu serviço no Vaticano. Quando deixei a Guarda Suíça, entrei para um seminário, estudei e hoje sou sacerdote”, disse a swissinfo, Dom Pierszilinsi.

Ciente de que ainda vai gastar muito a sola do sapato, ele garante que vai chegar ao final da caminhada, com a ajuda de Deus e em nome do Sumo Pontífice.

swissinfo, Guilherme Aquino, Milão

A Guarda Suíça Pontifical tem 110 homens.
Condições de admissão: ser suíço, do sexo masculino, católico, idade entre 19 e 30 anos, altura miníma de 1,74, serviço militar feito na Suíça, diploma de segundo grau ou certificado profissional federal.
Os candidatos devem ser solteiros no momento do recrutamento mas podem casar-se posteriormente. Duração mínima do serviço: 2 anos.
Salário: 1.800 francos suíços por mês, isento de imposto. O alojamento é gratuito.

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