Perspectivas suíças em 10 idiomas

Executivos estrangeiros devem aprender idiomas nacionais

Estrangeiros nos altos escalões muitas vezes não têm tempo para aprender idiomas. Keystone

Na Suíça aumenta a pressão para que os executivos estrangeiros aprendam os idiomas nacionais e melhorem sua integração ao país. Para algumas dessas pessoas, a expectativa é irrealista.

Não é a primeira vez que a questão da língua é associada ao problema da integração, mas é raro que os comentários sejam dirigidos ao grande número de profissionais de alto nível trabalhando no país.

Simonetta Sommaruga, recentemente declarou à rádio pública ter escutado reclamações sobre executivos estrangeiros vivendo em uma “sociedade paralela” na Suíça. Trata-se de um mundo onde eles enviam seus filhos a escolas internacionais, falam inglês e ignoram tradições suíças ou o que ocorre ao seu redor, acrescentou a ministra suíça da Justiça.

Quando se trata do tema “integração”, Sommaruga considera que aprender o idioma local é “a mais importante das coisas”. “Se você não fala a língua do país, você não compreende nada, não sabe dos seus direitos e também dos deveres.”

Ele defende que os executivos estrangeiros e suas esposas aprendam um dos idiomas locais e mais sobre o país em que vivem. Suas observações remetem aos planos apresentados no Parlamento em novembro de 2011 para promover a integração de estrangeiros.

O pacote de medidas visa reforçar as regras de entrada no país, tornando cursos de idiomas obrigatórios para membros das famílias de imigrantes originários de países não membros da União Europeia e durante os processos de renovação dos vistos temporários de residência. As medidas também determinam que os empregadores ajudem no processo de integração dos funcionários estrangeiros e suas famílias.

O aprendizado dos idiomas é visto como uma solução por políticos, mas para as pessoas que imigram por questões profissionais a situação é diferente na prática.

Inglês, a língua comum 

Os executivos estrangeiros passam em geral três anos na Suíça. Muitos trabalham longas horas pelos seus salários elevados e preferem despender o tempo livre com as famílias ao invés de aprender um novo idioma – uma façanha para as pessoas de idades mais avançadas.

“Todo mundo sabe como é difícil dominar uma língua estrangeira. Francamente, a não ser que você pratique todos os dias como um adulto, é muito difícil fazê-lo. Você tem de chegar a um certo nível de fluência para não se sentir envergonhado ao tentar falar o idioma”, explica Sabine Baerlocher, da agência Active Relocation.

Uma pesquisa informal com quatro multinacionais suíças – ABB, Nestlé, Novartis e Roche – mostra que elas recomendam aos funcionários recém-chegados o aprendizado dos idiomas locais, mas isso não é uma obrigatoriedade.

“Na maioria das vezes o empregado expatriado não necessita falar o idioma local. Eles trabalham em uma empresa onde todos falam inglês e a jornada pode chegar a até oitenta horas por semana. Nos finais de semana eles preferem passar o tempo com as famílias”, acrescenta Baerlocher.

Sua agência ajuda esses profissionais a se estabelecer na Suíça. Como a maioria dos serviços de relocação, ela ocupa-se também das necessidades do cotidiano, dentre elas formalidades relativas aos impostos ou seguros. Ela recomenda às esposas que queiram trabalhar a aprender as línguas locais e inscrever os filhos com menos de oito anos nas escolas públicas, além de participar das atividades locais.

Mas Baerlocher considera a integração uma questão mais importante do que o idioma. “Vai nos dois lados: se queremos que as pessoas se integrem, devemos então integrá-las. E isso não é uma particularidade da Suíça.”

“Expatriados podem se sentir alijados simplesmente devido à diferença de costumes”, lembra. Cursos interculturais para tornar os suíços “mais abertos” também podem ajudar.

“Mas em comparação com outros países, os expatriados na Suíça estão bem integrados”, considera Baerlocher. “Eles não se isolam em bairros exclusivos para estrangeiros como é o caso nos países menos seguros.”

Quase todos os seus clientes recebem cursos de idiomas das suas empresas. Os cursos mais válidos são aqueles que ajudam a resolver problemas práticos. “Essa é a verdadeira integração linguística, sem querer transformar o aluno em um professor de alemão.”

Falta de tempo 

É tudo mais difícil em um país com três idiomas oficiais (alemão, francês e italiano), assim como diferentes dialetos.

A swissinfo.ch questionou alguns dos leitores através da internet para saber se eles consideram justa a expectativa dos suíços de ver estrangeiros aprendendo seus idiomas. As considerações foram as mais variadas.

“Por causa das várias línguas, a Suíça é um dos países mais difíceis para um estrangeiro ocupado se integrar”, escreveu uma pessoa que declarou ter tido rendimentos elevados no país e ser casado com uma suíça.

Outro leitor afirma que, enquanto todos os altos executivos desejam estar bem integrados na sua comunidade, “a realidade é que virtualmente todas multinacionais e empresas high-tech fizeram do inglês a principal língua de comunicação.”

“Simplesmente não há tempo ou oportunidade de se tornar fluente em um dialeto local, com o qual estamos expostos somente algumas horas por semana. Nossas carreiras ou famílias consomem todo esse tempo e, francamente, nossos cérebros não estão mais ligados para isso”, refletiu um leitor. 

“Diria que aprender o básico de um idioma quando você está vivendo no país é o mínimo em educação e respeito”, argumenta outro.

Diversão 

A motivação é a chave. Assim afirma um executivo americano, que hoje domina fluentemente o alemão e tem boas noções de francês, espanhol e um pouco de italiano. Frederick Shepperd administra uma empresa de investimentos em Zurique e chegou a ser membro do comitê executivo do Clube Americano da maior metrópole do país.

“Penso que é extremamente importante aprender um idioma estrangeiro, especialmente sendo originário dos Estados Unidos ou de outros países de língua inglesa. Não apenas você aprende um idioma, mas também uma cultura. Isso é o mais divertido”, declara à swissinfo.ch.

Os estrangeiros correspondem a 22,4% da população total residente (situação na metade de 2011), de acordo com estatísticas do Departamento Federal de Migração.

A maioria vem de países membros da UE, especialmente Itália, Alemanha e França, assim como Portugal e Espanha.

As maiores comunidades de estrangeiros de países fora da União Europeia: Sérvia, Turquia e Kosovo.

Os imigrantes da América do Norte (EUA, Canadá e México) fazem parte do sétimo maior grupo.

Um pacote de medidas apresentado em novembro 2011 prevê cursos obrigatórios para os membros das famílias de imigrantes de países fora da UE.

A renovação de autorizações de residência limitadas ou a concessão de um visto permanente depende do domínio dos idiomas locais.

As novas regras preveem um acréscimo de 40 milhões de francos no orçamento dos projetos de integração, passando estes a 110 milhões por ano até 2014.

“A Suíça pode e deve fazer mais para integrar os estrangeiros, mesmo se não vivemos atualmente grandes problemas de integração”, disse a ministro da Justiça, Simonetta Sommaruga, no momento do lançamento.

Adaptação: Alexander Thoele

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